A retenção de talento e as dificuldades a ela inerentes não são tema recente. Há algum tempo que se vem abordando a questão e se procuram caminhos que ajudem a trilhar o sucesso. A questão agravou-se com a recente crise económica e a saída de muitos (bons) profissionais para o estrangeiro.
Numa cidade virada para o fomento do investimento empresarial e com tão boas infraestruturas neste campo, como é o caso de Braga, é inevitável perceber as vicissitudes desta realidade. O painel "Captar, Atrair e Reter Talento", integrado na 4ª Semana da Economia trouxe a palco dois oradores com experiências distintas. João Ribeiro, CEO da PeekMed, empresa sediada na Startup Braga, presente em todo o mundo e que conta atualmente com 14 profissionais altamente qualificados; e Tomaz Morais, especialista na área da liderança e responsável pela única participação da seleção nacional de râguebi num Mundial, o de 2017.
Onde param as competências?
Quando se fala em competências, João Ribeiro acredita que "o problema está bastante a montante, ainda nas universidades", já que os alunos ao sair "trazem conhecimentos limitados". Junto do curso de Engenharia Biomédica da Universidade do Minho, o desafio tem sido "perceber como adaptar tudo à realidade e necessidades atuais", diz o mesmo responsável. "As universidades têm um papel determinante na criação de talento para que as empresas tenham a possibilidade de contratar esses profissionais", defende João Ribeiro.
No mesmo sentido, Tomaz Morais diz não acreditar em poções mágicas: "O nosso sistema educativo, neste momento, pode estar a inibir a liberdade do talento porque somos muito formatados e tentamos educar as pessoas mediante um modelo fechado." Desta forma, "os jovens maturam mais tarde".
Tomaz Morais considera que o talento é "algo que nasce de base" e para se revelar "temos de dar liberdade" a cada pessoa, "gerando oportunidades e criando expetativas". O mesmo responsável não deixou de lembrar que "grandes currículos nem sempre significam sentido de atitude".
João Ribeiro fala em dois perfis de profissionais: aquele que saiu da universidade e cujo objetivo é ganhar o máximo dinheiro no imediato; "e depois há os ex-alunos que procuram integrar uma equipa que tenha um propósito e que sintam que fazem parte dessas metas". O responsável da PeekMed considera determinante conjugar "hardskills com softskills, embora as últimas sejam mais importantes num profissional".
Já Tomaz Morais fala na necessidade de se criar uma "vontade efetiva de vestir a camisola e de a sentir, revelar a paixão por aquilo que se faz", como essencial para reter talento. Outra questão passa por "acreditar nesse talento" e isso "revela-se nas ações diárias que adotamos: temos de ser um exemplo, não é apenas em momentos de avaliação ou de pressão, mas sim nas mais pequenas ações que temos". Considera este responsável que "a liderança deve partilhar, comprometer e responsabilizar porque quando é inibidora, hierárquica e não funcional" acaba por encontrar apenas o erro".