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Reabilitação Urbana 2018
Notícia

Turismo: as duas faces da mesma moeda

Portugal está na moda e é inundado por turistas. Património histórico e população deveriam sair beneficiados desta circunstância, mas há muitos problemas por resolver.

23 de Janeiro de 2018 às 15:10
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O turismo não pára de crescer em Portugal. Esta realidade pode ajudar a reabilitação urbana e trazer benefícios. Não obstante, também acarreta alguns efeitos nocivos. Ana Velosa, directora da licenciatura em Reabilitação do Património e professora associada com agregação da Universidade de Aveiro, refere que o turismo pode ser uma forma "muito importante" de promoção da reabilitação urbana.

"A pressão turística tem gerado, em algumas cidades do país, acções de reabilitação urbana pouco cuidadas e com baixo respeito pelo património existente. Soluções rápidas e pouco sustentadas podem resultar a curto prazo, mas a médio ou longo prazo funcionarão contrariamente em termos de atracção turística, quer pela perda de originalidade dos edifícios quer pela degradação precoce que vão originar", antevê.

Para Jorge Gonçalves, professor do Departamento de Engenharia Civil, Arquitectura e Georrecursos do Instituto Superior Técnico, é evidente que o turismo tem "participado ou mesmo dinamizado" a reabilitação urbana em partes significativas do território nacional.

"Anunciam-se mesmo contributos decisivos para a renovação urbana, como poderá vir a suceder na Colina de Santana, em Lisboa", recorda, antes de projectar o futuro. "Agora o que se pretende é que os lugares beneficiados com estas transformações não morram de uma cura que esquece valores fundamentais como a promoção da cidade como espaço promotor da diversidade social e funcional", avisa.


Manter a identidade

A Comissão de Coordenação do Mestrado em Reabilitação Urbana do Instituto Politécnico de Tomar esclarece que uma cidade reabilitada e renovada será um destino "mais atractivo e competitivo". Porém, não se podem "desvirtuar" as cidades, pois o que diferencia Portugal é "uma cultura e um património riquíssimos". "Estes factores é que são atractivos para quem nos visita e deve-se ter em atenção uma reabilitação urbana que valorize o que mais nos caracteriza: pequeno comércio, bairros habitados por vizinhos que se conhecem, autenticidade das fachadas, calçada portuguesa, etc." Neste aspecto, o turismo tem ajudado na "reabilitação" de imóveis para hotéis e alojamento local e temporário ou na "revitalização" de algumas zonas de Lisboa e Porto.


O aumento do turismo poderia contribuir para uma reabilitação urbana com qualidade e empregos qualificados no sector. Mas face à excessiva procura, verifica-se que "o património arquitectónico e os espaços públicos não têm sido acautelados e que se tem vindo a perder a identidade e a cultura de bairros com o afastamento dos residentes, além de gerar empregos precários e de baixos salários", constata a Comissão.


Mais: os grandes grupos económicos, ao investirem na reabilitação, fazem intervenções que "destroem" o interior de edifícios perdendo-se património arquitectónico. Os pequenos investidores fazem "intervenções avulsas" e inseguras, sobretudo em caso de sismo. Entre a perda de património com interesse histórico estão os edifícios pombalinos, "porque não se faz a reabilitação, recorrendo às técnicas tradicionais que preservem as soluções construtivas originais, mas sim a reconstrução de todo o seu interior, recorrendo a estruturas de betão armado".

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