Quais são os grandes desafios actuais e as oportunidades para a economia circular em Portugal?
Desde logo ao nível financeiro pela necessidade de se proceder a alterações na estrutura de custos das empresas, a uma maior necessidade de se apostar em inovação e desenvolvimento e pela forma diferente de investir em activos, ao nível dos instrumentos económicos existentes que não se revelam adequados no incentivo à utilização eficiente de recursos e que reflictam os custos ambientais totais.
Por último, destacar a importância da governança dado a transição para a economia circular requerer ações a vários níveis e em diversas áreas de política e de estabelecimento de novas parcerias com a sociedade civil, as empresas e os centros de saber.
As principais oportunidades, para além dos já conhecidos "ganhos ambientais" inerentes, traduzem-se numa melhoria de eficiência por parte das empresas e na possibilidade destas virem a deter um maior controlo sobre o fornecimento de materiais, reduzindo o risco de escassez do produto e da incerteza do fornecimento do material. Outro aspecto é a valorização das marcas, dos produtos, dos serviços visto que a economia circular é um dos diferentes aspetos de criação de valor-acrescentado e de sofisticação da economia como potenciador de melhores salários e bem-estar colectivo.
Como é que em termos legislativos se tem aberto caminho para acelerar a economia circular? Quais são ainda os principais obstáculos a remover e medidas para incentivar a economia circular?
O ano de 2017 foi rico em termos legislativos com vista a abertura do caminho à economia circular. Destacam-se os seguintes como o SIFIDE em que Orçamento de Estado para 2017 previu que as despesas relacionadas com projetos de concepção ecológica de produtos passam a poder ser majoradas em 110% e a criação e operacionalização do Fundo Ambiental e do Fundo de Inovação, Tecnologia e Economia Circular (FITEC).
Foi aprovado e publicado o Plano de Acção para a Economia Circular (PAEC) 2017 - 2020 em que se encontram já identificados alguns obstáculos de natureza legislativa, sendo de destacar os respeitantes à desclassificação de resíduos, nas dimensões das taxas associadas e o respectivo processo de decisão, e outro relativo à reutilização das águas residuais. Não obstante já existirem alguns obstáculos referenciados o PAEC prevê um modelo de governança que procura de uma forma sistémica encontrar condições na legislação que possam ou que estejam a condicionar a transição para uma economia circular e procurar, por exemplo através dos acordos circulares, ultrapassá-los. Um factor crítico de sucesso com vista à transição para a economia circular vai ser garantir que a legislação, existente e aquela que vier a ser produzida, não impeça ou condicione a inovação nesta área.
As inovações empresariais na economia circular
"Neste desígnio de fechar do ciclo dos materiais e promover a eficiência energética, conceitos como ecodesign, reparação, reutilização, renovação, remanufatura, partilha de produtos, prevenção de resíduos e reciclagem são crescentemente valorizados e reconhecidos pelas empresas" referiu Nuno Lacasta, e deu como exemplo os prémios COTEC de 2016 dedicados à economia circular.
Nestes incluíam-se a Amorim Cork com a substituição de materiais não renováveis por cortiça, um material de origem biológica, não tóxico e com propriedades para múltiplas aplicações ou a intervenção implementada pela Quinta da Lixa no Monverde, um dos sete hotéis em Portugal detentores do Rótulo Ecológico Europeu. Tal como a Vilartex-Empresa de Malhas de Vilarinho que faz uso de algodão amigo do ambiente e produção de fio a partir de garrafas de plástico usadas.
Inclui-se ainda o lançamento de uma Catalogação on-line de Materiais de Construção antigos/ usados, provenientes de obras de demolição, com potencial de reutilização e feito pela Associação Portuguesa para a Reabilitação Urbana e Proteção do Património (APRUPP).
Nuno Lacasta cita ainda "novos negócios que começam a nascer em Portugal no âmbito da economia da partilha: Shareacar e Booking Drive (exemplo de plataformas de partilha de carro peer-to-peer, isto é, de pessoa para pessoa, que quer permitir a quem tem um carro parado em casa poder rentabilizá-lo, alugando-o a outras pessoas)".