José Pedro Almeida | Gestor do projecto Business Intelligence do Centro Hospitalar de São João, plataforma que na componente de inteligência clínica pode permitir poupanças anuais de 1,5 milhões de euros.
Uma quebra de tensão associada a frequência cardíaca acelerada é um dos sinais de alerta que os médicos e enfermeiros do São João no Porto hoje recebem mais rapidamente, sobre qualquer um dos mil doentes que em média estão internados na instituição.
O sistema de informação do hospital analisa permanentemente parâmetros fisiológicos e resultados laboratoriais dos doentes e detecta anomalias ao padrão. Essa informação é registada no processo do doente ou é comunicada de forma mais imediata aos profissionais de saúde se for caso disso. Pode chegar a uma enfermeira por SMS segundos depois de ter sido detectada pelo sistema, por exemplo.
A cada segundo são analisadas e correlacionadas com a informação clínica de cada paciente uma quantidade massiva de dados espalhados por dezenas de sistemas do Hospital, com o objectivo de identificar, categorizar e alertar precocemente para situações de risco que indiquem deterioração do estado clinico.
A informação ajuda a antecipar 30% das entradas nas Unidades de Cuidados Intensivos (UCI) do centro hospitalar e a prever 50% das mortes em internamento, até 7 dias antes destas ocorrerem. A nível financeiro pode permitir poupanças anuais até 1,5 milhões de euros, porque ajuda a diminuir os tempos de internamento nas UCI ou mesmo a evitar que aconteçam.
Um aliado de peso na prevenção de infecções hospitalares
A solução tecnológica chama-se VITAL (Vigilância, Monitorização e Alerta) e aplica o poder da plataforma de Business Intelligence (BI) que o CHSJ começou a implementar em 2012. Nesta aplicação específica a tecnologia ajuda a optimizar a gestão dos internamentos e das admissões nos cuidados intensivos.
Outras soluções assentes sobre a mesma infraestrutura apoiam a gestão clínica em domínios igualmente críticos, como o controlo de infecções. O sistema filtra resultados de colheitas e emite alertas que já permitiram o isolamento precoce de centenas de pacientes e fazer o controlo atempado das infecções, como explica José Almeida, gestor de projecto.
Antes de entrar no domínio da monitorização e segurança dos doentes internados, a plataforma, suportada na tecnologia de BI da Microsoft, foi direccionada ao apoio à gestão e ao negócio. O principal objectivo do investimento, financiado com fundos do QREN, era ligar informação dispersa por diferentes sistemas de informação e criar instrumentos que permitissem uma visão global da instituição e melhores decisões de gestão.
"Os sistemas dos hospitais não estão vocacionados para a análise mas apenas para o registo de informação", explica José Pedro Almeida. Dar esse passo era o grande desafio. No São João existiam 50 aplicações com diferentes bases de dados.
As mais relevantes para o funcionamento da instituição foram compiladas num repositório, abrindo caminho aos 10 sistemas integrados que hoje permitem saber de onde vêm os doentes, o que fazem no hospital, que medicamentos consomem, quem os atende e quanto custam à instituição.
O passo seguinte ainda está a ser dado e continuará a afinar o serviço prestado aos 1,5 milhões de doentes que todos os anos passam pela instituição, tirando partido da inteligência artificial aplicada à área clínica.
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Números
Uma mudança clara na capacidade de resposta do CHSJ nos últimos dois anos
90%
Das decisões de gestão no São João são hoje tomadas com base em números. Antes da entrada em funcionamento do sistema só 30% tinham esta base.
400
Número de indicadores que são hoje monitorizados a cada segundo. Há dois anos eram analisados 50.
30
Segundos. Tempo necessário para obter resposta a uma pergunta de complexidade média. A mesma pergunta já exigia um tempo de resposta de 2 a 3 dias.