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Desafios e oportunidades da saúde em Portugal

O sexto Fórum Ordens Profissionais, da Ageas Seguros, desta vez em parceria com a Ordem dos Médicos, juntou várias personalidades do setor público e privado para debater os desafios e as oportunidades da saúde em Portugal.

11 de Dezembro de 2023 às 12:19
Adalberto Campos Fernandes, Carlos Cortes, Gustavo Barreto e Maria de Belém Roseira, na primeira mesa-redonda que teve como tema “Os desafios da Saúde em Portugal”
Adalberto Campos Fernandes, Carlos Cortes, Gustavo Barreto e Maria de Belém Roseira, na primeira mesa-redonda que teve como tema “Os desafios da Saúde em Portugal”
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Já passaram mais de quarenta anos desde que o Sistema Nacional de Saúde (SNS) foi criado e muito mudou na saúde nacional. Há mais hospitais, mais profissionais de saúde e os portugueses vivem mais tempo. Nas últimas duas décadas, assistimos também ao surgimento de um sistema de saúde privado, que procura ser uma alternativa ou um complemento ao SNS.

Estas conquistas criaram desafios adicionais de sustentabilidade do sistema e oportunidade na Saúde. Foi sob este tema que decorreu a sexta edição do Fórum Ordens Profissionais, da Ageas Seguros, que reuniu um conjunto de figuras relevantes do setor público e privado da saúde. Esta conversa contou com duas mesas-redondas e moderação do jornalista Camilo Lourenço.


Os desafios do SNS

A primeira mesa-redonda teve como tema "Os desafios da Saúde em Portugal" e contou com a presença de Adalberto Campos Fernandes, ex-ministro da Saúde, político, médico e especialista em saúde pública, Carlos Cortes, Bastonário da Ordem dos Médicos, Gustavo Barreto, membro da Comissão Executiva do Grupo Ageas Portugal, e Maria de Belém Roseira, ex-ministra da Saúde.

 

Numa altura em que existe uma pressão sem paralelo sobre o setor da saúde, Maria de Belém Roseira defende que é "responsabilidade de todos garantirmos que o SNS continua". Segundo a ex-ministra da Saúde, "estamos com uma transição demográfica muito pesada, porque as pessoas que estão a envelhecer são aquelas que tiveram um enquadramento social e económico mais difícil do que as gerações mais novas", o que se traduz numa pressão adicional sobre o SNS.

 

Para garantir que a resposta aos desafios é adequada, é importante cuidar das pessoas que trabalham no setor público da saúde, como os médicos, enfermeiros e técnicos. "A questão dos recursos humanos não foi suficientemente acautelada", diz Maria de Belém Roseira.

 

A ex-ministra da Saúde abordou ainda a importância de saber como é que o dinheiro está a ser gasto. "O SNS é financiado com o sacrifício de todos. Tem de haver respeito", acrescentando que, por exemplo, a abordagem durante a pandemia ainda não foi avaliada. "Fala-se do excesso de mortalidade, da falta de atendimento noutras patologias, o que determinou que se tivessem agravado e, consequentemente, consumido mais recursos", concluiu.

"Os pacientes habituaram-se a escolher as urgências, quando, em rigor, muitas questões podem ser resolvidas através de uma visita a um médico de cuidados primários, de um avaliador de sintomas ou de um contacto telefónico." Gustavo Barreto, membro da Comissão Executiva do Grupo Ageas Portugal


Um país envelhecido e sem respostas adequadas

Quatro décadas depois da criação do SNS, muito mudou na saúde dos portugueses. Há mais hospitais, mais médicos e profissionais de saúde, menos mortalidade infantil e maior esperança de vida à nascença. Há também outros desafios. "Muitas pessoas que hoje têm 80 e 90 anos, há 40 anos, não tinham esta esperança de vida", afirma Carlos Cortes, Bastonário da Ordem dos Médicos. Isto tem um custo, prossegue o responsável. "Apesar de o investimento ser cada vez maior, não é suficiente para compensar os atrasos que tivemos em termos de financiamento e as novas necessidades em saúde que o país tem."

 

O envelhecimento da população está a ter um impacto enorme sobre os cuidados de saúde. A partir dos 65 anos, as pessoas começam a desenvolver problemas de saúde e muitos veem nos serviços de urgência a única resposta disponível. "O sistema está organizado de forma que sejam atendidos, em primeiro lugar, num serviço de urgência, quando devíamos ter uma ligação local do SNS aos lares e aos domicílios para que possam ter apoio médico de profissionais de saúde", acrescenta o Bastonário.

"O SNS é financiado com o sacrifício de todos. Tem de haver respeito." Maria de Belém Roseira, ex-ministra da Saúde


Urgências pelas costuras

Portugal é um dos países com mais episódios de urgências. Com pouco mais de 10 milhões de habitantes, existem mais de seis milhões de episódios de urgência por ano, segundo dados avançados por Carlos Cortes. Deste número, cerca de metade são doentes que, à partida, não deviam ser atendidos no serviço de urgência. "Isto cria uma pressão muito grande, os hospitais têm de deslocar os seus profissionais para as urgências e estes deixam de estar nos blocos operatórios, nos serviços de internamento e a dar consultas", continua o responsável. Entramos num círculo vicioso: se as pessoas não são tratadas de forma rotineira, o seu estado de saúde agrava-se e a despesa com a saúde aumenta.

 

Como é que chegámos aqui? Adalberto Campos Fernandes aponta o dedo às reformas impulsivas: "O encerramento compulsivo e arbitrário de serviços de proximidade canalizou a população para a procura de cuidados no ponto mais próximo: o hospital." Segundo o ex-ministro da Saúde, os centros de saúde não cumpriram as suas principais atribuições: prontidão e acessibilidade (um pai que sai do trabalho às 19h com uma criança doente, tem de ter o centro de saúde aberto), resolutividade (capacidade para realizar exames para evitar enviar pacientes para o hospital para uma radiografia, por exemplo) e dar uma equipa de saúde de família a todos os portugueses.

 

"Nesse tempo foi criada a figura de prestações de serviços por empresas, aduzindo a ideia que era uma forma moderna e competitiva de gerir recursos humanos. Foi o pior que fizemos, porque os médicos passaram a ter de compor o rendimento que faziam no hospital público com umas horas nas empresas", remata.

 

Hoje, 1,7 milhões de portugueses não têm médico de família e não é por falta de profissionais. "Há mais médicos a formarem-se, mas estes não querem esta via. Preferem trabalhar em grupos privados ou sociais e gerir a sua vida, do que estarem na linha da frente", conclui o médico.

"Apesar de o investimento ser cada vez maior, não é suficiente para compensar os atrasos que tivemos em termos de financiamento e as novas necessidades em saúde que o país tem."  Carlos Cortes, Bastonário da Ordem dos Médicos


Público e privado as mesmas dores

Os seguros de saúde privados cresceram 20% nos últimos 10 anos. Hoje em dia, mais de três milhões de pessoas têm seguros de saúde em Portugal, o que representa 1,1 mil milhões de euros de prémios pagos em 2022. No entanto, Gustavo Barreto, membro da Comissão Executiva do Grupo Ageas Portugal, enfatiza a importância de um SNS forte, pois existe um conjunto de pessoas que pretendem ter um seguro complementar ou suplementar ao serviço público.

 

Ainda assim, o responsável admite que o setor privado sente as mesmas dores do sistema público. "Os pacientes habituaram-se a escolher as urgências, quando, em rigor, muitas questões podem ser resolvidas através de uma visita a um médico de cuidados primários, de um avaliador de sintomas ou de um contacto telefónico." Neste sentido, Gustavo Barreto aponta a importância de se desenvolver um esforço para aumentar a literacia em saúde dos portugueses para que todo o sistema de saúde seja mais eficiente.

"Foi criada a figura de prestações de serviços por empresas, aduzindo a ideia que era uma forma moderna e competitiva de gerir recursos humanos. Foi o pior que fizemos, porque os médicos passaram a ter de compor o rendimento que faziam no hospital público com umas horas nas empresas." Adalberto Campos Fernandes, ex-ministro da Saúde

Fuga de médicos do SNS

Um dos principais problemas do SNS é a incapacidade de reter os seus médicos. "Isto não é só um problema de salário, mas sim de condições de trabalho, de formação ou de investigação", afirma Carlos Cortes. "Estamos num período de negociação salarial, mas o primeiro aspeto referido não é a questão salarial, mas sim terem condições adequadas para tratarem dos seus doentes."

Segundo o bastonário, estamos numa fase em que muitos médicos preferem não ocupar uma vaga em que se vão tornar especialistas e serem prestadores de serviços. "É preciso dignificar o papel dos profissionais de saúde dentro do SNS e dar-lhes condições para se afirmarem como profissionais", concluiu.

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