A 3.ª edição do estudo "Conhecer os desafios ajuda a encontrar o caminho?", elaborado pela EY, revela que este ano os temas ESG (Environmental, Social and Governance) vão integrar definitivamente o core da estratégia, cultura e propósito das empresas que pretendam liderar os seus setores de atividade. Segundo este relatório da EY de 2022, publicado no fim de fevereiro, o posicionamento perante o ESG deverá ser estrutural e os objetivos cada vez mais ambiciosos, tornando-se uma base de diferenciação no mercado. Não há mais espaço para abordagens incrementais em relação a esta temática.
Este imperativo decorre da aplicação de práticas degenerativas ao longo de várias gerações que fizeram soar recentemente alarmes em diferentes contextos. É o caso, realça o estudo, das situações de condições climáticas extremas que mudaram a vida de milhões de pessoas nos últimos dois anos, tendo sido apontadas as inundações, as tempestades em Espanha, Alemanha e na China e incêndios no Sul da Europa. Assim como o Overshoot Day, data em que a humanidade consome todos os recursos naturais que o planeta pode renovar durante um ano e que ocorreu a 29 de julho em 2021, registando-se uma regressão para valores semelhantes ao período pré-covid.
No documento lê-se que, de facto, a discussão não pode ser sobre se os objetivos e as ações planeadas para reduzir para cerca de metade as emissões de carbono em 2030 e eliminar as emissões de carbono para 2050 (ou antes) são realistas ou não. Falhar não é mais uma opção.
A análise da EY explica que as organizações que não estiverem alinhadas com estes princípios e respetiva urgência estarão a compactuar, perante todos, com um processo de destruição global (e organizacional). Investidores, consumidores, organizações não governamentais, reguladores, e muitas organizações, entre outros, sabem disto.
Os stakeholders e a tomada de decisão
O estudo aponta também que os stakeholders vão ter uma crescente importância na tomada de decisão. Aponta os desafios da descarbonização. E aborda os temas do "greenwashing" e a taxonomia. Por partes.
Em relação à importância que os stakeholders vão ter na tomada de decisão, lê-se no relatório que o valor financeiro deixa de ser o objetivo central da empresa, passando a ser o resultado de uma abordagem focada na criação de valor a longo prazo.
Segundo a EY, a sociedade exige uma responsabilidade cada vez maior das instituições na demonstração dos seus contributos para a melhoria da qualidade de vida dos cidadãos. As organizações estão a ser pressionadas para alterar a mentalidade de criação de valor focada no acionista para passar a ter em conta uma diversidade de stakeholders.
Uma das respostas a este desafio centra-se na criação de estratégias de negócio orientadas para o propósito. Assim, torna-se essencial demonstrar que a abordagem da organização para gerar valor vai para além da distribuição de dividendos, reforçando que a mesma está ancorada na criação de valor a longo prazo. Esta alteração deve demonstrar a existência de benefícios para um grupo mais abrangente de stakeholders, desde os colaboradores aos fornecedores, clientes, investidores ou à sociedade em geral.
Os desafios da descarbonização
No que toca aos desafios para a descarbonização, o estudo da EY indica que, enquanto instrumentos de mitigação da escassez de recursos naturais e de combate às alterações climáticas, as estratégias de descarbonização e transição energética implementadas ao nível empresarial são cada vez mais uma vantagem competitiva na forma como as empresas operam e se posicionam no mercado.
O relatório indica que são vários os desafios que levam hoje as empresas a integrar nas suas estratégias de negócio e de operação a preocupação pela neutralidade carbónica. A análise da EY destaca desafios como os regulatórios, económicos e financeiros, tecnológicos e de conhecimento, ou reputacionais. Identifica ainda um conjunto alargado de instrumentos financeiros públicos nacionais e europeus que atualmente podem ser mobilizados para a promoção da descarbonização ao nível empresarial. Dos apoios ao investimento já disponíveis a nível nacional, destacam-se os avisos abertos no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) para a componente da descarbonização do setor industrial. Acrescem outras formas de financiamento para empresas que queiram investir na descarbonização, nomeadamente o "crowdfunding", as "green bonds" e outros instrumentos financeiros direcionados para o financiamento de capital e dívida.
O "greenwashing" e a taxonomia
Em análise ao efeito "greenwashing" – a injustificada apropriação de virtudes ambientalistas –, a EY considera que o uso excessivo de termos como "sustentável", "eco" e "de origem natural", sem qualquer explicação ou evidência, o recurso a marcas "eco" próprias e rótulos que não estão associados a organizações credenciadas, ou a omissão de informação, são só algumas das táticas usadas que contribuem para a desinformação, induzindo os consumidores em erro.
Já a taxonomia promove a criação de uma linguagem comum entre investidores e empresas, um dialeto único que possibilita uma comunicação mais credível, conferindo uma maior certeza e comparabilidade, no momento da tomada de decisão dos investimentos.
Para os especialistas da EY, a taxonomia, enquanto instrumento de transparência e de base científica, configura um facilitador da transição necessária e disponibiliza a empresas e investidores um conjunto de critérios de classificação de objetivos, que permitem identificar as atividades económicas consideradas sustentáveis, e que contribuem para dar resposta aos desafios climáticos e sociais (em linha com os objetivos do Pacto Ecológico Europeu).