O apuramento e o reconhecimento das empresas gazela assumem uma importância estratégica para conhecer as empresas regionais que mais crescem, nomeadamente as suas forças e desafios. Esse conhecimento é de grande utilidade, uma vez que permite desenhar melhor as políticas públicas e os instrumentos financeiros colocados ao serviço dessas políticas. Ana Abrunhosa, presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro (CCDRC), fala da importância de novas empresas para o tecido económico da Região e da necessidade de dar visibilidade a empresas nos seus primeiros anos de vida, quando é difícil atingir e manter o sucesso.
Qual a importância dos prémios Gazela para a Região Centro?
Estas empresas revelam a enorme capacidade empreendedora que existe na região e que se reflete na criação de emprego e de riqueza. Os prémios Gazela atribuídos pela CCDR Centro fazem parte da nossa estratégia de reconhecimento público do mérito dos atores da região, neste caso dos empresários e trabalhadores destas empresas, a par de outras iniciativas e produtos que realizamos, como sejam, por exemplo, o Concurso Regional de Ideias de Negócio nas Escolas, as Boas Práticas de Envelhecimento Ativo e Saudável, o Barómetro Centro de Portugal, o Centro de Portugal - Boletim Trimestral ou o Inquérito de Satisfação dos Residentes.
Como se mede o sucesso de uma iniciativa como os Prémios Gazela?
O apuramento das empresas gazela (realizado pelo sétimo ano consecutivo) e a realização das várias edições da Gala Prémios Gazela têm contribuído para divulgar o conceito, sedimentar a iniciativa e ganhar visibilidade junto das empresas e da opinião pública. Em média, cerca de 82% das empresas gazela autorizam a divulgação da sua empresa e participam na gala, o que revela a importância da iniciativa para as próprias empresas. A participação das empresas na gala tem vindo a aumentar significativamente: 31 empresas, em 2014; 40 empresas, em 2015; 51 empresas em 2016 e 57 empresas em 2017. A representação das empresas nas galas, que é assegurada pelos empresários e outros quadros das empresas, tem crescido também significativamente, de 69 pessoas em 2014 para 123 pessoas em 2017. A visibilidade da iniciativa e das empresas distinguidas pode ainda ser medida através das notícias publicadas nos órgãos de comunicação social de âmbito nacional, regional e local. As notícias geradas triplicaram entre a primeira e a última Gala.
O Galardão e a Gala das Empresas Gazela foram distinguidos com o 1.º Prémio Nacional dos Prémios Europeus de Promoção Empresarial 2018, na categoria de "Desenvolvimento do Ambiente Empresarial". O que representa para a CCDR Centro este reconhecimento?
O reconhecimento pelos EEPA 2018, na categoria de Desenvolvimento do Ambiente Empresarial, atesta os aspetos originais e inovadores da iniciativa, bem como o seu impacto na auto-estima e motivação das empresas. A CCDR Centro tem esta iniciativa muito antes do Instituto Nacional de Estatística contabilizar as empresas gazela e da atribuição desta categoria por outras entidades públicas (IAPMEI). Os prémios Gazela da Região Centro são uma forma de dar visibilidade a empresas nos seus primeiros anos de vida, quando é difícil atingir e manter o sucesso, e por estas empresas terem um significativo impacto na economia local. Por exemplo, as gazelas apuradas este ano (2018) triplicaram a quantidade de pessoas ao seu serviço, entre 2014 e 2017, tendo passado de 967 trabalhadores para 3.063 pessoas ao serviço.
O reconhecimento e a valorização desta iniciativa existem junto do poder local e central? Como se manifesta?
Um outro aspeto importante que queremos destacar no sucesso da iniciativa foi o estabelecimento de parcerias e a melhoria nas relações entre os intervenientes locais, particularmente entre as autarquias e as empresas. A realização da Gala no município onde se localizam, em cada ano, o maior número de empresas gazela reforça as parcerias existentes com as autarquias e aproxima as autarquias das suas empresas. Para além de que, no momento da entrega do galardão, os representantes da autarquia estão sempre presentes. Temos tido em todas as galas membros do Governo. No decurso da gala, procuramos que as intervenções efetuadas pelos membros do Governo e pelos convidados abordem temas relevantes para a atividade empresarial, designadamente as questões relacionadas com a importância das parcerias com os centros de conhecimento, a importância de protegerem a sua inovação e os incentivos ao investimento das empresas, entre outros assuntos. É também nossa preocupação que na gala exista um momento que dê visibilidade à produção cultural e criativa local.
Uma das metas dos prémios Gazela é mostrar o dinamismo económico na região, inspirando os municípios, empreendedores, empresários e gestores. Entende que esse objetivo foi alcançado?
O objetivo está a ser alcançado e resulta de um trabalho diário de confiança, de estabilidade nas relações de trabalho, de envolvimento dos parceiros e das sinergias resultantes das redes já implementados no território. Trabalhamos em cada período de programação de fundos comunitários uma visão para uma região mais dinâmica e mais coesa, envolvendo sempre as empresas, bem como as entidades que ajudam a tornar a envolvente empresarial mais facilitadora do investimento inovador, como as entidades do ensino superior, as entidades de interface, os centros tecnológicos, as associações empresariais, entre outros.
A região tem muitos empreendedores inspiradores, cujo exemplo temos que multiplicar pelo território. Um indicador revelador deste dinamismo empresarial é o facto de a Região Centro ser das que mais fundos absorve nos incentivos do Portugal 2020 (Compete 2020 e Centro 2020) às empresas.
O apuramento deste ano contou com o maior número de empresas gazela. A que se deve este crescimento?
Pensamos que o crescimento traduz uma melhoria do ambiente empresarial, visível não só no número de empresas gazela apuradas, como também na heterogeneidade e representatividade das atividades económicas mais representadas, desde as mais tradicionais às atividades com forte incorporação de tecnologia. Não podemos esquecer a conjuntura mais favorável dos últimos anos que propiciou um maior crescimento empresarial nem do elevado crescimento dos incentivos às empresas no âmbito do Portugal 2020.
A CCDR Centro está a fazer uma aposta em projetos estruturantes no terreno, como o da valorização das fileiras do queijo, do vinho e da floresta. É uma aposta com resultados visíveis no aparecimento de empresas gazela nestes setores de atividade?
A aplicação das políticas públicas, nos últimos anos, tem continuado a privilegiar a valorização dos recursos endógenos e da identidade da região, não só na valorização das fileiras do queijo, do vinho e da floresta, mas também do património natural e cultural. Simultaneamente, a região tem apostado em outras áreas de especialização inteligente e em setores inovadores. A diversidade setorial das empresas gazela apuradas e o reforço da representatividade na agricultura, caça, floresta e pesca, com 4,2% do total das empresas gazela, poderá ser favorecido pelos apoios dados a estes setores.
Qual a importância dos fundos comunitários para o aparecimento de novas empresas Gazela na região?
Os fundos comunitários do Portugal 2020 têm tido uma procura extraordinária, o que reflete a dinâmica empresarial da região e do país. Esta dinâmica empresarial é a responsável pelo crescimento que o país tem registado e pela baixa taxa de desemprego. O objetivo dos fundos europeus é apoiar o investimento inovador, ajudar as empresas a adquirirem novos fatores de competitividade e a tornarem-se mais competitivas num mundo global.
As empresas gazela diferenciam-se das restantes empresas pelo seu rápido crescimento, mas também pela sua capacidade comercial e pelo baixo risco na sua gestão, evidenciando na maioria dos casos investimento com recursos próprios. Todavia, cerca de 40% das empresas gazela apresentaram candidaturas aos sistemas de incentivos às empresas do Portugal 2020, para o reforço da sua competitividade e para o desenvolvimento e aplicação de novos modelos empresariais, novos produtos e novos serviços.
Na edição deste ano verifica-se que quase metade das empresas Gazela (47%) exporta. Que sinal transmite este dado aos empresários?
Aos empresários que vendem exclusivamente para o mercado interno e aos que já exportam, gostaríamos que aproveitassem os apoios existentes para o reforço da sua capacidade de internacionalização e para o crescimento das exportações da região. Desejamos que estas empresas contribuam para que na Região Centro as exportações de bens continuem a crescer a um bom ritmo e a superar as importações de bens.
Para isso têm que ser competitivos, o que depende de serem inovadoras nos processos de produção, nos produtos/serviços que colocam no mercado, nas formas de abordagem ao mercado, nas parcerias que estabelecem… Os incentivos que o Portugal 2020 tem à disposição das empresas vão ao encontro destas necessidades.
O emprego criado por estas empresas é maioritariamente qualificado?
Não dispomos de elementos que permitam decompor a criação do emprego das empresas gazela, em termos de qualificação. No entanto, podemos afirmar que a Região Centro dispõe das condições próprias para a sua formação e fixação de quadros altamente qualificados, atendendo ao seu dinamismo empresarial,
Existe alguma relação tangível do aparecimento de novas empresas com as universidades e politécnicos existentes na Região?
Um sistema regional de inovação dinâmico, onde têm especial destaque os estabelecimentos de ensino superior, é fundamental para o aparecimento de novas empresas. Estas entidades estão cada vez mais conscientes da responsabilidade que têm na promoção dos territórios onde se inserem. Os investimentos realizados pelas universidades e pelos politécnicos, designadamente nas áreas da criação de novas empresas (startup e spin off), nos apoios às empresas nos primeiros anos de vida, em termos infraestruturais e na facilitação no acesso ao sistema científico e tecnológico tem, sem dúvida, favorecido a criação e o crescimento das empresas gazela.
De uma forma genérica, as entidades do sistema científico e tecnológico da região (onde se incluem os estabelecimentos ensino superior, os centros tecnológicos, os centros de valorização e transferência de tecnologia, os parques de ciência e tecnologia, centros de incubação de base tecnológica) têm tido um papel fulcral na criação de uma envolvente empresarial propícia à inovação, ao investimento e à internacionalização das empresas da região.