A Câmara de Comércio Luso-Italiana (CCLI) é uma instituição que tem como missão contribuir para o desenvolvimento das relações comerciais, de investimento e cooperação entre Itália e Portugal, ampliando as oportunidades de negócio para a rede dos associados.
Santi Cianci, presidente da Câmara de Comércio Luso-Italiana, em entrevista, aborda os desafios e os objetivos que se colocam a esta instituição que está ao serviço das empresas desde 1916.
Quantos associados estão inscritos na associação?
Temos atualmente cerca de 250 empresas portuguesas e italianas inscritas e que usufruem de um networking privilegiado, em que criamos mecanismos de estímulo à realização de negócios entre elas.
Tem um mandato na presidência da CCLI para o triénio 2021-2023. Que desafios tem pela frente?
Embora a CCLI seja uma instituição sem fins lucrativos, são os serviços que prestamos, os eventos e os projetos que implementamos que nos mantêm no mercado. Portanto, por esta ótica, os nossos desafios são similares aos das demais empresas que tiveram de se reinventar diante dos desafios impostos pela pandemia: criar serviços e projetos com alto valor agregado e ser competentes na divulgação e comercialização destes, cumprindo a nossa missão de aproximar os dois mercados: Itália e Portugal.
Que objetivos traçou para a Câmara de Comércio neste triénio?
Os nossos objetivos para este período passam por caminhar na direção de uma maior presença digital da CCLI sem perder o valor das conexões diretas com os nossos clientes e incrementar as atividades no Norte de Portugal através da delegação que já existe na cidade do Porto. Outro aspeto importante no qual estamos a trabalhar para melhorar é na ampliação da nossa atuação em setores voltados à inovação: novas tecnologias aplicadas à indústria, tecnologias digitais para otimizar processos empresariais e tecnologias aplicáveis à saúde e à conservação do meio ambiente, conectando grandes empresas às start-ups.
Em 2010, Itália era o 8.º mercado das exportações portuguesas de bens. Em 2019, subiu para a 6.ª posição como mercado de destino das exportações nacionais. A que se deve este crescimento?
O crescimento deve-se a uma maior proximidade entre os dois países, pois é o intercâmbio comercial que, no seu geral, entre 2010 e 2019 fez registar um aumento considerável (+44%). A uma proximidade e afinidade cultural, que já existia, juntou-se uma maior proximidade "física", devido ao grande aumento de ligações aéreas disponíveis entre os dois países. Como Câmara de Comércio, estando muitas vezes a par das dinâmicas de "decision making" dos empresários nossos associados, sabemos que este fator, na prática, tem uma discreta influência, além dos fatores mais óbvios e ligados às dinâmicas de mercado.
Efetivamente, o desempenho português contribuiu notavelmente para o aumento do intercâmbio comercial nos últimos anos, tendo as exportações portuguesas para Itália crescido mediamente em 14,2% no período 2015-2019. Enquanto as importações de Itália, no mesmo período, cresceram mediamente em 6%. Como consequência, em 2018, depois de muitos anos em que Itália representava o 8.º país cliente de Portugal, passou a ocupar a 6.ª posição.
Quais os setores de atividade que mais contribuíram para este crescimento?
Os principais setores por este crescimento das vendas de bens de Portugal para Itália foram principalmente o automóvel e a indústria alimentar.
Estas rubricas da nomenclatura, juntamente com as "máquinas e aparelhos" e "têxtil e vestuário", representam atualmente mais de 50% das exportações portuguesas de bens para Itália. Contudo, os veículos e os produtos da indústria alimentar fizeram registar as maiores variações homólogas: +335% para os veículos e +206% para os produtos da indústria alimentar entre 2010 e 2019.
A explicar a grande variação relativa aos veículos está, principalmente, a exportação de alguns dos novos modelos da Volkswagen produzidos na Autoeuropa de Palmela.
E no sentido contrário? Que papel ocupa Portugal no mercado das exportações italianas e como evoluiu essa relação comercial na última década?
A balança comercial entre os dois países tem sido por vários anos favorável a Itália. Em 2020, Itália atingiu o 5.º lugar dentre os principais fornecedores de Portugal.
Que impacto teve a pandemia nas relações comerciais entre os dois países?
Houve um impacto significativo nas relações comerciais: retração de 12,1% no valor total das exportações de Portugal para Itália e de 13,7% das exportações de Itália para Portugal. Em termos de total de transações comerciais, interrompemos um trend positivo que no período pré-pandemia, nos últimos 10 anos (de 2010 a 2019), registou um crescimento de 44,3%. Neste mesmo período, as exportações portuguesas em termos de valor quase que duplicaram, passando de 1,37 biliões de euros para 2,68 biliões de euros.
Com o início da normalização da atividade económica, como se encontra a recuperação do investimento e das exportações entre Portugal e Itália? Está a aumentar ao mesmo ritmo nos dois sentidos?
Em termos de investimentos, só conseguiremos ter a leitura da evolução no final do ano pois este trata-se de um fluxo mais lento. No que diz respeito às transações comerciais, apesar do prolongar-se da pandemia, no primeiro semestre de 2021 os números demonstram que há uma retoma. O total de exportações acumuladas nos primeiros quatro meses de 2021 já sinaliza que muito provavelmente o ano encerrará com números similares aos de 2019, e, em algumas categorias de produtos, por exemplo, as exportações portuguesas no segmento de transportes atingirão valores até superiores aos registados em 2019.
Que projetos diferenciadores está a promover a CCLI para aumentar a sua capacidade de inovação e aumento na cadeia de valor?
Percebemos o valor do networking entre os nossos associados e, por este motivo, criámos um veículo de comunicação denominado Vitrine dos Sócios, através do qual divulgamos produtos e serviços dos nossos associados, alavancando os negócios entre as empresas. Além disso, mediante uma intensa e profícua colaboração com a Embaixada de Itália em Lisboa, realizámos nos últimos meses diversos webinars informativos com temáticas de interesse para as empresas portuguesas e italianas. Estes webinars possuem sempre uma vertente voltada à geração de negócios. Um bom exemplo foi o que realizámos em março, no qual apresentámos cinco empresas italianas que se destacam pela produção de tecnologias inovadoras no combate à covid-19.
Que novos mercados estão a dinamizar a atividade da CCLI?
Estamos muito atentos aos objetivos propostos pela Comissão Europeia e que nortearam a elaboração do Plano de Resiliência e Recuperação de Portugal, priorizando alguns setores estratégicos, nomeadamente a transformação digital, a reindustrialização e as tecnologias voltadas para o meio ambiente e para energias renováveis. Neste sentido, criámos dois projetos específicos, Tech Challenges e Horizon Europe 2021, que irão mobilizar empresas destes segmentos.
Qual é a importância do programa Horizonte 2021 para a evolução da competitividade da economia europeia?
O programa Horizonte Europeu é de extrema importância pois tem por objetivo acelerar a transição verde e digital, contribuir para uma recuperação sustentável da pandemia e para a resiliência da União Europeia contra crises futuras. O total a ser investido nos projetos aprovados é de 14,7 biliões de euros no período entre 2021-2022.
A CCLI está a preparar um evento no próximo dia 7 de julho sobre as novas diretivas do programa Horizonte Europa. No que vai consistir o evento?
O nosso objetivo é aumentar a participação das empresas, instituições de pesquisa e de ensino portuguesas e italianas nos consórcios que são criados para implementação dos projetos financiados com estes recursos europeus. O conteúdo do evento foi criado a partir do feedback que tivemos das empresas e instituições parceiras e associadas da CCLI que, respondendo a um breve questionário, identificaram quais são os setores de interesse e que gostariam que fossem abordados no webinar.
Contaremos com a apresentação da empresa italiana Enco Consulting, que através da sua sede em Bruxelas participa atualmente de 19 projetos financiados pela Comissão Europeia, três dos quais como líder de projeto. Será um evento muito esclarecedor. As inscrições ainda estão abertas.
Quem pode assistir ao evento?
Independentemente do setor de atuação e da sua dimensão, todas as empresas podem participar. A inscrição é gratuita e feita através site http://www.ccitalia.pt/horizon21.
Outra ação de promoção empresarial, neste caso direcionada para as start-ups, que a CCLI vai desenvolver é o Tech Challenges. No que consiste esta iniciativa?
Com base no conceito de Open Innovation, Tech Challenges é um projeto inovador da Câmara de Comércio Luso-Italiana. Com este projeto, estabelecemos uma ponte de conexão entre a realidade de uma grande empresa à procura de soluções inovadoras com start-ups italianas e portuguesas.
Nesta primeira edição, a Seda Ibérica, filial da multinacional italiana Seda International Packaging Group, gigante no setor da embalagem, apresentará no dia 21/07, através de um webinar, os desafios tecnológicos que tem pela frente a um público de start-ups italianas e portuguesas. Na segunda fase do projeto, as start-ups poderão apresentar as suas propostas à empresa em encontros individuais que ocorrerão online nos dias 3 e 4 de agosto.
Quem pode participar neste desafio?
Empresas que produzem soluções tecnológicas para a indústria, quer sejam start-ups ou não. As inscrições já estão abertas e podem ser feitas gratuitamente através do site http://www.ccitalia.pt/techchallenges.
Horizon Europe 2021
07/07/2021 – das 09:30 às 10:30
Link para registo: http://www.ccitalia.pt/horizon21
Tech Challenges – Seda Iberica
21/07/2021 – das 16:30 às 17:30
Link para registo: http://www.ccitalia.pt/techchallenges.