Na edição do Fórum Bizfeira 2023, evento promovido pela autarquia feirense e que decorreu no passado dia 9 de novembro, marcaram presença cerca de 1.000 participantes. Inserido no âmbito das atividades do Plano de Desenvolvimento Económico e Empresarial da Câmara Municipal de Santa Maria da Feira, este fórum já vai na sua 8ª edição, assumindo-se crescentemente como um espaço de análise e reflexão de temas relevantes para as empresas e para a economia nacional, extravasando o contexto local em que foi criado.
Tendo como tema central "Empresas procuram pessoas", visou criar um espaço de discussão sobre a situação atual que as empresas enfrentam – a falta de pessoas especializadas e ajustadas ao que são as suas necessidades específicas.
A dinâmica demográfica, o desencontro entre o que são as necessidades das empresas e a disponibilidade de competências existente no mercado, os baixos salários, as expetativas dos jovens face ao mercado de trabalho e à conciliação com a vida pessoal, os aumentos do custo da habitação, entre outros, ajudam a explicar a dificuldade em atrair e reter pessoas nas empresas. Acresce que esta situação tem permitido a manutenção (e o crescimento) da emigração entre os mais jovens e qualificados o que, a prazo, se repercutirá fortemente no potencial de inovação e de desenvolvimento das empresas portuguesas, desperdiçando assim o forte investimento realizado em termos de qualificações e capacidade científica e tecnológica do país.
Também as dimensões da transformação digital, robotização e a crescente adoção da inteligência artificial se têm tornado cada vez mais importantes para as empresas, impulsionando a inovação, a eficiência e a competitividade nos negócios, embora levantem desafios acrescidos. Se, por um lado, podem ajudar a lidar com a falta de recursos humanos existente, por outro, podem ter impactos de outra natureza, tornando obsoletas algumas tarefas, mas exigindo uma adaptação por parte dos trabalhadores e a mobilização de outras tipologias de competências e profissionais. Acrescente-se que a solução de acolhimento dos tão necessários imigrantes traz consigo outro conjunto de desafios que importa analisar.
Painel de especialistas
Para abordar estas questões, foi convidado um conjunto de especialistas. No primeiro painel, "Empresas procuram pessoas", estiveram presentes João Cerejeira, professor da Universidade do Minho, Rafael Campos Ferreira, vice-presidente da CIP, Isabel Cipriano, presidente da APOTEC, e David Ferreira, diretor da Randstad, tendo como moderador Camilo Lourenço.
Antes do debate, David Ferreira apresentou dados caracterizadores do mercado de trabalho e as dificuldades com que as empresas se deparam na captação de talentos. Abordou ainda as expetativas que têm os mais jovens. Os efeitos decorrentes da baixa natalidade, da emigração e imigração e, num contexto de ligeira diminuição da população ativa, o aumento da população empregada resultam num cenário de pleno emprego a nível nacional, sendo ainda mais notório no concelho de Santa Maria da Feira. Alertou também que, frequentemente, as empresas procuram talentos fora das organizações, mas, porventura, ele já existe dentro destas. Este cenário releva a importância de as empresas apostarem e oferecem aos seus colaboradores formação para otimizar o seu desempenho (upskilling) ou reajustá-los num novo posto de trabalho (reskilling). Pode ser uma solução para muitas empresas para lidar com a escassez de recursos humanos.
Além do salário e dos benefícios, assistimos a uma crescente valorização por parte dos trabalhadores de flexibilidade para a conciliação da vida profissional com a pessoal, ambientes de trabalho agradáveis, oportunidades de progressão e estabilidade. Como grandes tendências, foram ainda abordadas as questões da inteligência artificial e o seu papel, bem como os modelos de teletrabalho.
Seguiu-se um debate alargado, no qual a questão dos baixos salários foi apresentada como um dos maiores problemas para lidar com o contexto atual, mas também com os reduzidos níveis de produtividade e contexto económico.
A elevada carga fiscal que incide sobre empresas e trabalhadores explica, segundo os oradores, muito da situação a que assistimos, a par da instabilidade do sistema. Acresce que os desafios decorrentes da inevitável transição digital e energética se mostram fundamentais para o aumento da produtividade e competitividade empresarial, mas para isso é preciso que se crie um contexto de trabalho mais favorável à atração e retenção de talento.
Um exemplo nas políticas de desenvolvimento económicas locais
Apesar da impossibilidade de estar presencialmente no Europarque, uma vez que foi convocado para o Conselho do Estado, em virtude da crise política que assolou o país, Luís Marques Mendes começou, em declarações em formato de gravação vídeo, por elogiar a autarquia e o seu presidente pelo bom exemplo em termos de políticas de desenvolvimento económico locais adotadas, atestadas nos montantes de investimento atraídos para o concelho e de emprego criado. Realçou igualmente o enorme e fundamental contributo das empresas e dos empresários para os bons resultados em termos de exportações da economia portuguesa, o que permitiu atingir a meta de 50% que o Governo só projetava atingir para 2030. E alertou ainda para os enormes riscos geopolíticos existentes e o seu impacto económico, reforçando a importância da prudência, da resiliência e da capacidade de gerir num contexto de crescente imprevisibilidade.
Uma empresa com um Departamento da Felicidade
No segundo painel, consignado ao tema "O que estão a fazer as empresas", marcaram presença Ricardo Costa, CEO do Grupo Bernardo da Costa, e Paula Arriscado, diretora de Pessoas, Marca e Comunicação na Salvador Caetano, enquanto bons exemplos de empresas que conseguem captar talento e criar valor, como destacou Camilo Lourenço.
Ricardo Costa falou do Departamento da Felicidade, focado no bem-estar dos colaboradores, que a empresa criou, realçando a importância da liderança centrada nas pessoas, mais empática e humanizada, mas sem nunca esquecer que são uma empresa.
Paula Arriscado referiu a herança e o propósito que o fundador da empresa deixou e que foi relançado, de Ser Caetano, enquanto sinónimo de uma empresa agradável, confortável, para se "viver", crescer e trabalhar, pois nela passam muito tempo. Isso implica a existência de uma diversidade de projetos, indo desde a conciliação da vida profissional e pessoal até programas de saúde e bem-estar, passando pela formação de lideranças.