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Banca e Seguros 2018
Notícia

Open banking à porta da banca

A colaboração e a partilha de informação favorecem o desenvolvimento. É nesse princípio de base que assentam os novos pressupostos tecnológicos para o sector financeiro, como o open banking.

07 de Novembro de 2018 às 08:51

A inovação é constante. Obriga as organizações a um esforço de adaptação e antecipação das novas necessidades dos clientes. Perante esta realidade, e no caso específico do sector financeiro português, importa responder a duas perguntas basilares. O que está a fazer a banca portuguesa para responder ao aparecimento de novas tecnologias que impulsionam a transformação digital do sector financeiro? O que procuram os clientes portugueses para ter acesso a serviços financeiros com ambiente mais comoditizado?

A solução encontrada pelo mercado é a adopção do open banking. A ideia por trás deste chavão é permitir que a banca e as seguradoras criem Interface de Programação de Aplicações (API) para que novos operadores, start-ups, fintech e outros "developers" que oferecem serviços mais eficientes e voltados para a experiência do utilizador, possam aprimorar aplicações baseadas nos serviços de negócio.

Nuno Sousa, "vertical lead de financial services" da Claranet Portugal, diz que a banca nacional está atenta às tendências tecnológicas que surgem no mercado, dando como exemplo "a discussão em diversos fóruns da especialidade, bem como o desenvolvimento de pequenos laboratórios e sandboxes de testes da tecnologia".

A tecnológica Claranet encara o open banking e a Payment Services Directive 2 (PSD2) como excelentes oportunidades de crescimento para todas as entidades envolvidas no sector financeiro.

Em discurso directo, Nuno Sousa explica a visão da Claranet em matéria de open banking e os desafios que o sector financeiro português possui pela frente para adoptar esta tendência e modernizar os seus serviços para novos ambientes digitais.

 

Quais as vantagens de adopção do open banking?

As vantagens são claras, desde o aumento de transparência e agilidade nos processos, como, por exemplo, na abertura de conta e/ou na atribuição rating, sendo esta uma consequência natural da adopção deste tipo de tecnologia. As instituições financeiras passaram a conhecer melhor o seu cliente, e este, por sua vez, passará a ter mais controlo e acesso a serviços diversificados, mais direccionados às suas necessidades, num só clique ou mesmo através do seu telemóvel.

 

Quais os principais desafios com que se deparam os bancos nacionais na implementação do open banking?

É necessário implementar mecanismos que garantam a fiabilidade, não descurando o envolvimento de parceiros que tenham conhecimento da tecnologia e que trabalhem continuamente para garantir a segurança de todos os dados. Os pilares fundamentais do open banking introduzem novas superfícies de ataque no modelo de risco das instituições. O uso massivo de smartphones, como método preferencial de acesso e pagamento, obriga a reforçar as práticas de autenticação da identidade digital dos utilizadores, usando inclusive, mecanismos de análise comportamental, que levam em conta todos estes factores no cálculo do risco de fraude na transacção, o chamado "threat intelligence".

Por outro lado, a abertura do sistema financeiro aos Third-Party Payment service providers (TTP) envolve novos desafios de segurança no desenvolvimento das API’s, algo com que as instituições tradicionais têm de se familiarizar rapidamente.

 

Os benefícios do open banking incluem uma melhor experiência do cliente, novos modelos de receita e um serviço sustentável para mercados com reduzidas taxas de crescimento de lucro. Por que motivos existe tanta resistência à adopção?

Uma das razões são as ameaças que as "big techs" representam, sendo que, estas levam uma grande vantagem sobre a banca, por operarem à escala global, razão pela qual entendemos a tendência normal proteccionista. Existe também a necessidade de regulamentação que coloque todos os "players" de mercado em pé de igualdade. Uma situação que pode ser possível considerando o enquadramento europeu. Acreditamos que o mercado só vai adoptar em massa esta solução, quando existir uma adopção de modelos de cooperação e de partilha de receita, assente num verdadeiro modelo de parceria "win-win".

 

Do que precisa o sector bancário nacional para adoptar este modelo tecnológico?

Precisa de testar continuamente para ganhar confiança, não esquecendo a sua progressiva implementação assente em soluções flexíveis e escaláveis, por estas apresentarem mais capacidade de resposta às crescentes necessidades dos futuros serviços, que certamente advieram da implementação destes novos standards no sector.

 

A analista de mercado Gartner sublinha que apesar de a adopção do open banking estar a aumentar, as barreiras existentes dentro das entidades financeiras ainda são muito elevadas. Podem identificar os obstáculos do ponto de vista tecnológico e não tecnológico?

A nível tecnológico podemos observar que os sistemas bancários ainda estão muito assentes em soluções legacy, que são sem dúvida muito resilientes, mas pouco flexíveis e sem grande escalabilidade para albergar a evolução tecnológica necessária. A solução passa, inevitavelmente, por evoluir progressivamente para novos ambientes em cloud, bem como apostar no desenvolvimento de middlewares que permitam o acesso aos dados de forma segura e rápida. Não obstante, existirá sempre a necessidade de implementar mecanismos, que permitam auditar e identificar antecipadamente qualquer tipo de possíveis vulnerabilidades.

É ainda necessário considerar, que apesar do mercado ser cada vez mais ágil, as metodologias de trabalho das áreas de sistemas de informação, ainda não estão assentes num modelo ágil e de resposta rápida, com a entrega de "quick wins", para garantir respostas às necessidades das áreas de negócio.

 

O open banking abre uma espécie de caixa de Pandora para os developers. É esta uma forma de acelerar a adopção de novas plataformas de mobile banking no sector?

Sim, pode claramente acelerar o processo, sendo que o mercado e o consumidor está cada vez mais avido, não só, por uma fácil interação com os seus serviços num só portal ou aplicação, mas também por novas e criativas soluções financeiras.

 

Há outros caminhos para desenvolver e promover melhor o mobile banking no sector bancário? O que defende a Claranet nestes casos?

Cremos que os bancos nacionais e provedores de pagamentos têm demonstrado capacidade de resposta, considerando a nossa escala e o mercado concorrencial global. Acreditamos que ainda existe espaço para evoluir, no sentido de aproveitar a capacidade tecnológica actualmente disponível no nosso País. Defendemos um modelo de gestão de serviço, em que o cliente pode obter acesso a infra-estrutura rapidamente, considerando modelos flexíveis e adaptados às necessidades dos seus negócios.

 

Além do open banking, quais as próximas inovações ou disrupções no sector?

Vivemos, sem duvida, num dos melhores momentos de inovação no sector, prova disto, foi o desenvolvimento de chatbots que facilitaram o apoio e interação com o cliente, o ressurgimento da inteligência artificial, que permitirá maior rapidez na análise da informação, sendo a sua aplicação cada vez maior na banca de investimentos, através dos robot advisors, e por fim, consideramos que o blockchain, poderá ser verdadeiramente disruptivo pelas suas características inerentes, como a descentralização e a garantia da informação, podendo a sua aplicação transformar, por exemplo, o processo de transferências interbancárias.
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