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S&P mantém rating e perspetiva de Portugal

A agência de notação financeira decidiu-se pelo status quo no que diz respeito à dívida soberana de Portugal. A S&P prevê que Portugal registe um défice orçamental de 0,3% do PIB este ano devido ao impacto do coronavírus.

Reuters
14 de Março de 2020 às 15:05
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A Standard & Poor’s decidiu não mexer no "rating" e "outlook" da dívida soberana de Portugal, preferindo esperar por dados mais concretos sobre o impacto económico da covid-19 antes de tomar qualquer decisão em relação à classificação e perspetiva da evolução da dívida da República.

 

Em março de 2019, a S&P colocou a dívida portuguesa no mesmo nível que a Fitch, em BBB (segundo nível acima de "lixo"), tendo depois a 13 de setembro elevado o "outlook" para "positivo".

"A perspetiva positiva reflete a nossa visão de que a capacidade de Portugal assumir o seu alto 'stock' de compromissos externos continua a aumentar, apesar dos mercados financeiros globais incertos", refere a nota de análise agora divulgada pela S&P.

Adicionalmente, assinala a agência, a manutenção do "outlook" "também reflete o crescimento médio real do PIB, que, nos 2,6% desde 2016, iguala o de Espanha e coloca Portugal como uma das economias em mais rápido crescimento na Europa ocidental - apesar de bastante vulnerável a choques externos, particularmente através do turismo".

A S&P nota ainda que as medidas do Banco Central Europeu (BCE) para uniformizar a política monetária na zona euro e eliminar riscos de refinanciamento "ajudaram a recuperação de Portugal, liderada pelas exportações".

"A introdução de taxas negativas nos depósitos pelo BCE, no passado, e o relançamento do programa de compra de ativos deve, para além disso, permitir ao setor privado português gerir um 'pano de fundo' económico mais complicado a nível global e doméstico", considera a agência.

No entanto, caso acredite que "o risco de refinanciamento externo aumente, ou caso haja uma inesperada e sustentada deterioração na 'performance' orçamental e de crescimento", poderá rever a perspetiva de positiva para estável.

A decisão veio ao encontro das previsões dos analistas ouvidos pelo Negócios. 

"Penso que a S&P manterá as coisas como estão. Apesar de o ‘outlook’ estar ‘positivo’, o impacto orçamental da covid-19 ainda é bastante incerto", comentou ao Negócios o analista-chefe do departamento de mercados do Danske Bank, Jens Peter Sørensen, em antecipação desta decisão. E isto sem esquecer os efeitos que poderão advir do braço de ferro entre Riade e Moscovo relativamente à produção de petróleo.

Também Filipe Garcia, economista da IMF - Informação de Mercados Financeiros, antecipou que a S&P se decidiria por um status quo. "Na minha opinião, as agências de ‘rating’ deverão ter uma atitude muito conservadora, não alterando para já as suas perspetivas. Isto porque as agências não têm neste momento a visibilidade acerca das previsões macroeconómicas, nomeadamente ao nível do crescimento e da despesa pública, que serão afetadas pela crise da covid-19".

Além disso, para tomar uma decisão atempada de mudança de "rating" ou de "outlook" (os relatórios não são feitos no dia em que são divulgados), a S&P teria de o fazer sem conhecer eventuais medidas adicionais por parte do Banco Central Europeu, que só ontem tomou uma decisão na sua reunião de política monetária. Portanto, frisou Filipe Garcia ao Negócios, a agência iria pronunciar-se com base em "informação muito incompleta".

Recorde-se que Mário Centeno disse no final de fevereiro que a economia portuguesa deverá ter tido já em 2019 o primeiro excedente orçamental em democracia, indo ao encontro das expectativas da S&P. Contudo, para já, a agência de notação financeira preferiu esperar para ver tudo o que está ainda por se saber sobre o impacto económico da covid-19.

Covid-19 deverá levar a um défice de 0,3% este ano
A S&P estima que Portugal registe um défice orçamental de 0,3% do PIB este ano devido ao impacto do coronavírus.

"Os riscos económicos do coronavírus são consideráveis, dado que mais de um quinto das receitas externas (e cerca de 8% do valor acrescentado bruto) vêm do turismo", nota a agência, que prevê um "crescimento em U" da economia portuguesa começando no segundo trimestre, "à medida que a situação externa se desenvolva". Mesmo assim, as estimativas da S&P são de que o crescimento económico se situe em 1,3% este ano e acelere para 1,9% no próximo.

"Tendo um pano de fundo de crescimento incerto, é provável que o orçamento volte a um défice [de 0,3%] este ano, antes de regressar a um excedente [de 0,2%] em 2021", indica o documento, onde é referido que a previsão da S&P é de que Portugal tenha alcançado um excedente orçamental de 0,2% do PIB no ano passado.

"Na assunção de que um abrandamento global não persiste para além de 2020, temos a expectativa que as dinâmicas orçamentais e económicas de Portugal continuem a melhorar", conclui a S&P.

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