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Fitch mantém Portugal dois níveis acima de "lixo"

A agência de notação financeira decidiu não mexer no rating da dívida portuguesa de longo prazo nem na perspetiva para a evolução da qualidade do crédito soberano.

Portugal emitiu certificados ao retalho que tinham indexado parte dos juros ao crescimento do PIB.
Pedro Nunes/Reuters
14 de Maio de 2021 às 22:01
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A Fitch optou por não proceder a mexidas na avaliação da dívida soberana portuguesa, que permanece em BBB, o penúltimo grau da categoria de investimento de qualidade (dois níveis acima de "lixo"). Já a perspetiva (outlook) mantém-se estável.

 

A Fitch sublinha, no relatório emitido, que o rating de BBB atribuído a Portugal refletia um equilíbrio entre a sua robustez institucional, fortes indicadores de governance e rendimento per capita acima dos seus pares com igual notação e os elevados níveis de endividamento e finanças externas débeis.

Já o ‘outlook’ estável reflete a convicção da agência de que, após o forte aumento da dívida pública no ano passado, esta irá regressar a uma trajetória de descida, sustentada por melhores perspetivas de crescimento, pelas condições de financiamento favoráveis e pelo compromisso do governo para com a prudência orçamental.

"A economia portuguesa foi fortemente abalada em 2020, registando uma contração de 7,6%, naquela que foi uma recessão mais profunda do que a média da Zona Euro (-6,6%) e do que a média dos países que têm o mesmo rating de BBB (-6,5%)", sublinha a Fitch.

"A economia de Portugal, de pequena dimensão e aberta, com a sua elevada dependência do turismo, registou uma segunda vaga substancial de casos de covid-19 com início en finais do último trimestre de 2020. A resultante intensificação das restrições contribuiu para uma forte queda do PIB no primeiro trimestre de 2021 (5,4% em termos homólogos, que compara com uma descida de 1,8% na Zona Euro)", refere o documento, frisando que, desde então, "a situação epidemiológica melhorou significativamente, com o estado de emergência a ser levantado no final de abril, abrindo caminho à reabertura da maioria das atividades económicas".

A Fitch estima que a economia portuguesa cresça 3,5% em 2021 e 4,1% em 2022; uma retoma mais suave do que na média da Zona Euro (que a agência projeta ser de 4,7% este ano e de 4,5% no próximo). "Isto reflete, em grande medida, a ideia da Fitch de que o turismo internacional não deverá regressar aos níveis de 2019 em Portugal antes de 2023", salienta.

 

Isto também implica, acrescenta, "uma retoma mais lenta no mercado laboral, onde o emprego associado ao turismo é elevado (21% do emprego total em 2019, segundo o Conselho Mundial de Viagens e Turismo)".

 

"Por isso, estimamos que a taxa de desemprego de Portugal aumente para 7,3% em 2021, contra 6,9% em 2020 (dados do Eurostat), antes de descer para 6,7% em 2022 mas mantendo-se acima dos níveis pré-pandémicos (6,5% em 2019).

 

Desde 17 de abril do ano passado – quando a agência cortou a perspetiva de positiva para estável, numa decisão surpresa, já que se antecipou à data agendada (22 de maio) para avaliar Portugal – que a Fitch não mexe na avaliação de Portugal.

A manutenção do rating e perspetiva de Portugal, nesta sexta-feira, era já esperada pelos analistas consultados pelo Negócios.

 

Filipe Garcia, economista da IMF – Informação de Mercados Financeiros, sublinhou o facto de os juros da dívida a 10 anos de Portugal estarem agora a 0,60% – máximos de junho de 2020 –, face a quase 0% no início do ano, mas lembrou que "Portugal tem colocado dívida a prazos longos sem dificuldade e que o Banco Central Europeu mostra comprometimento em manter os estímulos monetários por muito tempo".

 

Já Mário Martins, analista da ActivTrades, salientou que as condições económicas e financeiras de Portugal pouco se alteraram desde a última avaliação, "com a particularidade de o processo relativo ao Plano de Resiliência e Recuperação ter avançado, o que, aliado ao bom desempenho do combate à pandemia de covid -19, melhora o cenário de médio prazo para a recuperação da economia nacional".

(atualizado às 22:55)

 

 

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