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Empresas zombie multiplicam-se nos EUA e agravam riscos

Enquanto a Reserva Federal faz todos os esforços para fortalecer os mercados de crédito, as empresas dos Estados Unidos afundam-se em dívidas.

EPA
20 de Maio de 2020 às 14:06
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Empresas como a Carnival, Marriott International, Delta Air Lines, Gap e Avis Budget, atingidas pelo surto de coronavírus, emitiram milhares de milhões de dólares em dívida nas últimas semanas.

Não importa que os lucros tenham evaporado e que as operações comerciais não sejam viáveis agora ou no longo prazo. Desde que sejam apoiadas pela Fed, os investidores estão dispostos a emprestar.

No entanto, as expectativas de recuperação económica em forma de V estão a desaparecer rapidamente e um número cada vez maior de veteranos do setor começa a mostrar preocupação com essa dinâmica de endividamento. Alguns alertam que a Fed está a colocar os mercados de crédito a caminho de uma futura onda de falências que deve ofuscar o ritmo atual de pedidos de proteção contra credores.

Outros veem consequências ainda mais graves.

Neste cenário, dizem, empresas moribundas em setores profundamente marcados pela pandemia continuarão a endividar-se.

Observadores do mercado, como o economista-chefe do Deutsche Bank, Torsten Slok, temem que uma nova vaga das chamadas empresas zombie - que não lucram o suficiente para cobrir pagamentos de juros e sobrevivem em parte devido à generosidade dos bancos centrais - possa trazer graves consequência para todos, desde trabalhadores a investidores, nos próximos anos.

"A Fed e o governo estão a interferir no processo de destruição criativa", disse Slok em entrevista. "A consequência é que corremos o risco de isso começar a pesar no potencial geral de crescimento da economia e na produtividade".

Não é que esses riscos signifiquem que a atual política da Fed esteja equivocada. Dada a dimensão e abrangência do colapso económico e o aumento sem precedentes do desemprego, a maioria dos analistas considera que os decisores políticos tiveram de fazer tudo o que fosse possível para atacar o problema. Só que essa forte intervenção traz grandes riscos que terão de ser resolvidos no futuro.

"A Fed não teve outra escolha a não ser fazer o que fez", disse Slok.

Ainda assim, é precisamente essa intervenção dramática que encoraja os gestores de ativos a arriscarem mais e a procurarem retornos mais elevados.

"Não podem dizer que farão ‘o que for necessário’ e depois não fazer", afirma Jack McIntyre, da Brandywine Global Investment Management, sediada na Filadélfia. "Caso contrário, a Fed perderia credibilidade".

McIntyre disse que está a comprar obrigações de empresas, com grau de investimento, em vez de títulos do Tesouro "porque a Fed deu garantias ao mercado - se os spreads aumentarem, entrará em ação".

Este é o tipo de sentimento que pode levar à proliferação de zombies, dizem os economistas.

Garantia da Fed

A definição de empresa zombie varia dependendo a quem se pergunta, mas a maioria concorda que geralmente diz respeito a empresas que não conseguem cobrir os custos do serviço da dívida com os lucros atuais durante um determinado período.

Um olhar rápido para o mercado mostra que não há falta de empresas que se encaixariam nesta descrição, caso a recuperação económica demore a ganhar impulso.

Prevê-se que os lucros das empresas do S&P 500, excluindo as financeiras, caiam 42% no segundo trimestre em relação ao ano anterior, segundo estimativas compiladas pela Bloomberg.

Ao mesmo tempo, a emissão de dívida das empresas aumentou exponencialmente e pode chegar a um bilião de dólares este ano, segundo a Bloomberg Intelligence.

A Delta e a Marriott não quiseram comentar, enquanto a Avis não respondeu aos pedidos de comentários.

A Carnival encaminhou à Bloomberg um comunicado de imprensa onde destaca a força do seu balanço e as reservas contínuas de clientes para o segundo semestre do ano e 2021.

Um representante da Gap encaminhou à Bloomberg um comunicado onde a empresa salienta os seus esforços de financiamento, acrescentando que planeia ter 800 lojas abertas até ao final de maio.

Se o ritmo da recuperação for rápido o suficiente, os detentores de dívida corporativa dizem que muitas empresas atingidas devem ser capazes de mudar as coisas.

Mas a pergunta que está na mente de investidores e economistas é: por quanto tempo estará a Fed disposta a apoiar as empresas através do seu compromisso de comprar dívida se a recuperação for mais lenta do que o esperado?

"O governo fez mais do que eu imaginava para permitir que as empresas acedessem ao capital e, se os mercados fecharem novamente, o governo fará ainda mais", disse Bill Zox, diretor de investimentos em obrigações da Diamond Hill Capital Management, que gere cerca de 19,5 mil milhões de dólares.

É uma questão especialmente relevante quando se trata dos setores mais atingidos pelo surto de covid-19.

As empresas de cruzeiros emitiram mais de 8 mil milhões de dólares em dívida nas últimas semanas, através de títulos que têm como garantia desde navios a ilhas. As companhias aéreas, por sua vez, obtiveram mais de 14 mil milhões em novos financiamentos de bancos e investidores, mesmo com a grande maioria dos aviões em terra.

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