Notícia
Estratégias de gurus rendem mais de 50% em dois anos
Uma carteira de acções ao estilo do pai do investimento duplicou de valor no biénio. Nenhuma das sete tácticas ganhou menos de 12% por ano.
05 de Agosto de 2011 às 08:50
É preciso ser guru para conseguir ganhar mais de 50% nos dois últimos anos. O mundo não facilitou a vida aos investidores. Em todos os continentes há problemas que os afastam das mais-valias: uma crise de dívida soberana na Europa, problemas de endividamento governamental nos Estados Unidos da América, um terramoto no Japão e o sobreaquecimento económico na China são apenas os principais eventos. É natural que o PSI-20, o índice de acções nacionais, tenha avançado 1,45%.
As estratégias dos sete gurus, conforme publicadas nos dois últimos anos pelo Negócios, avançaram, em média, 50,45% nos dois últimos anos. A táctica de Benjamin Graham foi a melhor: 105,95% no biénio. A pior foi a de John Neff, ao ganhar 27,20%. Nenhum dos 459 fundos de investimento registados em Portugal conseguiu ganhar mais de 50% no mesmo período.
Estes resultados obrigam o Negócios a continuar a investigar quais as acções que os gurus comprariam neste mercado. Usámos exactamente as mesmas regras ensinadas pelos sete gurus para escolher as acções para o próximo ano. Pela primeira vez, há uma acção repetida: tanto a estratégia de Martin Zweig como a de William O'Neil elegem a Apple.
Não compre acções só porque os gurus poderiam gostar delas. Embora a lista do próximo ano seja um bom ponto de partida, faça a sua própria análise. Não se esqueça que o dinheiro é seu, logo, a responsabilidade e o risco também são todos seus.
As rendibilidades dos últimos 24 meses, apresentada para cada guru, referem-se ao desempenho médio das acções eleitas pelas estratégias dos gurus entre 20 de Julho de 2009 e 15 de Julho de 2011, incluindo a revisão das carteiras publicada em 26 de Julho de 2010. As rendibilidades, registadas em euros, incluem o reinvestimento dos dividendos e os ganhos nas ofertas públicas de aquisição.
Apostas disparam no último ano
As acções seleccionadas há um ano ganharam 20,89%, mais do dobro da média dos títulos mundiais. A estratégia de Martin Zweig foi a mais lucrativa, alavancada pela rendibilidade de 68,37% das acções da Jerónimo Martins. No entanto, foi a National Oilwell Varco, eleita pela táctica de Benjamin Graham, que mais se valorizou: 91,42%.
Benjamin Graham
O pai dos gurus
As estratégias dos sete gurus, conforme publicadas nos dois últimos anos pelo Negócios, avançaram, em média, 50,45% nos dois últimos anos. A táctica de Benjamin Graham foi a melhor: 105,95% no biénio. A pior foi a de John Neff, ao ganhar 27,20%. Nenhum dos 459 fundos de investimento registados em Portugal conseguiu ganhar mais de 50% no mesmo período.
Não compre acções só porque os gurus poderiam gostar delas. Embora a lista do próximo ano seja um bom ponto de partida, faça a sua própria análise. Não se esqueça que o dinheiro é seu, logo, a responsabilidade e o risco também são todos seus.
As rendibilidades dos últimos 24 meses, apresentada para cada guru, referem-se ao desempenho médio das acções eleitas pelas estratégias dos gurus entre 20 de Julho de 2009 e 15 de Julho de 2011, incluindo a revisão das carteiras publicada em 26 de Julho de 2010. As rendibilidades, registadas em euros, incluem o reinvestimento dos dividendos e os ganhos nas ofertas públicas de aquisição.
Apostas disparam no último ano
As acções seleccionadas há um ano ganharam 20,89%, mais do dobro da média dos títulos mundiais. A estratégia de Martin Zweig foi a mais lucrativa, alavancada pela rendibilidade de 68,37% das acções da Jerónimo Martins. No entanto, foi a National Oilwell Varco, eleita pela táctica de Benjamin Graham, que mais se valorizou: 91,42%.
Benjamin Graham
O pai dos gurus
Rendibilidade 24 meses
43,87% por ano
O guru de Warren Buffett perdeu uma fortuna em 1929 mas conseguiu recuperá-la. "The Intelligent Investor" é uma obra de referência.
As regras propostas pela táctica de Benjamin Graham, o fundador da análise de acções, resultam frequentemente na escolha de títulos de empresas aborrecidas. Há dois anos foram eleitas a empresa de químicos DSM e a Semapa, que actua nos papéis e cimentos. No ano passado, foram seleccionadas a eléctrica E.On e a National Oilwell Varco, que fabrica plataformas petrolíferas. Graham preferia comprar negócios monótonos a preços baixos do que empresas de tecnologias de ponta a preços elevados. A receita é lucrativa: nos dois últimos anos, a estratégia rendeu 105,95%, o equivalente a 43,87% por ano. As regras impostas pelo pai do investimento em valor para seleccionar acções são bastante simples. Graham aprecia rácios preço-lucros e preço-valor contabilístico reduzidos, bem como taxas de dividendos elevadas e que tenham espaço para continuar a subir. Neste ano são acolhidos outros dois negócios monótonos: a Brisa, a operadora nacional de auto-estradas, e a produtora eléctrica espanhola Endesa. A Brisa é um exemplo claro do que Graham procurava: o rácio preço-lucros é dos mais baixos do mercado, o preço-valor contabilístico é praticamente unitário e a taxa de dividendos anda perto dos 9%.
Martin Zweig
Não precisa de mergulhar na empresa
Rendibilidade 24 meses
32,42% por ano
Não é preciso analisar uma empresa ao pormenor para se perceber se vale a pena comprar as suas acções, diz Martin Zweig em "Winning on Wall Street".
O interesse pela bolsa conduziu Martin Zweig a um curso na área económica que culminou num doutoramento em Finanças na Universidade do Michigan. Só na década de 1970 é que entrou no mercado. A sua popularidade só chegou quando escreveu um conjunto de artigos certeiros e quando previu o "crash" de 1987 num programa de televisão. No livro "Martin Zweig's Winning on Wall Street", o guru defende que não é preciso avaliar as empresas ao pormenor: basta estudar os indicadores contabilísticos para saber se é um bom negócio. É o crescimento das firmas que mais interessa a Zweig, por isso, a maioria dos seus indicadores de referência medem a variação dos lucros ou do volume de negócios. Uma das poucas medidas que Zweig usa para saber que não está a pagar em demasia pelo crescimento dos resultados é o rácio preço-lucros. É por causa desse indicador que a Jerónimo Martins não volta a constar nas acções seleccionadas pela estratégia de Martin Zweig, como no ano passado. Depois de renderem 68,37%, o preço-lucros disparou para mais de 30, o que é mais de 50% superior à mediana do mercado, o limite imposto por Zweig. Neste ano, os títulos escolhidos pela táctica deste guru são da Apple e da Oracle.
William O´Neil
Sete letras para as mais-valias
Rendibilidade 24 meses
22,31% por ano
Com a estratégia que apelidou de CAN SLIM, William O'Neil garante que é possível descobrir o próximo Google ou Apple.
Este guru fez o seu próprio sucesso. Três anos depois de terminar o curso em gestão de empresas era corretor em Wall Street. Foi aí que desenvolveu, progressivamente, o seu próprio modelo de selecção de acções. Aos 30 anos era o corretor mais novo na bolsa de Nova Iorque.
A estratégia de investimento de William O'Neil evoluiu de uma simples táctica para o que é agora o CAN SLIM, um conjunto de regras para seleccionar acções, em que cada letra do acrónimo corresponde a um indicador. O'Neil prefere empresas de pequena e média dimensão, porque prometem mais crescimento no futuro, mas o CAN SLIM também pode ser aplicado às grandes empresas, como as que estão incorporadas nos principais índices accionistas. A aplicação das regras desvenda que a estratégia de O'Neil voltou a apostar nas acções da Apple, a fabricante dos iPhones, e da Telenet, uma operadora de telecomunicações da Bélgica, mesmo depois de esses títulos terem rendido mais de 40%, em média.
Warren Buffett
O guru mais popular
Rendibilidade 24 meses
20% por ano
Warren Buffett procura negócios que compreende, com um bom perfil económico e administradores de confiança.
Até agora era fácil replicar uma estratégia "buffettiana": bastava analisar a carteira de investimentos da Berkshire Hathaway, a sociedade liderada por Warren Buffett que serve de veículo para as suas apostas bolsistas. Contudo, Buffett, que está agora com 80 anos, está a passar progressivamente o testemunho da liderança da companhia. Ao longo do último ano foram mais as vendas do que as compras. Contudo, é possível isolar duas aquisições: a Mastercard, a firma de cartões de crédito que se estreou no portefólio de Buffett no primeiro trimestre do ano, e a Johnson & Johnson. Embora seja discípulo de Benjamin Graham, Warren Buffett é muito mais reconhecido pelo público. A partir de muito pouco, o guru chegou a ser o homem mais rico do mundo em 2008, segundo a revista "Forbes", através dos seus investimentos. A Berkshire conseguiu uma rendibilidade de 490.409% entre 1964 e 2010, o equivalente a mais de 20 por cento por ano. Em breve, serão conhecidas as compras de Todd Combs, o antigo gestor de "hedge funds" que começou há pouco tempo a investir na bolsa cerca de 2,8 mil milhões de euros da Berkshire Hathaway. Não se sabe se ele seguirá os ensinamentos de Buffett.
James O'Shaughnessy
Investigador dos números
Rendibilidade 24 meses
18,27% por ano
Para James O'Shaughnessy, os bons investimentos não estão nas empresas que mais crescem mas em PME estáveis.
Quando James O'Shaughnessy quis investigar se uma simples estratégia baseada em dados contabilísticos e preços de bolsa seria suficiente para maximizar as mais-valias, adquiriu uma base de dados de informação financeira sobre mais de dez mil companhias americanas desde a década de 1950. Na sua actividade de gestor de fundos, o antigo director do banco de investimento Bear Stearns procura agora rácios preço-vendas e preço-"cash-flow" reduzidos, bem como taxas de dividendos generosas. Quando indeciso entre dois títulos, O'Shaughnessy desempata escolhendo o que mais se valorizou no último ano. Usando estes critérios na pesquisa de acções, a Allianz, a maior seguradora europeia, e a Lockheed Martin, o maior fornecedor mundial de equipamento militar, são escolhidas. Apesar de defender uma táctica quantitativa, o gestor diz que não se pode ignorar o humor do mercado. Sendo assim, se quiser conhecer as principais compras que O'Shaughnessy tem efectuado no mercado analise a carteira de um fundo gerido por si, como o RBC O'Shaughnessy International Equity. No final de Maio, os principais activos eram as acções da francesa Plastic Omnium e da italiana Enel.
Joseph Piotroski
Experiência académica dá lucros
Rendibilidade 24 meses
15,27% por ano
A relação entre a cotação e o valor contabilístico de uma empresa, adcicionada de nove testes, são o segredo de Joseph Piotrosky
Este é o único académico entre os sete gurus da bolsa. Joseph Piotroski, professor do departamento de Contabilidade da Universidade de Stanford, na Califórnia, nunca trabalhou na indústria da gestão de activos nem escreveu livros sobre o assunto. A estratégia que desenvolveu, publicada no "Journal of Accounting Research" em 2000, é, no entanto, uma das mais populares entre os investidores que procuram soluções automatizadas de escolha de títulos.Há muito tempo que os académicos e os vários investidores sabiam que o rácio preço-valor contabilístico era um dos melhores para escolher acções. Contudo, também sabiam que uma parte das empresas de rácios baixos está em dificuldades. No universo das empresas de preço-valor contabilístico reduzido, Piotroski decidiu separar as boas das más. Para isso construiu um conjunto de nove testes, que envolvem variáveis como o lucro anual, a margem bruta e a rotação dos activos. Os investidores só devem comprar as acções que passam oito ou nove testes. Seguindo essa táctica, foram escolhidas as acções da construtora automóvel Peugeot e do conglomerado francês Vivendi, que inclui a operadora de telecomunicações SFR, o Canal Plus e a Universal Music Group.
John Neff
O investidor da relação preço-lucros
John Neff
O investidor da relação preço-lucros
Rendibilidade 24 meses
12,88% por ano
Quando a grande massa de investidores foge do mercado John Neff entra. Fez bons negócios com as petrolíferas nos anos 80.
John Neff disse que o fundo que geriu entre 1964 e 1995, o Windsor da sociedade Vanguard, era "relativamente prosaico, aborrecido e conservador" porque não gostava de dar nas vistas. Porém, os seus resultados não permitiram que permanecesse na sombra: o fundo rendeu 13,7% por ano, alguns pontos acima do desempenho dos índices de acções dos Estados Unidos. Neff é o que se chama de investidor no contrário: aposta na maioria das vezes no sentido oposto do mercado. No seu livro "John Neff on Investing", explica que a bolsa é repetitiva e que, por isso, é possível ultrapassar as bolhas. John Neff é conhecido como "o investidor do rácio preço-lucros baixo". Esse indicador, que resulta da divisão da cotação da acção pelos lucros dos últimos 12 meses por acção, é o seu favorito. Porém, o investidor desenvolveu um indicador composto a que chamou "rácio do que se recebe pelo que se paga". Esse indicador obtém-se pela soma da taxa de dividendos e da taxa de crescimento a dividir pelo rácio preço-lucros. As acções da ASML Holding e da Aviva são seleccionadas agora ao aplicar o indicador de John Neff.
*Aviso legal
David Almas é analista financeiro independente registado na CMVM com o número oito.
O autor trabalha subordinado ao Código Deontológico dos Jornalistas, disponível na internet em tiny.cc/cdjorn.