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Os traders que foram apanhados no escândalo da Euribor

Christian Bittar, do Deutsche Bank, declarou-se culpado antes do início do julgamento de dois meses. Outros cinco traders do Deutsche Bank e do Société Générale foram condenados, mas não foram extraditados da Alemanha e da França.

O Ministério Público afirma que a conspiração foi comandada por Moryoussef (na foto) e por Bittar Reuters
17 de Julho de 2018 às 10:13
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Um antigo trader do Barclays foi condenado, um ex-executivo do Deutsche Bank declarou-se culpado e outro ex-funcionário deste banco foi absolvido de conspirar para manipular a Euribor, a taxa de juro de referência que serve de referência para biliões de dólares em títulos. Em relação a três pessoas os juízes não chegaram a uma decisão. 

 

Philippe Moryoussef foi considerado culpado por manipular a Euribor, enquanto Achim Krämer foi absolvido. O júri não conseguiu chegar a um veredicto a respeito de Colin Bermingham, Sisse Bohart e Carlo Palombo.

 

Christian Bittar, do Deutsche Bank, declarou-se culpado antes do início do julgamento de dois meses. Outros cinco traders do Deutsche Bank e do Société Générale foram condenados, mas não foram extraditados da Alemanha e da França.

 

O detalhe sobre os traders que foram apanhados no escândalo da Euribor:

 

Christian Bittar | Deutsche Bank, em Londres

Christian Bittar | Deutsche Bank, em Londres
Idade: 46 anos; Veredicto: declarou-se culpado. Há uma década, Bittar era uma das estrelas do Deutsche Bank e recebeu um bónus de cerca de 90 milhões de libras. Não compareceu em tribunal - declarou-se culpado quase um mês antes do julgamento, mas isso não impediu que se destacasse também no julgamento. A confissão deu o tom e Bittar foi mencionado muitas vezes como a pessoa que dava as cartas. Foi citado numa conversa lida no tribunal quando falava com o guru de hedge-funds Alan Howard sobre uma “agenda” para derrubar a Euribor. Bittar foi criado no Senegal, frequentou uma das melhores universidades francesas e depois começou a trabalhar para o Société Générale em Paris como analista quantitativo. Foi recrutado pelo Deutsche Bank e era conhecido como senhor ponto-base por fazer negócios baseados em minúsculas mudanças nas taxas de juro de curto prazo. Apesar da enorme remuneração, morava numa casa relativamente modesta, dirigia um carro comum e não gastava com roupas extravagantes. O seu amigo de longa data, Philippe Moryoussef, era a sua contraparte no Barclays.

Philippe Moryoussef | Barclays em Londres

Philippe Moryoussef | Barclays em Londres
Idade: 50 anos; Veredicto: culpado; Moryoussef fugiu para França, seu país natal, em vez de comparecer ao julgamento e não tinha um advogado a defende-lo em tribunal. Uma estratégia que o transformou no alvo de acusações não contestadas por parte dos procuradores, dos advogados de defesa e dos réus. Moryoussef entrou no Barclays em 2005 e transferiu-se em 2008 para um emprego com salário mais elevado. O Ministério Público afirma que a conspiração foi comandada por Moryoussef e por Bittar, que contava com o seu amigo para influenciar os responsáveis do Barclays que submetiam o valor da Euribor. Moryoussef usava histórias sobre as enormes transacções que realizou para pedir ajuda, mas as posições de que falava eram quase sempre de Bittar. Numa avaliação de desempenho, o chefe de Moryoussef reconhecia a sua competência e ambição, mas pressionava-o a ser mais agressivo. Uma vez disse ao seu amigo Bittar que tinha passado uma noite em branco depois de ter fechado uma transacção de grande dimensão sem que tivesse garantido que outro trader tinha negociado de acordo com o seu objectivo. De acordo com a acusação, Moryoussef sabia que estava a agir de forma errada, pois disse aos que com ele conspiravam que deveriam apagar as mensagens e não discutirem com ninguém as transacções que efectuavam. “Acreditava” que quem no Barclays era responsável por submeter os valores das taxas Euribor “actuava de forma independente”, disse Moryoussef ao Serious Fraud Office. “Ocasionalmente pedia para [o valor da taxa] ser mais elevado ou mais baixo dentro de um limite permitido. Acredito que tinham em conta outras informações”.

Carlo Palombo | Barclays em Londres

Carlo Palombo | Barclays em Londres
Idade: 39 anos; Veredicto: Nenhum; Palombo nasceu em Milão e sua carreira no Barclays começou em 2002 com rotação por várias equipas antes de se fixar nos swaps. No tribunal, mostrou-se como uma figura excêntrica comparando com os outros acusados, proferindo questões filosóficas a respeito da desigualdade de rendimentos. Apesar de no princípio ter aparentemente conquistado o júri com humor peculiar e um sorriso cintilante, tropeçou ao fazer uma série de analogias comparando a condição do trader estagiário, entre outras coisas, com a do “empregado do McDonald’s”. Assinalou de forma repetida a falta de experiência que tinha e que fazer pedidos a quem submetia as taxas era uma pequena parte do se dia. Durante alguns dias nem fazia pausa para ir à casa de banho, mas suprir a ausência do seu chefe. Quando a acusação sugeriu que não estava a receber 400 mil libras por ano para servir chá, Polombo respondeu: “Por ridículo que possa parecer, o empregado para servir café no Barclays recebe 400 mil libras por ano”. Polombo deixou o mundo da corretagem para trás e está agora a tirar um doutoramento na Califórnia, depois de ter estudado ciências psico-sociais no Reino Unido.

Colin Bermingham | Barclays em Londres

Colin Bermingham | Barclays em Londres
Idade: 61; Veredicto: Nenhum; Bermingham ingressou no Barclays em 1974 após concluir cursos de inglês, história e arte. Começou a carreira a fazer o registo das transacções dos corretores na sala de mercados cambial. A tarefa passava por guardar os papeis de 15 a 20 traders, num ambiente fortemente barulhento que comparava a um estádio de futebol. Se não fizesse o que lhe pediam, um corretor disse-lhe uma vez que “lhe cortava partes do meu corpo para comer ao almoço”, disse Bermingham em tribunal. Aos 21 anos casou-se com a sua namorada de infância e foi viver para uma aldeia. No fim dos anos 1970, Bermingham comprava e vendia dinheiro na sala de mercados para responder às necessidades de liquidez do banco e tornou-se, talvez, a pessoa mais experiente do sector. Foi mentor de outra arguida, Sisse Bohart, e tornou-se uma figura paterna fora do trabalho, chegando em alguns casos a levá-la de carro ao aeroporto quando ela voltava à Dinamarca para visitar o seu padrasto, que estava doente. Bermingham disse que não se lembrava de detalhes ocorridos há mais de uma década, mas como gestor da equipa que efectuava a submissão dos valores da Euribor, só aceitaria os pedidos que se encaixassem no que o mercado ditava. Questionado sobre porque não tinha deixado isso claro aos traders de swaps, respondeu assim: “Penso que era algo implícito. Era algo que não precisava de dizer, pois as pessoas entendiam que havia escolhas”.

Sisse Bohart | Barclays em Londres

Sisse Bohart | Barclays em Londres
Idade: 41 anos; Veredicto: Nenhum; A mãe e quatro irmãos de Bohart vieram da Dinamarca para assistir ao seu depoimento. Bohart era uma especialista em tecnologias de informação antes de conseguir uma hipótese como trader sob a alçada de Bermingham. Antes de regressar à Dinamarca, em 2008, era a principal pessoa do Barclays a fazer as submissões da Euribor. Tem um filho de um ano e trabalha actualmente para uma empresa de energia na Dinamarca. Argumentou que por vezes tinha dificuldade em adaptar-se à cultura britânica, especialmente porque os colegas não conseguiam lidar com os seus hábitos da Dinamarca. Como trader, preferia abrir posições que facilmente poderia fechar ou reforçar sem correr muito risco. Um superior criticou-a por isso: “na melhor das hipóteses tem capacidade para ser assistente de trader. Falta-lhe a ambição que vejo noutros traders”. Entre os acusados, Bohart é a que aparece em mais mensagens, tendo oferecido a Palombo uma submissão de uma taxa Euribor “tão elevada como quiseres” e dito que “o teu desejo é uma ordem”. “Penso que há aqui algumas coisas que parecem mal”, disse Bohart, argumentando que “tinha razões perfeitamente válidas para as decisões que tomei”.

Achim Krämer | Deutsche Bank em Frankfurt

Achim Krämer | Deutsche Bank em Frankfurt
Idade: 53 anos; Veredicto: inocente; Krämer era acólito numa vila pitoresca perto de Frankfurt onde ainda mora com a esposa e três filhos. O padre da sua igreja foi a sua testemunha de carácter. Sem diploma universitário, Krämer entrou no ramo bancário como aprendiz na adolescência, carreira interrompida apenas para o cumprimento do serviço militar obrigatório. Negociava títulos do governo alemão para o JPMorgan antes de passar para o Deutsche Bank em 1996. Nunca enfrentou nenhuma investigação interna por qualquer delito. Ao contrário dos outros arguidos, o banco pagou os advogados de Krämer. O papel de Kraemer passava mais por supervisionar os riscos de longo prazo e menos por efectuar transacções. Negou ter conhecimento de tentativas para manipular as taxas e salientou que o seu nome não consta em muitas das mensagens que foram investigadas. Mas a acusação alega que era o responsável por uma pequena equipa de traders que fazia a ligação entre Bittar em Londres e os que eram responsáveis por submeter o valor da Euribor em Frankfurt. Os procuradores concluíram que Kraemer não precisava de mandar mensagens pois comunicava pessoalmente. “Pensava que era tudo normal”, disse Kraemer sobre as discussões que ouvia no escritório sobre os pedidos para submeter valores mais altos ou mais baixos para a Euribor. “Assumi que correspondia ao processo de tomada de posição Não reflecti muito sobre isso”.

Andreas Hauschild | Deutsche Bank em Frankfurt

Andreas Hauschild | Deutsche Bank em Frankfurt
Idade: 53 anos; Status: Acusado no Reino Unido, mas Alemanha rejeitou pedido de extradição; Hauschild fazia parte da equipa de trading do Deutsche Bank em Frankfurt, mas depois de 16 anos deixou o banco para se tornar chefe de risco global do Commerzbank em 2006. Segundo Krämer, Hauschild tinha a sua própria carteira de trading mesmo quando era supervisor e geria-a inclusive quando estava de férias. A certa altura, reclamou a Krämer que as taxas Euribor estavam a custar-lhe “muito dinheiro”. Os procuradores disseram que Hauschild falou em fazer negócios para distorcer a Euribor através de procura falsa por dinheiro. Hauschild tirou várias licenciaturas e actualmente está a tirar um MBA na Frankfurt School of Finance. Em conjunto com a sua mulher, criou e financiou uma fundação em Heidelberg. "Durante a nossa vida, é importante devolver valores à sociedade", refere na sua página no LinkedIn.

Kai-Uwe Kappauf | Deutsche Bank, swaps desk, Frankfurt

Kai-Uwe Kappauf | Deutsche Bank, swaps desk, Frankfurt
Idade: 42 anos; Status: acusado no Reino Unido, mas Alemanha rejeitou pedido de extradição; Kappauf começou sua carreira no Deutsche Bank como estagiário em 1996. Krämer era chefe de Kappauf e disse ao tribunal que Kappauf não teve muito sucesso no início de 2005. Este trader, Ardalan Gharagozlou e Jörg Vogt repassavam os pedidos de Euribor de Bittar aos que estavam sentados na fila seguinte em Frankfurt. Quando foi despedido em 2013 devido a este escândalo da manipulação das Euribor, era vice-presidente. Ganhou 130 mil euros na altura e recebeu um bónus de 180 mil euros em 2011, de acordo com uma decisão judicial que o gestor ganhou contra o banco. O Deutsche Bank recorreu e depois foi fechado um acordo.

Ardalan Gharagozlou | Deutsche Bank em Frankfurt

Ardalan Gharagozlou | Deutsche Bank em Frankfurt
Idade: 46 anos; Status: Acusado no Reino Unido, mas Alemanha rejeitou pedido de extradição; Gharagozlou entrou no Deutsche Bank em 2000. Quando foi demitido, 13 anos depois, por comunicações ligadas à manipulação de taxas de referência, era vice-presidente. Ganhava cerca de 265.000 euros na altura e recebeu um bónus de 2,7 milhões de euros em 2011, segundo um julgamento de um tribunal do trabalho num processo em que venceu, relacionado com a sua demissão. O banco recorreu e a disputa terminou posteriormente em acordo.

Jörg Vogt | Deutsche Bank Frankfurt

Jörg Vogt | Deutsche Bank Frankfurt
Idade: 48 anos; Status: Acusado no Reino Unido, mas Alemanha rejeitou pedido de extradição; Vogt entrou no Deutsche Bank em 1991. Durante o período sob investigação, Vogt também fazia parte da equipa de trading de Frankfurt. Uma vez perguntou a um colega: “viu o esquema para três meses hoje? Foi uma excelente acção conjunta de Frankfurt e Londres.” Mas quando Bittar lhe pediu uma submissão particularmente elevada da Euribor, respondeu que o pedido era “ridículo”. Quando foi despedido em 2013 devido ao escândalo da manipulação das Euribor, ganhou 265 mil euros e recebeu um bónus de 780 mil euros referente a 2011, de acordo com uma decisão judicial que o gestor ganhou contra o banco. O Deutsche Bank recorreu e depois foi fechado um acordo.

Stéphane Esper | Société Générale em Paris

Stéphane Esper | Société Générale em Paris
Idade: 43 anos; Status: Acusado no Reino Unido, mas Alemanha rejeitou pedido de extradição; Antes de deixar o Société Générale, em 2009, Esper trabalhou em Paris como trader de swaps de taxas de juro europeias. Os procuradores do caso disseram que Esper fez parte da conspiração para influenciar os requerentes de Euribor a ajustarem as suas taxas para beneficiar as suas posições de trading, mas foi mencionado apenas esporadicamente. O antigo trader de swaps processou o banco num Tribunal do Trabalho em Paris, com o objectivo de obter documentos, incluindo a transcrição de mensagens que trocou com Moryoussef através do terminal da Bloomberg, para se defender neste caso da manipulação das taxas. Apesar de o tribunal recusar as suas pretensões, Esper reclamou uma indemnização de 8 milhões de euros, devido aos danos de imagens e custos para se defender no tribunal britânico que julgou este caso. Durante as audiências no tribunal de Paris, a advogado de Esper alegou que Moryoussef foi o responsável por ensinar o seu cliente, antes deste sair para o Barclays em 2008. A advogada também acusou o Societe Generale de não ter dado formação adequada em relação à Euribor. E Esper alegou que a sua hierarquia no banco tinha conhecimento das suas acções e até o encorajava a cooperar com outras instituições para ganhar conhecimento do mercado.





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