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Inverno cripto atira empresas de NFT para o mundo real
Vender "merchandising", comprar clubes de futebol, transacionar peluches e conceder direitos de propriedade intelectual com a venda de NFT têm sido algumas das vias do setor para contornar a quebra de receita.
O inverno cripto travou a fundo as transações de NFT. Desde março, as vendas deste ativos únicos e infungíveis tombaram 87%, tendo novembro faturado apenas 442 milhões de dólares, segundo os números da consultora Chainalysis.
Esta queda abrupta já se faz sentir nas receitas das empresas do setor, as quais uma vez que não conseguem arrecadar dinheiro no mundo digital viram-se para a vendas de produtos físicos no mundo real.
A indústria do entretenimento tem sido encarada o porto seguro deste setor. É o caso do projeto "Doodles", uma coleção de NFT até então bastante publicitada no Twitter e conhecida pelos traços semelhantes a desenhos animados.
Ora, recentemente e aproveitando esta característica, os fundadores do projeto contrataram o produtor e músico Pharrell Williams, o qual aproveitou estas figuras para realizar um álbum e vídeos.
"Nestes próximos dois anos estamos a entrar num ambiente económico mais lento e o que vence nestes tempos é o entretenimento", defende Julian Holguin, CEO da Doodles, em entrevista ao Financial Times (FT).
Apesar de considerar a indústria do entretenimento já "bastante saturada e a atenção dos consumidores esteja bastante fragmentada" acredita que ainda é possível "criar boas histórias que conectem as pessoas".
Além dos vídeos e do Álbum, a Doodles está a aproveitar as figuras dos NFT para realizar eventos e para vender "merchandising" da marca.
Também a Pudgy Penguins tem trocado as vendas de NFT dando a primazia do negócio à comercialização de brinquedos com a figuras dos pinguins que fazem parte desta coleção de tokens. Paralelamente, para continuar a fomentar o "core" da empresa, a marca distribui parte dos lucros aos detentores de NFT da Pudgy Penguins.
"Cada geração teve seu grande movimento de pinguins, como o ‘Penguin Club’ [um jogo inserido num mundo virtual] e o [filme] 'Happy Feet'. Há uma grande oportunidade para os próximos pinguins invadam não só o metaverso, mas também o mundo real", comentou Luca Schnetzler, CEO da Pudgy Penguins, em declarações ao diário britânico.
Para já a estratégia parece ter funcionado, já que a empresa conseguiu, apesar do inverno cripto, ver o preço médio de cada NFT subir em dezembro para 5.700 dólares.
Outro exemplo dado pelo FT de mudança de mira de mercado para contornar a queda do apetite de risco é a Knights of Degen, que passou de um só segmento de negócio, a venda de NFT, para vários, desde a compra de uma equipa de menor dimensão de futebol inglês, o Crawley Tow, e eventos com celebridade ao lançamento de linha de molhos à base de vodka.
A inspiração para a empresa é a Disney. "A Disney começou com a criação do Mickey Mouse e, a partir daí passou a deter parques de diversões, filmes e outros produtos. Queremos seguir essa trajetória semelhante", explicou Drew Austin, cofundador da Knights of Degen ao diário britânico.
Nem a Yuga Labs, empresa que conta com as coleções mais destacadas como "Bored Ape Yacht Club" e os "CryptoPunks", escapou a esta tendência, ainda que o faça de forma diferente.
A companhia liderada por Daniel Alegre passa direitos intelectuais da marca com a venda do tokens, o que concede uma carta branca aos proprietários que já personalizaram desde restaurantes a colares da Tiffany.
"Começámos a ver macacos [da coleção "Bored Ape Yacht Club"] a aparecer em molhos picantes, videoclipes e muito mais. A descentralização da propriedade intelectual é uma ferramenta forte para a construção da comunidade", concluiu a Yuga Labs.