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Maria Cândida Rocha e Silva: “Os empresários talvez devessem ter mudado mais”

A última banqueira em Portugal acredita que a juventude tem hoje uma relação distinta com o trabalho, mas frisa que os gestores nem sempre souberam acautelar o bem-estar dos seus trabalhadores. Aos 80 anos, a presidente do conselho de administração do Carregosa sabe que o futuro do banco é um tema incontornável. Sobre a forma como o setor financeiro em Portugal mudou - e ainda mudará -, tem uma visão descomplicada: é a vida e o mercado.

O gelo começou a partir-se durante um almoço na sede do Banco Carregosa, no Porto. O edifício não é o mesmo onde nasceu a casa de câmbios que lhe deu origem, mas o peso da história continua a marcar presença naquelas paredes. Os títulos e cupões em papel são pedaços de história que espelham a evolução do Carregosa.

 

Seguiu-se uma curta viagem até ao Palácio da Bolsa, o local onde Maria Cândida Rocha e Silva ganhou papel de destaque como a primeira mulher corretora em Portugal e onde decorreu esta entrevista. O espaço que no passado acolheu o "floor" da Bolsa de Valores do Porto está hoje repleto de turistas. A mulher que cresceu ao lado do pai, que viveu a boémia de Coimbra, que passou alguns anos em Luanda, mas que se destacou no Porto  diz-nos que a história não se irá preocupar consigo, mas deixa na história do sistema financeiro português um caminho de afirmação que poucas mulheres puderam alcançar. A presidente do conselho de administração do Banco Carregosa marca com esta entrevista de vida o arranque da 5.ª edição da iniciativa Negócios Sustentabilidade 20|30.

 

Estamos no Palácio da Bolsa, onde trabalhou como corretora quando a Bolsa de Valores do Porto aqui operava. Qual o melhor e pior momento que recorda aqui?

Acho que o melhor foi quando tudo começou. O Porto nunca tinha tido uma bolsa de valores e eu fui a primeira mulher que trabalhou aqui no "floor". Isso deu-me muito orgulho. De princípio foi uma vida um bocadinho difícil porque tinha havido uma revolução. Antes da revolução transacionavam-se os títulos de qualquer maneira. As pessoas não tinham realmente a noção, só sabiam que aquele papel que hoje valia 10, amanhã valia 20, depois valia 30, depois 40. Veio a revolução e aquilo não valia nada. Depois, muito tempo depois, o Estado deu as tais obrigações do Tesouro – houve nacionalizações e expropriações – que teriam maturidade em 2002. Estávamos em 1974. Era no fim do mundo. Os primeiros tempos foram muito difíceis sob o ponto de vista de negócio porque eu acho que as pessoas não acreditavam e não aderiam. Portugal nunca foi um país com tradição de bolsa e a revolução teve muita influência.

 

Depois entrou-se num momento de grande euforia quando as coisas estabilizaram.

Estabilizaram, eu estava lá e  pude fazer parte desse momento.  Ao mesmo tempo foi quebrar com uma... Nunca tinha acontecido, a bolsa nunca tinha funcionado. E eu fiz parte desses primeiros corretores e isso deu-me muito gosto. O momento mais triste foi quando Cavaco Silva e Miguel Cadilhe vieram dizer que nós estávamos a vender gato por lebre.

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