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A geração ”quer-tudo”

Querem uma carreira internacional, “moderna” e flexível, ter casa própria e filhos, garantir que exista um equilíbrio saudável entre ambas, seguir os seus sonhos, fazer uso dos seus talentos, viajar por vários países, explorando as suas culturas, e experimentar e descobrir muitas “coisas” diferentes. Preocupa-os o desemprego, a corrupção e o terrorismo e, graças às redes sociais, estão a tomar mais atenção à política e também à economia. Têm entre 16 e 25 anos, querem ter tudo e foram objecto de estudo de mais um Barómetro da Juventude, publicado pelo Credit Suisse

05 de Novembro de 2016 às 12:00
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O "segmento" mais novo dos que pertencem à chamada geração millennial ou Y – e salvaguardando-se as diferentes formas como os autores as datam – foi objecto de estudo no já habitual Credit Suisse Youth Barometer , publicado no início do mês de Outubro, com entrevistas a cerca de 1000 jovens, entre os 16 e os 25 anos nos Estados Unidos, Brasil, Singapura e Suíça.

Com um enfoque pouco comum neste tipo de barómetros, a edição de 2016 concentrou-se sobremaneira na forma como a Internet, no geral, e as redes sociais em particular, estão, para o bem e para o mal, a oferecer aos mais jovens uma maior percepção, e consequente participação, na política de cada uma das regiões inquiridas, sendo que em todos elas esta "actividade" foi significativamente forte: as eleições em Singapura e também na Suíça, ambas em Outubro de 2015, o processo de impeachment, em 2016, de Dilma Rousseff, no Brasil e, é claro, as mais tóxicas eleições presidenciais de todo o sempre nos Estados Unidos, ainda em modo de campanha, mas que terminarão, para alívio de todos, a 8 de Novembro próximo.

Na medida em que os jovens são acusados de não se interessarem por "estas coisas", o enfoque em causa é pertinente, na medida em que e aparentemente, as suas preocupações cívicas parecem estar a aumentar. Todavia, e como seria natural, o inquérito realizado pela unidade de Responsibility do Credit Suisse (e que publica esta Barómetro da Juventude desde 2010) abarca outras temáticas, de que são exemplo a linha cada vez mais ténue entre a vida digital e real – a qual e para os que cresceram sem saber o que era viver sem Internet acaba por ser quase "una" -, os seus objectivos, seja no que respeita a opções de carreira, seja na vida que ambicionam ter, e ainda os seus sonhos e dificuldades em conjunto com as suas principais preocupações presentes, mas também face ao futuro.

A esmagadora maioria dos jovens inquiridos saúda a oportunidade de discutir e comentar as questões políticas online


Na medida em que estes jovens nascidos entre 1980 e 1999 parecem querer tudo ao mesmo tempo e não abrir mão de nada, os responsáveis pelo estudo chamam-lhes "geração stress" – uma nomenclatura pouco habitual para o segmento populacional em causa – assente no facto de que e a par de um "bom emprego", quererem também ter "vida" fora dele e bem equilibrada, que o desejo de uma carreira internacional não os impeça de almejar, em simultâneo, ter casa própria (nos seus países de origem), entre outros desejos muitas vezes contrários, mas que aqui surgem como "complementares".


O inquérito conta ainda com o contributo de dois políticos e um jornalista que analisam o papel dos media sociais no processo de envolvimento político dos mais jovens (v. Caixa) e com a análise de Sherry Turkle, do MIT, doutorada em psicologia e sociologia e investigadora, há mais de 30 anos, da forma como os humanos interagem com os computadores e, mais recentemente, com a inteligência artificial. Turkle, autora de vários livros sobre estas temáticas, alerta, na sua mais recente incursão pela escrita que "o texting, os tweets, os emails, as mensagens instantâneas ou os snapchats" – uma espécie de torpedos vertiginosamente rápidos próprios da comunicação online – substituíram as conversas face a face e o facto de ser entrevistada para analisar os resultados deste estudo é mais do que pertinente (pode ler um artigo realizado sobre a autora e sobre o seu último livro aqui).

Vejamos então as principais ambições, preocupações e sonhos destes inquiridos, que não são assim tão diferentes das dos nossos jovens. Basta olharmos em nosso redor.

© DR
© DR


Media sociais ajudam ao envolvimento político, mas jovens estão atentos à manipulação de informação

Apesar das diferenças óbvias em termos de contexto e de circunstâncias, as mais recentes actividades políticas elegeram um meio de comunicação não só comum, como cada vez mais importante, tanto para os eleitores como para os próprios actores políticos: a utilização da Internet e dos media sociais como componente fulcral das suas estratégias de "chegar ao eleitorado" e de fazer passar, o mais habilmente possível, a sua mensagem.

Mas e será que esta está a chegar, da melhor forma, aos cidadãos mais jovens? E estará a mesma a ser bem recebida? A esmagadora maioria dos jovens inquiridos saúda a oportunidade de discutir e comentar as questões políticas online, considerando-a benéfica para a política dos seus respectivos países. Com excepção para a Suíça, conhecido por ser "o país dos referendos" e onde a política está culturalmente "impregnada" na população, existe uma concordância quase generalizada no que respeita à declaração "os comentários no Facebook, no Twitter e em outros media sociais tornam a política mais relevante e mais motivadora, contribuindo para me tornar mais politicamente activo/a".

O mesmo acontece com a afirmação "devido aos posts e comentários online, as organizações e as empresas prestam maior atenção ao que as pessoas realmente pretendem", o que junta ao maior envolvimento político, um interesse igualmente crescente no que respeita às questões mais económicas, uma outra área que, por definição, pouco interesse tem despertado junto dos jovens. Todavia, tal não significa que os jovens auscultados não tenham noção de que podem ser facilmente manipulados através destes mesmos meios, visto que a "adulteração" das mensagens é uma constante nas suas vidas online mas, e mesmo assim, neste ponto, são os suíços os mais críticos, com os inquiridos de Singapura, pelo contrário, a representarem os que consideram que os posts veiculados por estes meios são honestos e não fraudulentos.

Desemprego, corrupção, terrorismo e refugiados são as principais preocupações

Inquiridos sobre os principais problemas que mais afectam os seus países, os jovens brasileiros são os que mais "homogéneos" são nas suas respostas, com 74% dos respondentes a eleger a corrupção como a principal ameaça no país em que habitam, seguida de perto pelo desemprego (67%). Por seu turno, o desemprego (44%) está no topo dos temores eleitos pelos jovens dos Estados Unidos, ao que se segue o terrorismo (38%), o principal problema identificado também pelos auscultados de Singapura, seguido de perto pela inflação. Na Suíça, e ao contrário dos seus pares, os jovens não estão preocupados com o mercado laboral, mas sim com a questão da coexistência no que respeita à aceitação e integração de "estrangeiros": os refugiados que procuram asilo aparecem como o problema número 1 para os helvéticos, o que espelha também o preocupante sentimento de xenofobia que parece estar a contagiar vários países da Europa.


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