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Para começar com o pé direito
O primeiro impulso pode ser o mais importante para "começar com o pé direito" um projecto que já estava a ser desenvolvido há cerca de três anos no âmbito académico e médico e que envolve uma equipa multidisciplinar, com doutorados em medicina, na...
26 de Novembro de 2009 às 16:23
Um cheque de 50 mil euros| João Vilaça e Jorge Correia-Pinto (ao centro) são dois dos promotores da iSurgical3D, Da euipa fazem também partaMarques Pinho e Jaime Fonseca.
O primeiro impulso pode ser o mais importante para "começar com o pé direito" um projecto que já estava a ser desenvolvido há cerca de três anos no âmbito académico e médico e que envolve uma equipa multidisciplinar, com doutorados em medicina, na especialidade de cirurgia pediátrica, engenharia industrial e mecânica.
"O prémio START [revelado terça-feira] vai permitir potenciar o projecto ao nível que pretendíamos e dá-nos as bases para um arranque inicial muito promissor", explica João Vilaça da iSurgical3D. O promotor do projecto manifesta assim a sua satisfação pelo primeiro lugar alcançado num prémio de reconhecido prestígio a nível nacional, onde se candidataram 500 ideias de negócio que foram sendo filtradas por um júri e colocadas à prova em duas fases distintas, primeiro com a selecção de 20 semi-finalistas e depois numa lista mais selecta de oito finalistas.
A tarefa do júri não foi fácil, como confessa Artur Santos Silva, presidente do grupo de especialistas que esteve encarregue de escolher mais uma vez "os melhores de entre os melhores". Com a missão de premiar projectos inovadores, com planos de negócios sólidos, capazes de competir em mercados globais e com tecnologia adequada, as propostas foram escrutinadas com afinco, mas a selecção gerou alguma discussão entre o júri. "Foi especialmente difícil decidir o vencedor pela grande qualidade dos projectos apresentados, importando salientar que, nos oito finalistas, mais de um terço dos participantes são doutorados em universidades portuguesas e estrangeiras e perto de um quarto têm mestrados", salienta Artur Santos Silva. Também por isso, este ano o START volta a ter um primeiro prémio e uma Menção Honrosa, que foi atribuída à Eye D.
Ficha Objectivo: desenvolvimento e comercialização de produtos para a área da saúde que permite a modelagem de uma prótese para correcção do pectus escavatum mas que pode ser aplicada noutras cirurgias. Já foi utilizada em mais de 30 cirurgias no Hospital do Porto. Promotores: João Vilaça, Jaime Fonseca, Marques Pinho e Jorge Pinto. Investimento estimado: 110 mil euros. Outros apoios: Concurso de ideias e negócios SpiNum. |
Internacionalização à vista
A distinção final, e o almejado prémio de 50 mil euros a integrar no capital social, são "um primeiro impulso para avançarmos com a produção e a comercialização do produto também para um ambiente internacional", justifica Jorge Correia-Pinto, cirurgião pediátrico, e um dos membros da equipa do iSurgical3D.
A ideia de avançar com a empresa já estava enraizada na equipa que nos últimos três anos desenvolveu a ideia de próteses moldáveis para cirurgias torácicas, que já foram aplicadas em mais de 30 operações para correcção do 'pectus escavatum' no Hospital de São João no Porto, embora ainda de forma "artesanal" e sem qualquer recompensa financeira. O financiamento até agora tinha sido dos promotores da ideia, numa equipa de quatro doutorados de diferentes áreas, que investiram tempo e massa cinzenta, para além de capital próprio, e registaram a patente a nível nacional, submetendo-a também internacionalmente.
"Todo o trabalho feito até agora foi para testar o modelo. Temos sido cautelosos e avançado com os pés bem assentes, mas agora temos condições diferentes para materializar o projecto", reconhece Jorge Correia-Pinto, que traça já os cenários de criação da linha de produção que irá gerar emprego científico e garantir a produção das próteses personalizadas para aplicar no mercado nacional mas também em mercados internacionais.
Os cenários de internacionalização faziam já parte do Plano de Negócios inicial apresentado ao START e têm como mercados alvo os Estados Unidos, Europa e Japão, onde já se utilizam estas técnicas na cirurgia, mas também mercados emergentes, como a América Latina, especialmente o Brasil, onde não existe nenhuma empresa instalada a desenvolver estes produtos.
Uma equipa multisdisciplinar garante o sucesso A tecnologia de modelagem/dobragem de próteses cirúrgicas para a correcção do "pectus escavatum", desenvolvida pela iSurgical3D, já está a ser usada no Hospital de São João no Porto, mas a sua aplicação pode ser alargada a outras áreas da cirurgia, entre as quais se contam o desenvolvimento de próteses personalizadas para cirurgias craniofaciais ou simulação virtual 3D da correcção ortodental. Com uma equipa multidisciplinar que envolve doutorados em engenharia industrial, engenharia mecânica e medicina, e uma patente registada a nível nacional e submetida internacionalmente, o projecto tem um potencial elevado face aos produtos da concorrência, o que lhe abre as portas ao mercado internacional. Também por isso, a comercialização é difícil e envolve custos elevados, o que fez com que a equipa procurasse o apoio do START para as várias fases de desenvolvimento. Antes a equipa tinha ganho o concurso de ideias e negócios SpiNum, da Universidade do Minho, Tecminho e Avepark, mas o contacto com potenciais investidores, a par da notoriedade e do prémio financeiro, somaram-se às razões para candidatura à iniciativa do BPI. |
As definições organizativas e as funções de cada um dos envolvidos na futura empresa, serão decididas ainda esta semana, mas isso não é o mais importante, até porque não faltam projectos de futuro e "muito trabalho e dedicação" pela frente. O primeiro passo será completar o financiamento para atingir os 110 mil euros necessários para a primeira fase de produção e comercialização. A candidatura a projectos do QREN e o acesso a crédito bancário, que é facilitado no Banco BPI através do START são também outras hipóteses consideradas para conseguir a sustentabilidade necessária para os próximos anos. Mas a iSurgical3D vai ainda continuar ligada à investigação. "A empresa só sobrevive com uma forte componente de inovação e desenvolvimento de novos produtos", justifica Jorge Correia-Pinto, que quer também aplicar o mesmo modelo já desenvolvido a outro tipo de cirurgias, como as cranofaciais e correcção de escolioses.