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Design industrial resiste com pinças

Um campo de futebol com 10 metros de comprimento, relógios para a Swatch e séries especiais para a Nissan são alguns dos projectos desenvolvidos por empresas portuguesas de "design" industrial, uma disciplina que tem estado a engordar nas universidades e...

03 de Setembro de 2009 às 15:47
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Há uns anos, pouco se ouvia falar dele em Portugal. O "design" industrial engordou nas universidades e nos pedidos de protecção, mas continua a lutar contra a trémula indústria e as mossas no ramo automóvel.

Um campo de futebol com 10 metros de comprimento, relógios para a Swatch e séries especiais para a Nissan são alguns dos projectos desenvolvidos por empresas portuguesas de "design" industrial, uma disciplina que tem estado a engordar nas universidades e nos pedidos de protecção, mas que luta contra a trémula indústria no País e desafia as mossas causadas pela crise no ramo automóvel, cliente habitual das mãos de "designers".

Jorge Sol e Jorge Neves , sócios da Miopia Design, empresa do Barreiro nascida em 1993, têm conseguido, com um empurrão do "webdesign", espantar a crise. No currículo estão projectos especiais para a Swatch, como o "Adamastor", o relógio azul com peixes de várias cores que correu pulsos durante a "Expo 98". Ou o "Fraldinhas", que lhes valeu o prémio de "Melhor Packaging" nos Prisma Awards.

Se o "design" industrial foi a porta de entrada no mercado da Miopia, o 'webdesign' parece ser o seu presente e futuro. Jorge Sol e Jorge Neves lançaram, no dia 28 de Julho, a Football Dream Factory, uma plataforma "on-line" que permite aos aspirantes a jogadores profissionais mostrarem as suas capacidades e serem avaliados por treinadores e jogadores profissionais, como Scolari e Luís Figo.

Desenho mais protegido
Número de registos sobe de ano para ano em Portugal

De vez em quando, Rina e Yoshiharu Miyakawa, sócios da MMDesign, recebem reclamações sobre peças que não são suas. "Sim, há muitas cópias e adaptações", exprime Yoshiharu Miyakawa. "Na Tailândia, chegámos a ver modelos iguais aos nossos. Mais que isso, a fotografia que tinham no 'site' era nossa". conta. Também Rui Marcelino, sócio da Almadesign, viu algumas peças copiadas, como um "tablier" da Salvador Caetano ou um "roll-bar" de uma "pick-up" da Mazda. Tudo se passou antes de 2003, ano em que foi introduzidoo registo comunitário do "design", procedimento que veio facilitar a protecção dos desenhos no espaço da União Europeia (UE). Desde então, quer o número de pedidos de protecção nacional, quer comunitária tem vindo a aumentar. Em 2008, 791 objectos foram protegidos via nacional, a que se somam 736 via comunitária, segundo dados do Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI). No segundo trimestre deste ano, o número de objectos incluídos nos pedidos de "design" nacional cresceu 14% face a igual período do ano anterior. Entre Abril e Junho deste ano, foram apresentados 80 pedidos de "design", correspondentes a 235 objectos. Neste período, a maior parte (76%) dos pedidos foram efectuados por empresas. Seguem-se criadores independentes (22%) e universidades (2%).

Para implementar o projecto, Jorge Sol e Jorge Neves criaram a Dream Factory Network, sociedade que conta com a participação de João Guerra e tem uma parceria com a in4Tools. Este projecto, ao qual estão associados vários clubes de futebol, conta com a colaboração da Fundação Luís Figo.

Jorge Neves e Jorge Sol fundaram a sua Miopia Design em 1993. Esta casa, com vinte pessoas e uma facturação estimada de 2 milhões de euros em 2009,concebe projectos especiais para a italiana Swatch e está agora entusiasmada com o seu Football Dream Factory, que envolve a produção de campos de futebol com 10 metros de comprimento. Além de Portugal, Espanha e Angola são países alvo.
A par e a passo rápido está a comercialização dos campos de futebol DreamFootball, espaços físicos com 10 metros de comprimento, concebidos pelos sócios da Miopia. "Durante a apresentação da plataforma 'online', montámos um protótipo do campo, no qual jogou o Figo.

Fez tal sucesso que surgiram cerca de cem pedidos de compra, quer a nível individual, quer por parte de câmaras municipais, de vários países", conta Jorge Sol.

Os campos que, em vez de balizas têm três circunferências que "engolem" as bolas, vão ser fabricados pela portuguesa Oxygen. Em breve, serão oficialmente colocados à venda no "site" da Football Dream Factory. "Criámos um novo tipo de futebol para ser jogado por quatro ou duas pessoas, durante 10 minutos. É intenso...".

O campo da Alma Design é outro. Fora do futebol, mas dentro do "design" industrial, esta empresa, fundada em 1997 por um apaixonado da Ferrari, Rui Marcelino, começou cedo a ligação aos transportes. Com trabalhos para a Salvador Caetano - como o modelo Enigma, vencedor de um troféu nacional - a Alma Design, sedeada no Taguspark, conquistou os acessórios de marcas como a Mazda.

Também a Alma Design sentiu um abrandamento dos pedidos. "A crise foi mais claramente sentida pelos clientes da área industrial, com reduções nos volumes de venda, que se traduziram num investimento mais conservador em novos produtos e, logo, no 'design", diz Rui Marcelino. "No entanto, e felizmente, muitos deles acreditaram que 'tempo de crise é tempo de oportunidade', e acabaram por aproveitar este período para iniciar novos projectos", sustenta o fundador da Alma, empresa com dez pessoas que tem no mercado nacional a sua maior fonte de receitas.


Nádia Soares, 23 anos e recém-licenciada em Design de Equipamento pela Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa (ESBAL), venceu, no ano passado, o concurso "Living Your Dreams" promovido pela empresa de mobiliário Tema Home, em parceria com o Centro Português de Design (CPD) e ao abrigo do Programa Prime. O concurso, que envolvia a concepção de um banco, valeu a Nádia Soares uma visita à "London Design Week", na capital britânica, e um estágio na Tema Home. "É uma oportunidade única.

É extremamente complicado ingressar no mercado de trabalho. Por vezes, mesmo os bons alunos, podem não ter essa oportunidade", comenta Nádia. "Mas, aos poucos, as empresas portuguesas começam a estar mais sensíveis ao 'design".

Espanha arrefece pedidos
Rina e Yoshiharu Miyakawa, pai e filha, abraçaram a produção dos projectos que desenhavam. Foi assim durante anos, num espaço industrial na Malveira. Desde "roll-bars" para a Nissan a séries especiais como a "pick-up" 4x4 Xtreme. Com a crise automóvel, acabaram as encomendas e a MMPlus fechou. Continuam com a MMDesign e a conceber cores para a Nippon Paint.
Portugal é, também, o principal mercado para a Grandesign, depois de Espanha ter refreado os pedidos. "O mercado espanhol chegou a representar mais de 70% da nossa actividade.

Tivemos de nos adaptar à nova realidade e, hoje, o mercado nacional tem muito maior expressão na nossa actividade", comenta João Ornelas, director-geral da Grandesign, empresa que nasceu em 1997 na Marinha Grande no seio da Vangest, grupo formado por várias companhias que se dedicam ao desenvolvimento de produto, moldes, prototipagem e gestão de projectos.

A empresa continua, no entanto, a trabalhar com marcas como Swatch - para a qual concebeu a nova embalagem "New Standard Packaging" - Schréder, Sperian e BioSystems. Galardoada com o "Red Dot Design Award 2008" pelo projecto de sinalética urbana "PERLIS - Percursos Urbanos do Lis", a Grandesign, com seis pessoas, espera alcançar uma facturação de 500 mil euros.

Crise automóvel fecha MMPlus
Nem todas as empresas resistiram ao afunilar do sector automóvel. Rina e Yoshiharu Miyakawa, pai e filha, naturais do Japão, bem o sentiram. Além do "design", haviam abraçado a produção dos seus projectos. Desde "roll-bars" para a Nissan a séries especiais como a "pick-up" 4x4 Xtreme. Encomendas que cresceram até ao ano passado. Chegou a crise. Acabaram os pedidos. Fechou a MMPlus. Empregava 20 pessoas e produzia material compósito num espaço industrial na Malveira.

Rina e Yoshiharu continuam a dirigir a MMDesign, fundada em 1991 e dedicada ao "design" industrial. E não só. Yoshiharu, que liderou o "design" da General Motors (GM) no Brasil, concebe cores para a Nippon Paint, fabricante japonesa de tintas, que tem como clientes os gigantes automóveis. "Até podem vender menos carros, mas as cores, concebidas com seis anos de antecedência, não deixam de existir", diz, com um sorriso largo, Yoshiharu. Pai e filha são assim. Gozam, agora, de um descanso antes impossível com as mãos na produção. "Era um ritmo quase japonês", brincam.

Sempre quis desenhar para a Ferrari. Rui Marcelino foi para Itália e acabou na Alfa Romeo. Veio para Portugal e fundou a Alma Design em 1997.Ana Ribeiro Fejião venceu o concurso de "design" de mobiliário de materiais reciclados da CGD. O trabalho da autora está patente no Museu da Electricidade.
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