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Sonae Indústria fecha fábrica após três milhões e uma história com 257 km
Nascida em Paredes há 27 anos, a Movelpartes viria a despedir 42 pessoas em 2009, tendo em 2015 integrado a produção da Plamac, de Santarém, após a Sonae Indústria ter dispensado os seus 51 trabalhadores. Segue-se o despedimento dos últimos 43 e o fecho da fábrica.
Constituída em Alcanede, em 1993, a Plamac iniciou a sua atividade três anos depois, dedicando-se à produção de painéis de aglomerado, perfis de MDF e portas revestidas a PVC, tendo três anos mais tarde sido adquirida pela Sonae Indústria, que redirecionou a sua produção para o mobiliário em KIT.
Entretanto, em Vilela, Paredes, onde a Sonae Indústria tinha criado a Movelpartes, em 1993, o grupo procedeu a um despedimento de 42 trabalhadores em 2009.
Até que, em 2015, a Sonae Indústria decidiu deslocalizar a produção da unidade de Alcanede para o complexo fabril de Vilela, situada a 257 quilómetros daquela freguesia de Santarém, tendo então realizado o despedimento coletivo dos 51 trabalhadores desta fábrica.
O despedimento chegou por carta, no final de maio de 2015, numa missiva onde a administração justifica que o encerramento se devia "a redução de vendas, a deterioração, dos resultados operacionais da Movelpartes em geral, mas em particular dos resultados operacionais da unidade de Alcanede, a situação dos mercados e a ausência de perspetivas de melhorias".
Duplica capacidade de produção com investimento de três milhões de euros em 2018
Cerca de três anos depois, em março de 2018, a Sonae Indústria, num comunicado enviado ao Negócios, avançava que tinha investido cerca de três milhões de euros na Movelpartes, onde a capacidade de produção tinha mais do que duplicado, numa área superior a 12 mil metros quadrados.
A Movelpartes contava agora com uma nova linha de orlagem e furação de painéis, o que "permite à empresa produzir cerca de 120 mil componentes por semana e reduzir os resíduos, bem como os custos de energia e manutenção", adiantava, então, a empresa.
O objetivo do novo investimento da Movelpartes visava "reforçar a sua presença no mercado de componentes para a indústria de mobiliário, nomeadamente nos mercados de Portugal, Espanha, França e Reino Unido".
No ano anterior, através de um projeto de "branding", a Movelpartes tinha renovado a sua identidade visual "para refletir a personalidade da empresa: sólida, global, multicultural e proximidade dos seus parceiros".
Entretanto, a pandemia chegou a Portugal em março passado.
A 24 de julho, a empresa de componentes para a indústria de mobiliário da Sonae Indústria comunicou ao seu pessoal que a fábrica iria encerrar, até ao final do ano, o que implica o despedimento coletivo dos 43 trabalhadores.
Nessa comunicação, a empresa justifica que o encerramento da fábrica se deve "a redução das vendas nos últimos anos, pese embora o avultado investimento efetuado em 2017", "a deterioração dos resultados operacionais", "os fluxos de caixa negativos gerados nos últimos anos" e "os prejuízos registados".
Segundo a administração, estas circunstâncias foram "agravadas pela situação que a pandemia covid-19 está e vai continuar a provocar na economia e nos mercados", não vendo a empresa "viabilidade em recuperar o negócio e obter rentabilidade sustentável, com fluxos de caixa positivos", de acordo com uma comunicação a que a Lusa teve acesso.
Esta quinta-feira, 24 de setembro, contactada pela agência Lusa, fonte oficial da Movelpartes explicou que, "apesar dos investimentos realizados", a unidade "tem vindo a ter um fraco desempenho ao longo dos últimos anos, com resultados negativos acumulados, realidade que se agudizou com a situação de pandemia".
"Perante estas circunstâncias, o conselho de administração decidiu encerrar total e definitivamente esta unidade industrial", disse, avançando que "o processo de encerramento, comunicado em julho último, deverá estar concluído antes do final do ano".
Na sequência da decisão de cessar a atividade da subsidiária Movelpartes, a Sonae Indústria registou já, nas contas relativas ao primeiro semestre deste ano, uma provisão de 390 mil euros relacionada com gastos de encerramento da unidade.
"Empresa sempre manteve bastantes encomendas e faturação da Ikea"
Já esta sexta-feira, 25 de setembro, o Bloco de Esquerda questionou o Governo sobre esta matéria.
"De acordo com as informações recebidas pelo grupo parlamentar do Bloco de Esquerda e divulgadas na imprensa, os trabalhadores ficaram surpreendidos com a decisão de encerramento da unidade fabril por não encontrarem quaisquer fundamentos objetivos para que a mesma tenha lugar. Os trabalhadores afirmam, pelo contrário, que ‘a empresa sempre manteve bastantes encomendas e faturação para o seu principal cliente, a Ikea Industry Portugal’", relata o partido liderado por Catarina Martins.
Por considerar "essencial travar o anunciado despedimento coletivo e apurar as condições em que este grupo encerra uma unidade fabril tendo o resultado líquido muito positivo", o Bloco de Esquerda direcionou um conjunto de perguntas sobre a Movelpartes para o Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social.
"Tem o ministério conhecimento desta situação?" e "está a tutela disponível para analisar com a empresa, no quadro dos apoios extraordinários às empresas concedidos no contexto da pandemia, uma solução que permita a viabilização da empresa e a manutenção dos postos de trabalho?", começa por perguntar.
E "foram realizadas ações inspetivas por parte da ACT? Quais foram os resultados das ações inspetivas?", questiona, pretendendo ainda saber "que medidas pretende o Governo adotar com caráter de urgência para que rapidamente estes trabalhadores tenham acesso a medidas de proteção social consentâneas com a situação descrita", e se o ministério "tem conhecimento da transferência de apoios públicos para esta empresa".