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PwC procura nos países lusófonos africanos quadros que já não encontra em Portugal
O presidente da PwC Portugal, António Brochado Correia, disse esta quinta-feira que a "enorme pressão" para contratação de quadros na área tecnológica esbarra na oferta insuficiente, levando a consultora a explorar o mercado em países africanos de língua portuguesa.
19 de Maio de 2022 às 15:16
"No ano passado admitimos cerca de 800 pessoas [em Portugal]. Temos hoje mais de 300 lugares em aberto para necessidades específicas e a realidade é que não estamos a conseguir colmatar essas necessidades em Portugal. Portanto, isto é um benefício mútuo", afirmou, em declarações à Lusa, na Praia, António Brochado Correia.
"Acho que Portugal pode e deve fazer mais, envolver mais, participar mais com aquilo que são países que falam a nossa língua e que precisam de nós, como nós precisamos deles. É bom reconhecer que um dos principais problemas que a Europa e Portugal em particular vai ter é a questão demográfica. Nós hoje estamos em Portugal com enormes défices de pessoas a vários níveis", considerou o presidente da consultora.
"A PwC tem sentido nos últimos anos uma enorme pressão para a contratação de pessoas. A nível tecnológico temos estado a crescer a uma grande velocidade, precisamente porque o mundo pede essa velocidade. Não somos só nós, de uma forma geral todas as consultoras crescem", explicou.
"Talvez a PwC esteja a crescer um pouco mais porque começou mais tarde neste domínio e a realidade é que, quer para servir Portugal, quer para servir Portugal que colabora com outras partes do mundo, temos vindo a sentir a escassez do talento de que precisamos em Portugal, Lisboa, Porto, mas também noutras cidades onde já estamos", acrescentou.
O responsável referiu que Portugal tem um "défice permanente de pessoas" que afeta setores específicos, "problema agravado pela quantidade de multinacionais" que se estabelecerem no país: "Exclusivamente para estes chamados 'delivery centers', para fornecer outros países e outras geografias. A nossa intenção maior na PwC é servir Portugal e servir as comunidades que falam a nossa língua, mas também poder ganhar com a experiência internacional que a PwC tem. Somos mais de 300.000 no mundo a colaborar e a fazer aquilo que nós achamos que acrescenta a tal confiança e que permitem soluções sustentáveis para o mundo".
A atividade da PwC Portugal abrange ainda Cabo Verde, Angola, São Tomé e Príncipe e Moçambique e segundo António Brochado Correia a "escassez" de recursos humanos obrigou a "pensar em novas alternativas", começando pelo arquipélago cabo-verdiano, onde a consultora tem escritório desde 1995, essencialmente na área da auditoria e fiscalidade.
"E achámos que Cabo Verde podia - porque tem talento, tem pessoas, tem uma universidade que gera alguns milhares de alunos todos os anos - ser mais um 'hub' que nós podíamos ter para conseguir colmatar as dificuldades de talento que nós temos em Portugal", disse, garantindo tratar-se do primeiro centro tecnológico que a PwC Portugal instala fora do país.
"Está previsto que inicie em setembro e, portanto, a nossa previsão é que em 2023, daqui por um ano, a gente possa ter 150 pessoas. É isso que nós esperamos. É isso que nós gostaríamos", apontou o líder da consultora, que para materializar o projeto assinou na terça-feira, na Praia, um memorando de entendimento com o Governo cabo-verdiano.
Recordou que Cabo Verde, além da aposta nacional - com vários investimentos estruturantes em curso - nas novas tecnologias nos últimos anos, forma milhares de alunos em várias áreas todos os anos: "Então, nós também temos de ir ao encontro deles e, portanto, essa é a nossa necessidade específica de talento. Sentimos que Cabo Verde tem condições boas, tem uma boa universidade, tem um bom ensino, tem um nível cultural que nos agrada".
A escolha para começar esta expansão em Cabo Verde resultou também do conhecimento do arquipélago, do "diálogo permanente com as autoridades", com o Governo e com as universidades.
"E aí eu acho que a PwC e as empresas portuguesas de uma forma geral, têm um benefício em estar mais próximo das comunidades que falam português em África e uma obrigação de estar mais próximo dessas comunidades, ajudando-as também a progredir dentro daquilo que sejam as nossas capacidades", frisou.
Em Cabo Verde, a PwC espera encontrar "talento" e "dar formação", numa vertente "que vai muito para além daquilo que é só a educação técnica", mas "também humana e de uma experiência, de uma forma de estar no mundo".
O responsável explicou tratar-se de um investimento "essencialmente" em capital humano, para formar o centro tecnológico da PwC em Cabo Verde.
"Estes recursos vão estar formados em Cabo Verde. A partir de Cabo Verde podem estar a trabalhar para uma empresa nos Estados Unidos ou no Canadá, no Reino Unido, na Alemanha ou em Portugal ou em Cabo Verde. Mas nós não estamos à espera que estes 150 trabalhem para Cabo Verde, que não há mercado suficiente provavelmente em Cabo Verde", apontou.
"Estamos à espera que eles sejam formados, treinados e certificados para trabalhar para qualquer parte do mundo, podendo eles próprios, mais cedo ou mais tarde, escolher outra via fora da PwC. E estão formados naquilo que há de melhor que é hoje a tecnologia e o digital que serve todo o mundo", acrescentou.
De acordo com António Brochado Correia, a PwC, globalmente, "definiu que quer estar presente de uma forma significativa" em "três ou quatro" das "principais plataformas internacionais tecnológicas", com centenas de quadros a trabalharem remotamente em soluções avançadas, caminho que Portugal e esta expansão em Cabo Verde ajuda a concretizar, mas também com novas unidades em Portugal, próximas dos grandes centros universitários.
"Criar mais unidades noutras geografias que não Lisboa e Porto. Já estamos em Coimbra, mas queremos criar mais porque sentimos que o talento já não vem só para Lisboa e Porto", vincou.