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IA: Hospitais privados investem "milhões todos os anos" confiantes nos benefícios para a saúde

Especialistas na área da saúde não têm dúvidas de que o recurso à inteligência artificial vai permitir melhorar a capacidade de prevenção, diagnóstico e tratamento, apesar dos desafios, incluindo até de natureza ética.

07 de Novembro de 2024 às 18:30
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Grupos de clínicas e hospitais privados, como a Luz, Lusíadas ou CUF, têm estado a investir "muito milhões" em tecnologias, como as ligadas à inteligência artificial, por considerarem que vão trazer ganhos aos cuidados de saúde, desde a prevenção ao tratamento.

"A IA é uma força disruptiva em qualquer setor da economia e a saúde não é exceção. Estamos a investir muitos milhões todos os anos nestas áreas", afirmou a CEO da Luz Saúde, Isabel Vaz, durante o painel "Dos dados à saúde do futuro", inserido na conferência "O Poder de Fazer Acontecer 2.0" do Negócios, que decorre nesta quinta-feira, em Lisboa, dedicada aos desafios da inteligência artificial.

E esse investimento não é apenas na tecnologia, mas "também nas pessoas", porque esta "poderosa ferramenta" vai precisar de quem "valide modelos". "É um esforço grande para o qual se tem de olhar", mas "nós, em Portugal ainda estamos a discutir se vamos reduzir impostos para as empresas que vão ter de gastar centenas de milhões neste processo de transformação", lamentou.

Rui Diniz, presidente da comissão executiva da CUF, também destacou que tem ser posta a tónica "nos ganhos em saúde" apesar de "o ganho ser só no futuro".

Vasco Antunes Pereira, CEO do Grupo Lusíadas Saúde, subscreveu, apontando que "as entidades que estão a pôr dinheiro à frente num investimento que tem custo-oportunidade". E foi mais longe ao antecipar que, no futuro, "este processo vai ser liderado pelo utilizador final, pelo paciente, que à medida que conhece esta ajuda ao diagnóstico, esta copilotagem da IA com os profissionais de saúde, a vai exigir".

Pode isso traduzir-se num aumento de custos para o doente? Vasco Antunes Pereira concede que "de facto o acto é mais caro", pelo que, no imediato, há um desafio, mas ressalva que o cenário muda de figura se visto a partir de um prisma mais holístico. Pegando no exemplo, dado durante conversa relativo à descoberta, com recurso a estas tecnologias, de um nódulo no pulmão antes do olhar humano, apontou que traduzir-se-ia num "custo menor". "Este investimento cria sustentabilidade no sistema".

O CEO do Grupo Lusíadas Saúde também observa que a aplicação prática destas tecnologias vai requerer "um reskilling muito grande nos hospitais" e até "mudança de mentalidades".

"É difícil a um profissional de saúde manter-se atualizado com esta imensidão de informação que existe. Antigamente havia três ou quatro grandes preocupações, livros nos consultório - isto não existe. A produção científica é muito mais rápida". E, neste sentido, a máquina pode ajudar ao dar "estatisticamente" o "outcome de determinada abordagem".

"É preciso saber o que a IA entrega e não entregar. Ter a IA numa reunião multidisciplinar é uma mais-valia", mas para "lidar com esta tecnologia é necessário adaptação e reskilling", reforçou.

Isabel Vaz concordou que há "reskilling" a fazer, "nomeadamente para os médicos compreenderem a potencialidade", mas deixou claro que "têm de ser conservadores". "Não são contra a inovação, mas ninguém gosta de caixas pretas", sublinhou.

Rui Diniz também tocou na "prudência" como aspeto fundamental na abordagem às novas tecnologias, até porque "há um conjunto enorme de trabalho que tem de ser feito" antes da aplicação propriamente dita, que tem um caráter "permanente". "Temos de ter a casa arrumada, com dados e fichas de clientes organizados", enfatizou o responsável da CUF.

Há, no entanto, "desafios importantes" associados, inclusive de "natureza ética", razão pela qual, explicou, a CUF foi buscar pessoas da área da IA.

Carlos Alcobia, fundador e CEO da Sensing Future Technologies, confirma que sente uma maior procura pelo trabalho que a sua empresa, focada no desenvolvimento de dispositivos médicos tecnológicos, leva a cabo, mas também "alguns bloqueios" e diferentes velocidades designadamente ao nível do uso de inteligência artificial generativa. "É preciso que haja dados com qualidade e há ainda caminho a percorrer".

A expectativa - diz - é que a IA venha "ajudar o ser humano" e "aumentar as suas competências também".

Marta Passadouro, atual representante portuguesa do Ecossistema da EIT Health Innostars, que coordena o ecossistema nacional de parceiros da EIT Health, concorda que mesmo no seio da Europa há "diferentes velocidades", mas saúda que haja um "crescimento" do interesse por parte dos hospitais.

"Há vontade de apostar na inovação e estão muito mais abertos em receber empresas, porque é diferenciador e torna-os mais competentes e competitivos", indica, dando conta de um projeto que passa por ter, de "forma mais estruturada", espécies de "vias verdes" para empresas fazerem pilotos dentro dos hospitais em áreas como a robótica ou a inteligência artificial.

Perspetivando o futuro, Marta Passadouro considera que com as novas ferramentas "podemos apostar muito mais na prevenção, na etapa inicial da terapêutica e humanizar mais, ao contrário do que as pessoas pensam, porque o profissional tem mais tempo para as pessoas".

Já Rui Diniz espera que criem "um sistema mais eficaz e e eficiente", subscrevendo a ideia que, apesar de toda essa componente tecnológica, pode "ser mais empático", permitindo aos profissionais de saúde terem "mais tempo" nomeadamente para ouvir.

"Vai haver uma evolução enorme os cuidados de saúde primários", vaticinou Vasco Antunes Pereira, para quem a inteligência artificial generativa irá permitir "a personalização".

Isabel Vaz também acredita que vai "melhorar a capacidade de prevenção, diagnóstico e tratamento". "Vejo o setor a evolir de forma magnífica".



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