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Moody’s: Banca portuguesa tem de melhorar qualidade dos ativos e reduzir rede de agências

Os bancos portugueses estão no bom caminho, mas devem continuar a melhorar a qualidade dos ativos e reforçar os esforços de reestruturação, nomeadamente em termos da redução da rede de agências, indicaram à Lusa especialistas da Moody's.

Bloomberg
15 de Fevereiro de 2019 às 07:40
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"Os bancos portugueses foram alvo de uma grande reestruturação nos últimos anos e estão no bom caminho, o que não quer dizer que não haja desafios ou ameaças", afirmou Alberto Postigo, vice-presidente e 'senior credit officer' da Moody's para a banca, em entrevista à agência Lusa, à margem da conferência anual da Moody's sobre as tendências creditícias europeias, que decorreu na quinta-feira, em Lisboa.

 

"O nosso cenário base é que o sistema financeiro português continue a melhorar. Contudo, ainda existem desafios em termos da qualidade dos ativos. O sistema bancário português está a melhorar, mas a exposição a ativos problemáticos ainda é muito elevada, uma das mais elevadas em termos europeus", frisou Alberto Postiga.

 

Neste sentido, Alberto Postiga referiu que os investidores são mais sensíveis em relação aos bancos portugueses, razão pela qual quando há mudanças no sentimento dos mercados, as condições ainda ficam mais apertadas para as instituições lusas, comparativamente com outros congéneres europeus. "Isto significa que estão mais expostos a choques nos mercados", alertou.

 

Para Alberto Postiga, se os bancos prosseguirem com os planos estratégicos, "reduzindo a exposição a ativos problemáticos, isso traduz-se imediatamente na melhoria da rentabilidade porque o problema dos ativos pesa na rentabilidade e também consomem capital". "Se os bancos portugueses mantiverem o caminho e cumprirem as metas dos seus planos estratégicos, que é o que consideramos no nosso cenário base, isso traduzir-se-á num sistema bancário mais forte", concluiu o especialista.

 

Maria Cabanyes, 'senior vice president' da Moody's para a banca, indicou, por seu turno, que "o reforço da capacidade de absorção de riscos por parte dos bancos", intensificando a almofada financeira em comparação com os ativos problemáticos, resultará numa avaliação mais positiva por parte da agência de 'rating'.

 

De acordo com a responsável, "também os esforços de reestruturação que os bancos estão a fazer em termos de despesas operacionais permitem ganhos de eficiência".

 

"Os bancos estão a embarcar nestes planos de reestruturação, fechando sucursais que são dispendiosas, reduzindo o número de colaboradores, etc. Os ganhos de eficiência são um foco em todos os bancos europeus devido aos modestos níveis de rentabilidade, em comparação com outros sistemas bancários, e também é um foco para os bancos portugueses", frisou Maria Cabanyes.

 

Um outro alerta desta especialista da Moody's é no sentido dos investimentos necessários pelos bancos portugueses para enfrentarem as 'fintech', no âmbito do trabalho quer em relação aos produtos quer na própria relação com os investidores. "Isto vai exigir investimentos importantes, que trarão ganhos de eficiência no longo prazo, mas no curto prazo vai exigir investimentos iniciais algumas vezes com perspetivas incertas", frisou.

 

Alberto Postiga acrescentou que para conseguir ganhos de eficiência, o caminho é "a redução da rede de agências, porque os bancos digitais operam com redes mais reduzidas", algo já muito visível nos países do norte da Europa e nos países do Benelux.

 

"A digitalização oferece uma clara e uma boa oportunidade para os bancos aumentarem a sua eficiência. Portugal ainda opera com uma rede relativamente grande de agências, acima da média europeia o que pode ser visto como uma fraqueza, mas o que também oferece uma oportunidade para os bancos portugueses se tornarem mais eficientes na oferta de serviços digitais e na redução da rede de agências", indicou o especialista, acrescentando que esta é, de resto, uma tendência que já se verifica desde 2011, com a redução da rede de agências dos bancos portugueses e o aumento do número dos utilizadores de serviços da banca online.

 

Relativamente ao impacto do 'Brexit' no sistema financeiro português, os peritos da Moody's consideram que os bancos portugueses não são dos mais expostos aos potenciais impactos.

 

"O nosso cenário base é que vai haver um acordo, contudo a probabilidade de um 'Brexit' sem acordo aumentou, o que significaria um ambiente operacional muito mais fraco para os bancos britânicos, pressões nos volumes de negócios, na rentabilidade, na qualidade dos ativos. Contudo, ao contrário dos sistemas financeiros de outros países, os bancos portugueses não têm posições em bancos britânicos", afirmou Maria Cabanyes.

 

"Os bancos portugueses não estão particularmente expostos. A diferença em Espanha é que temos uma sucursal britânica do Santander e do Sabadell, mas isto não se verifica em relação a Portugal", afirmou Alberto Postiga. "Os bancos portugueses estão mais protegidos", frisou Maria Cabanyes.

 

Relativamente às condições de crédito no curto prazo, Maria Cabanyes antecipou que "as condições de crédito serão piores em 2019 do que em 2018 e serão ainda mais fracas em 2020".

 

"Em termos de rentabilidade, existe pressão sobre as margens de juros líquidos devido ao ambiente de taxas de juro extremamente baixas. Os bancos portugueses estão realmente expostos a empréstimos com taxa variável. Assim beneficiarão de uma subida dos juros quando ocorrer", indicou, por seu turno Alberto Postigo, acrescentando que antecipa que o custo do crédito desça, nomeadamente devido à melhoria da qualidade da qualidade dos ativos.

 

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