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Fitch: Escândalos financeiros reduzem "apetite" de bancos portugueses por Angola
"Uma vaga de investigações sobre lavagem de dinheiro a cidadãos angolanos de grande visibilidade com contas em bancos portugueses está a reduzir o apetite de alguns bancos portugueses em criar laços com Angola", defende a Fitch.
A Fitch Ratings prevê que os bancos portugueses reduzam a exposição a bancos angolanos. A desincentivar o investimento no país africano estão, por exemplo, as suspeitas de branqueamento de capitais que recaem sobre cidadãos de relevo em Angola, diz a Fitch, depois de os investimentos da filha do ex-presidente angolano, Isabel dos Santos, terem sido escrutinados publicamente através da investigação Luanda Leaks.
"Uma vaga de investigações sobre lavagem de dinheiro a cidadãos angolanos de grande visibilidade com contas em bancos portugueses está a reduzir o apetite de alguns bancos portugueses em criar laços com Angola", escreve a Fitch numa nota. Entre os cidadãos que recentemente viram as respetivas contas congeladas devido à investigação de irregularidades, a agência de notação financeira nomeia Isabel dos Santos.
O caso Luanda Leaks, do qual Isabel dos Santos é protagonista, refere-se a esquemas utilizados pela empresária para o seu enriquecimento e levanta dúvidas sobre a legalidade de algumas das operações financeiras que a empresária levou a cabo.
A exposição da banca portuguesa aos bancos em Angola caiu para 0,7% no final de 2018, que compara com os 2% registados no final de 2014. Uma maior redução seria, inclusivamente, positiva para a notação financeira dos bancos portugueses, tendo em conta o fraco ambiente operacional e as deficiências de governança em Angola, continua a Fitch.
A agência de notação financeira aponta ainda riscos relacionados com imparidades para a banca portuguesa, decorrentes da exposição destes bancos a Isabel dos Santos, mas ressalva que esta exposição "parece gerível na sua dimensão".
As empresas de Isabel dos Santos têm créditos de 570 milhões de euros junto da banca portuguesa e o Banco de Portugal pediu às entidades que atualizem estes valores, de modo a que não haja surpresas, avançou o Expresso este fim-de-semana.
Nos cálculos da Fitch, as operações com Angola contribuem com menos de 100 milhões de euros para as receitas anuais dos seis maiores bancos portugueses, embora em 2013 e 2014 tenham rendido mais de 230 milhões de euros aos mesmos seis bancos. A queda dos preços do petróleo "desmascarou" fragilidades em Angola e ditou o desinvestimento a partir de então. Hoje, a verdadeira ‘vítima’ de uma redução na exposição será a banca angolana, preveem estes analistas.