Notícia
Crédito Agrícola: "Não podemos sair desta crise criando uma crise bancária"
O presidente da Caixa Central de Crédito Agrícola disse hoje que a atual crise não pode criar uma crise bancária, defendendo flexibilidade dos reguladores face ao eventual aumento do crédito malparado, e admitiu mais fusões de caixas agrícolas.
20 de Abril de 2020 às 21:45
No encontro 'online' designado 'Banca: Boa oportunidade, má oportunidade?', organizado pelo ISCTE - Instituto Universitário de Lisboa, Licínio Pina afirmou que desde início da crise os decisores políticos falaram da responsabilidade dos bancos - de que foram ajudados na crise passada (nomeadamente em 2010-2012) pelo que têm de ajudar agora nesta -, considerando que o sistema bancário tem uma "oportunidade enorme de dar a perceber ao mercado a sua função redistributiva da economia". Contudo, acrescentou, isso "tem de ser bem feito".
"Nós não podemos sair desta crise criando a seguir uma crise bancária. Temos de ter engenho e arte suficiente e ser apoiados pelo regulador de modo a que, se eventualmente o crédito malparado subir, não seja nenhum drama para qualquer regulador", afirmou.
Além de os reguladores serem flexíveis com aumento de malparado, Licínio Pina defendeu que também devem dar tempo para o ajustamento, para que não tenha de ser demasiado rápido.
"É necessário uma conjugação de esforços - do sistema financeiro, do regulador, dos políticos - para que o sistema bancário saia da covid-19 com uma melhoraria da sua reputação", acrescentou.
O presidente do grupo Crédito Agrícola considerou, por outro lado, que também os bancos devem ser flexíveis na análise de risco do crédito para que negócios em grandes dificuldades possam ter apoios para continuar.
Sobre as linhas de crédito para empresas com garantia de Estado (em 90%), admitiu demora para o dinheiro chegar às empresas, justificando com a burocracia do sistema criado.
"Temos vindo a dar uma resposta atempada dentro possível porque há problemas... É preciso reconhecimento de assinaturas, mas os notários estão fechados, depois há documentos que os clientes não conseguem obter, depois há outra entidade que tem de aprovar o crédito, não só o Crédito Agrícola, que é a sociedade garantia mútua. Criou-se um sistema demasiado burocrático, são demasiadas entidades para aprovação de um crédito que às vezes é tão necessário porque a empresa está sem fundo de maneio e não pode fazer face às responsabilidades salariais que tem", afirmou.
Já sobre a garantia de Estado cobrir 90% do crédito considerou "positiva, mas que não poderá ser aplicada transversalmente" a todos os clientes, deixando a ideia -- mas sem especificar - de que devia haver outras garantias aos bancos na concessão de crédito.
"Se emprestarmos um milhão de euros a uma empresa com garantia do Estado 90%, há 10% que ficam de fora. Se esse crédito correr mal, para esse crédito ser recuperado o banco tem de emprestar 10 milhões de euros para o nível de taxas atuais", estimou.
Quanto ao grupo que lidera, disse que o Crédito Agrícola está preparado para esta crise, tendo em conta os capitais próprios (rácio CET1 de 16% em 2019) e a liquidez (rácio de transformação de 66,9% em 2019), e que de momento tem centenas de trabalhadores em teletrabalho e medidas de proteção para os que continuam a atender aos balcões.
Afirmou ainda que o banco reforçou as suas caixas automáticas para que não houvesse disrupções na disponibilidade de dinheiro.
"Uma das preocupações do regulador foi que não deixássemos esgotar dinheiro nas 1.400 ATM [caixas automáticas] espalhadas pelo país, em locais que não há mais nada. Tivemos de aumentar seguros, as condições de segurança para que pessoas pudessem continuar a ter prestação de serviços bancários", afirmou.
Já quanto aos impactos desta crise no setor, nomeadamente num eventual movimento de consolidação bancária, indicou que no caso do grupo que lidera "esta crise pode acelerar ainda mais a consolidação de caixas agrícolas".
O grupo Crédito Agrícola é composto pelas Caixas de Crédito Agrícola Mútuo, a Caixa Central e as empresas que detém, como seguradoras.
No ano passado, registou um lucro de 131,5 milhões de euros, uma subida de 17% face ao ano anterior.
No final de 2019, tinha 4.194 trabalhadores, menos 127 do que em 2018, e 653 agências, menos quatro do que em 2018.
Nos últimos anos, o banco tem feito a fusão de várias caixas, justificando com a necessidade de reduzir custos e melhorar a eficiência e também com as novas exigências regulamentares, referindo que as mais pequenas têm de se fundir para criar escala e cumprir a regulamentação.
Em 2018, Licínio Pina disse em conferência de imprensa que tinham previsto fundir 20 caixas em dois anos, passando de 80 para 60.
"Nós não podemos sair desta crise criando a seguir uma crise bancária. Temos de ter engenho e arte suficiente e ser apoiados pelo regulador de modo a que, se eventualmente o crédito malparado subir, não seja nenhum drama para qualquer regulador", afirmou.
"É necessário uma conjugação de esforços - do sistema financeiro, do regulador, dos políticos - para que o sistema bancário saia da covid-19 com uma melhoraria da sua reputação", acrescentou.
O presidente do grupo Crédito Agrícola considerou, por outro lado, que também os bancos devem ser flexíveis na análise de risco do crédito para que negócios em grandes dificuldades possam ter apoios para continuar.
Sobre as linhas de crédito para empresas com garantia de Estado (em 90%), admitiu demora para o dinheiro chegar às empresas, justificando com a burocracia do sistema criado.
"Temos vindo a dar uma resposta atempada dentro possível porque há problemas... É preciso reconhecimento de assinaturas, mas os notários estão fechados, depois há documentos que os clientes não conseguem obter, depois há outra entidade que tem de aprovar o crédito, não só o Crédito Agrícola, que é a sociedade garantia mútua. Criou-se um sistema demasiado burocrático, são demasiadas entidades para aprovação de um crédito que às vezes é tão necessário porque a empresa está sem fundo de maneio e não pode fazer face às responsabilidades salariais que tem", afirmou.
Já sobre a garantia de Estado cobrir 90% do crédito considerou "positiva, mas que não poderá ser aplicada transversalmente" a todos os clientes, deixando a ideia -- mas sem especificar - de que devia haver outras garantias aos bancos na concessão de crédito.
"Se emprestarmos um milhão de euros a uma empresa com garantia do Estado 90%, há 10% que ficam de fora. Se esse crédito correr mal, para esse crédito ser recuperado o banco tem de emprestar 10 milhões de euros para o nível de taxas atuais", estimou.
Quanto ao grupo que lidera, disse que o Crédito Agrícola está preparado para esta crise, tendo em conta os capitais próprios (rácio CET1 de 16% em 2019) e a liquidez (rácio de transformação de 66,9% em 2019), e que de momento tem centenas de trabalhadores em teletrabalho e medidas de proteção para os que continuam a atender aos balcões.
Afirmou ainda que o banco reforçou as suas caixas automáticas para que não houvesse disrupções na disponibilidade de dinheiro.
"Uma das preocupações do regulador foi que não deixássemos esgotar dinheiro nas 1.400 ATM [caixas automáticas] espalhadas pelo país, em locais que não há mais nada. Tivemos de aumentar seguros, as condições de segurança para que pessoas pudessem continuar a ter prestação de serviços bancários", afirmou.
Já quanto aos impactos desta crise no setor, nomeadamente num eventual movimento de consolidação bancária, indicou que no caso do grupo que lidera "esta crise pode acelerar ainda mais a consolidação de caixas agrícolas".
O grupo Crédito Agrícola é composto pelas Caixas de Crédito Agrícola Mútuo, a Caixa Central e as empresas que detém, como seguradoras.
No ano passado, registou um lucro de 131,5 milhões de euros, uma subida de 17% face ao ano anterior.
No final de 2019, tinha 4.194 trabalhadores, menos 127 do que em 2018, e 653 agências, menos quatro do que em 2018.
Nos últimos anos, o banco tem feito a fusão de várias caixas, justificando com a necessidade de reduzir custos e melhorar a eficiência e também com as novas exigências regulamentares, referindo que as mais pequenas têm de se fundir para criar escala e cumprir a regulamentação.
Em 2018, Licínio Pina disse em conferência de imprensa que tinham previsto fundir 20 caixas em dois anos, passando de 80 para 60.