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Powell vê alívio da inflação no primeiro semestre de 2022. Yellen apela a aumento ou suspensão do teto da dívida

Powell e Yellen foram hoje ouvidos pela comissão dos serviços financeiros da Câmara dos Representantes. O presidente da Fed previu algum alívio da inflação no primeiro semestre do próximo ano e a secretária do Tesouro voltou a chamar a atenção para a necessidade de aumentar ou suspender o teto da dívida.

Bloomberg
30 de Setembro de 2021 às 19:25
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O presidente da Fed, Jerome Powell, e a secretária norte-americana do Tesouro, Janet Yellen, estiveram hoje a perante a comissão dos serviços financeiros da Câmara dos Representantes para falarem sobre a resposta à covid-19 no país. Isto depois de na terça-feira terem tido uma audição no mesmo sentido junto da comissão bancária do Senado.

 

Powell, uma vez mais, abordou a questão do aumento dos preços no consumidor, dizendo esperar algum alívio da inflação no primeiro semestre de 2022. O líder do banco central dos EUA referiu também que a atual inflação elevada resulta das perturbações nas cadeias de fornecimento.

 

Jerome Powell tem abordado sistematicamente este tema, tendo ontem, no encerramento do Fórum do BCE sobre política monetária pós-covid, voltado a dizer que a inflação elevada da era pandémica é apenas "transitória". "O atual aumento da inflação não conduzirá a um novo regime de inflação em que esta se manterá alta ano após ano", afirmou.

 

Em junho e julho, o índice de preços no consumidor manteve-se em máximos de 13 anos nos EUA, tendo depois desacelerado em agosto. Se este período de inflação alta durar tempo suficiente para levar as pessoas a repensarem os seus gastos, então a Fed terá de ficar mais atenta, mas, até agora, esse não é o caso, segundo Powell.

 

Tanto Powell como Yellen reconheceram ontem que a inflação nos EUA vai durar "mais do que esperado" e hoje o presidente da Fed reafirmou essa ideia, dizendo que as disrupções nas cadeias de abastecimento levarão a que a inflação permaneça elevada durante mais tempo do que inicialmente se antecipou, mas prevendo "algum alívio" nos primeiros seis meses do próximo ano.

 

Numa outra abordagem, o presidente da Reserva Federal declarou que a Fed não planeia proibir o uso de criptomoedas nos EUA, o que levou a bitcoin a subir 4,5%. Além disso, Powell sublinhou que uma moeda digital do banco central poderia substituir alguma da utilização de "moedas estáveis" (stable coins) e criptomoedas, mas que não as substituiria por completo.

 

As "moedas estáveis", recorde-se, diferenciam-se de outras criptomoedas pelo facto de estarem endossadas a algum tipo de ativo com um valor estável – como o euro, o dólar ou uma matéria-prima – que lhe garanta a estabilidade no preço.

 

No entanto, Powell mostrou-se a favor de regular as "moedas estáveis", considerando ser o mais "apropriado" pelo facto de estarem a fazer o mesmo trabalho que outros ativos que são regulados.

 

Yellen regressa ao teto da dívida

 

Já Yellen voltou a falar no limite da dívida, tendo uma vez mais advertido para a possibilidade de o governo federal poderá ficar sem dinheiro a partir de 18 de outubro se o Congresso não agir no sentido de aumentar ou suspender o teto de endividamento dos EUA.

 

A secretária do Tesouro mostrou-se a favor de uma abolição do limite ao endividamente federal, considerando a existência deste teto uma ameaça "muito destrutiva" à "cláusula de fé plena e crédito" dos Estados Unidos – que descreve a garantia ou compromisso incondicional de um país perante o reembolso de uma dívida.

 

No seu testemunho, Yellen argumentou que não faz sentido limitar a capacidade do Departamento do Tesouro – de pagamento de contas que já foram aprovadas pelo Congresso e pelo presidente – através de um teto arbitrário à quantidade de dívida que pode ser emitida.

 

"Se, para financiar as decisões já tomadas em matéria fiscal e de gastos, for necessário emitir dívida adicional, acredito que é muito destrutivo (…) quando nos vemos incapazes de pagar contas que resultam dessas decisões", declarou, citada pelo The Hill.

 

Este novo apelo de Yellen para abolir o limite ao endividamento ocorre a cerca de três semanas de o Departamento do Tesouro ficar sem dinheiro e sem possibilidade de aplicar medidas extraordinárias para evitar um incumprimento no reembolso da dívida federal.

 

Os republicanos bloquearam no início da semana uma proposta de lei que visava aumentar o teto da dívida, apesar de esse mesmo limite ter sido suspenso por três vezes durante o mandado do ex-presidente Donald Trump. Os republicanos insistem que os democratas devem fazê-lo através do processo de reconciliação orçamental. Enquanto isso, os democratas apontam o dedo aos republicanos por se recusarem a apoiar uma medida que permitiria ao Tesouro pagar a dívida acumulada ao longo de várias décadas sob a batuta de ambos os partidos.

 

Além do reembolso da dívida, se o limite ao endividamento não for suspenso ou aumentado, Yellen lembrou que muitos benefícios sociais não poderão ser pagos e que os militares não receberão salários.

 

Recorde-se que os republicanos do Senado bloquearam na segunda-feira uma proposta que já tinha sido aprovada na Câmara dos Representantes e que visava financiar o governo federal e suspender o teto da dívida. Com a proposta pretendia-se assim evitar um "shutdown" do governo federal e um potencial incumprimento no reembolso da dívida dos EUA.

 

Este chumbo deu-se depois de os republicanos terem insistido para que os democratas apresentassem uma proposta isolada sobre a questão do limite ao endividamento, o que deixa agora o Congresso sem um plano claro para manter o governo em funcionamento a partir de amanhã.

 

Este dia 30 de setembro é a data em que o financiamento atual do governo expira, devendo supostamente entrar em vigor amanhã o orçamento de 2022. Assim, os congressistas norte-americanos terão de tentar aprovar uma proposta de lei até hoje ao final do dia para se evitar uma paralisação dos serviços públicos federais a partir de meados de outubro (quando "acaba" o dinheiro disponível), e será preciso suspender ou aumentar o limite de endividamento do país nas próximas semanas para impedir um "default".

 

A CNN aponta para a possibilidade de os democratas decidirem retirar, da proposta de financiamento federal, o tema da suspensão do teto de endividamento, tentando, em vez disso, fazer aprovar – como já aconteceu outras vezes – o  projeto provisório que permite que as agências federais dos EUA possam continuar a ser financiadas. Esta medida legislativa é conhecida como resolução de continuidade. Enquanto não há acordo final para o orçamento federal, o "shutdown" é assim evitado através desta solução de financiamento de curto prazo ["stopgap spending bill"].

 

A stopgap bill que a Câmara dos Representantes aprovou na semana passada permitiria financiar e manter o governo "aberto" até ao próximo dia 3 de dezembro. Além disso, a medida incluía uma suspensão do teto da dívida até 16 de dezembro de 2022.

 

Yellen recordou, na audição de hoje, que o teto da dívida já foi elevado ou suspenso 78 vezes desde 1960, quase sempre numa base bipartidária.

 

Powell apoiou Yellen, tendo dito que o Congresso deve elevar o limite de envidivamento para evitar impactos potencialmente severos na economia.

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