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Ex-aliada compara Bolsonaro a Estaline e teme pela "verdadeira direita"

A deputada do Partido Social Liberal, Janaina Paschoal, compara, em entrevista, Jair Bolsonaro ao ditador soviético Estaline, afirmando que o bolsonarismo pode "manchar a honra e a credibilidade da verdadeira direita". Apontada no partido como sucessora de Bolsonaro na próxima corrida presidencial diz que anda "intrigada com a crescente semelhança entre petistas e bolsonaristas"

Reuters
17 de Maio de 2020 às 10:29
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Em entrevista à agência Lusa, a advogada e professora Janaina Paschoal, deputada mais votada na história do país no sufrágio de 2018, elegeu-se pelo PSL, a anterior formação política de Jair Bolsonaro, mas teme que o fenómeno 'bolsonarista' prejudique a direita do país.

"Sinto que esse fiasco ‘bolsonarista’ pode manchar a honra e a credibilidade da verdadeira direita. Eles [apoiantes de Bolsonaro] são muito mais parecidos com a esquerda do que com uma verdadeira direita. Bolsonaro lembra-me Estaline. Já na convenção do PSL, eu avisei que ‘bolsonaristas’ poderiam ser 'petistas' [do Partido dos Trabalhadores] com sinal trocado", afirmou a deputada, sem aprofundar as comparações com o ditador soviético.

Janaina Paschoal ganhou notoriedade no Brasil após ter sido umas das autoras do pedido de destituição (‘impeachment’) contra a ex-Presidente Dilma Rousseff (PT), afastada do cargo em 2016, após o congresso ter concluído que cometeu crime de responsabilidade, por alegada falsificação das contas públicas.

Atualmente, e após um grande sucesso nas eleições de 2018, o nome da deputada é apontado por outros parlamentares do PSL como a principal aposta para a sucessão de Bolsonaro na corrida presidencial, em 2022. Questionada sobre o que a levou a entrar em rutura com o atual chefe de Estado, Janaina apontou o momento em que começaram a surgir acusações contra os filhos do Presidente, contrariando tudo aquilo por que sempre lutou.

"Um ano antes das eleições, eu jamais me imaginaria a votar em Bolsonaro. Nós, que acompanhamos e denunciamos os graves crimes do PT, ficamos sem alternativa. Era necessário apoiar a alternativa à quadrilha conhecida e, com chances reais de vitória, só havia Bolsonaro", disse a deputada, numa entrevista concedida por ‘e-mail’ à Lusa.

"Ademais, deve-se lembrar que, antes da eleição, ninguém sabia das acusações que viriam a pesar sobre o seu filho Flávio Bolsonaro. Então, Bolsonaro era visto como o único capaz de enfrentar um sistema completamente corrompido. Eu já não concordava com o estilo Bolsonaro de ser, mas quando as acusações contra Flávio surgiram, comecei a duvidar da veracidade do que fora anunciado durante a campanha", justificou.

O senador Flávio Bolsonaro, filho mais velho do Presidente, é investigado desde janeiro do ano passado pela alegada prática de crimes de peculato e branqueamento de capitais no seu gabinete na Assembleia Legislativa do estado do Rio de Janeiro. A investigação do Ministério Público do Rio de Janeiro apura um esquema de "rachadinha" - prática em que funcionários devolvem parte dos seus salários pagos pelo estado a quem os contrata -, quando Flávio Bolsonaro ainda era deputado estadual, com base em relatórios de inteligência financeira.

Janaina frisou que apenas votou em Bolsonaro por falta de uma outra opção que considerasse viável para o futuro no país: "Sinto a falta de preparo de Bolsonaro e do grupo que o cerca, mas eu não tinha alternativa, jamais votaria no PT, eles não me enganam. Nada pode ser pior que o PT".

Na realidade, uma grande parte dos eleitores de Bolsonaro seguiram a lógica de Janaina, de não quererem novamente o PT no poder, devido aos esquemas de corrupção que mancharam o histórico do partido, e que acabaram por elevar o atual chefe de Estado ao estatuto de única figura capaz de romper com esses crimes económicos.

Porém, no seu quase ano e meio de mandato, Bolsonaro acumula já cerca de 30 pedidos de destituição, justificados por alegada prática de crimes de responsabilidade, atentados à saúde pública no combate à pandemia da covid-19, entre outros.

Janaina Paschoal, que foi das vozes mais ativas durante todo o processo de destituição de Dilma Rousseff, confessou à Lusa sentir-se "insegura" em tomar qualquer providência para tirar Bolsonaro do poder, por temer "aqueles que serão beneficiados pelo afastamento" do atual Presidente.

"O comportamento de Bolsonaro desagrada-me muito. Eu venho sendo muito crítica aos erros do Governo desde o princípio, tanto é assim, que sou mais atacada pelos ‘bolsonaristas’ do que pelos próprios ‘petistas’. Aliás, ando intrigada com a crescente semelhança entre ‘petistas’ e ‘bolsonaristas’", assumiu.

"Apesar de ser muito atacada por eles e de entender que esse comportamento estranho está a prejudicar o país, confesso ter ainda insegurança em tomar qualquer providência para retirá-los do poder. A nossa situação não é simples. Não sabemos bem como pensa o vice-Presidente [Hamilton Mourão]. Ainda estou a observar melhor todo o nosso contexto", avaliou a deputada de São Paulo.

Contudo, Janaina não tem dúvidas em afirmar que os danos causados pelo Partido dos Trabalhadores, que esteve no poder cerca de 14 anos, com Lula da Silva e Dilma Rousseff, foram "muito mais graves" do que os do atual executivo.

"Não há comparação, o 'petismo' desviou milhares de milhões para países governados por ditadores aliados, por meio de empresas escolhidas a dedo, empresas de amigos, que foram muito beneficiadas por contratos públicos superfaturados. As 'pedaladas fiscais' foram o meio que o PT elegeu para esconder os desvios. Sob o aspeto criminal, os crimes do PT foram muito mais graves", advogou.

"Até agora, Bolsonaro peca pelo seu comportamento, não pelos ilícitos típicos da história nacional, ilícitos esses potencializados na era PT a patamares jamais vistos", acrescentou a deputada do PSL, ex-partido do Presidente.

Porém, a política de 45 anos admitiu preferir que o próprio renunciasse ao cargo presidencial. "Não obstante, esse comportamento errático, reiterado, do Presidente, gera muita instabilidade. Eu preferiria que ele saísse, falo isso com pesar, gostaria de poder defendê-lo, mas é muita loucura para um Governo só", avaliou Janaina Paschoal.

O Brasil é o país lusófono mais afetado pela pandemia de covid-19, com mais de 15 mil mortes e mais de 233 mil infeções.
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