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Reuters: Reforma da justiça foi para a troika ver

Vigorosamente elogiada pela troika e em particular pelo FMI, a reforma da justiça levada a cabo pelo anterior Governo tarda, afinal, a mostrar resultados, segundo uma análise feita pela Reuters.

Negócios 22 de Novembro de 2016 às 10:09

O FMI chegou a chamar-lhe "uma das mais bem sucedidas reformas levadas a cabo por Portugal" mas, dois anos volvidos, a reforma do sector da Justiça prometeu muito mais do que está a dar e os processos de execução de dividas continuam a acumular-se. A conclusão é da Reuters, depois de analisar números e falar com alguns agentes económicos e judiciários.

 

Num texto publicado esta terça-feira, 22 de Novembro, diz que os tribunais têm actualmente cerca de 900 mil processos referentes a dívidas e empréstimos por cobrar, no valor várias dezenas de milhares de milhões de euros. Este patamar está aquém do nível máximo alcançado em 2012, mas, segundo os analistas ouvidos pela Reuters, esta queda pouco significado tem.

 

De acordo com os juízes ouvidos, tal deve-se em grande parte ao facto de o Governo de então ter decidido limpar das estatísticas todas as acções executivas mais antigas e com baixa probabilidade de cobrança, como as dividas anteriores a 2003 sem bens para penhorar ou aquelas em que o credor estivesse seis meses sem tomar qualquer iniciativa para recuperar o seu dinheiro.

 

Esta acção decretada em 2013 serviu para mostrar números mais compostos à troika mas, segundo um juízo ouvido pela Reuters, foi rapidamente preenchido por novos casos. Entre os novos processos que dão entrada, estarão muitos em que os credores já sabem que não vão conseguir recuperá-los, mas preferem "estacionar" processos nos tribunais a declara-los como perdidos.

 

"A maioria dos casos termina com a recuperação da dívida zero ... Nesse aspecto, a reforma foi ineficiente e disfuncional", afirmou à Reuters João Raposo, juiz do tribunal distrital de Sintra, perto de Lisboa, que também é vice-presidente da Associação Portuguesa de Juízes.

  

O FMI, que elogiou Portugal, nega à Reuters que a sua análise tivesse sido manifestamente exagerada, dizendo à Reuters que houve u uma queda nos processos de execução pendentes, os julgamentos estão mais rápidos e há aumento nas recuperações de empréstimos através da automatização das penhoras bancárias.

Apesar disso, os juízes garantem que o sistema não teve impacto no volume de dívidas pendentes nos tribunais, com Portugal a continuar a destacar-se entre os parceiros comunitários como o país que mais casos tem.

Do lado dos empresários, o diagnóstico é igualmente pouco animador. Para António Saraiva "a reforma do sistema judicial falhou", uma vez que os credores continuam a ter poucas hipóteses de recuperar o seu dinheiro. "Os atrasos nos tribunais causam constrangimentos insuportáveis para a tesouraria das empresas, criam uma sensação de impunidade e são um dos maiores constrangimentos ao investimento no País", afirma o presidente da CIP.

Virgílio Valadas, director das Construções Monsaraz, é um dos casos que ilustram que o problema persiste: a empresa processou vários dos clientes por dívidas que ascendem a 2 milhões de euros e, embora os tribunais pareçam estar mais rápidos a marcar audiências, "em termos de recuperação de dívidas, não há novidades". Um dos casos está à espera há seis anos.

João Paulo Dias, professor na Universidade de Coimbra corrobora a analise de quem está no terreno: "a natureza da reforma foi cosmética, para mostrar à troika que Portugal estava a actuar", cita a Reuters. 

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