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Centeno: “Portugal tem sido um recetor líquido de diplomados”
Numa conferência em Lisboa, o governador do Banco de Portugal mostrou que há mais licenciados a entrar no mercado de trabalho do que os que saem das universidades portuguesas. Centeno descreveu a "revolução silenciosa" em curso na qualificações dos jovens, mas alertou que há riscos, defendendo uma aposta no pré-escolar e na recuperação de aprendizagens.
Criticando que "o país viva focado numa realidade descrita com números enganadores", o governador do Banco de Portugal (BdP) afirmou que Portugal tem recebido mais imigrantes com ensino superior, que entram no mercado de trabalho, do que perdido.
Na conferência "Educação e Qualificações em Portugal, promovida pelo BdP e que decorre nesta terça-feira, 12 de dezembro, Mário Centeno traçou um retrato do aumento da qualificação no mercado de trabalho português, considerando que essa tem sido a "revolução silenciosa" da economia portuguesa. "Os números são revolucionários, mas como são lentos são pouco notados", afirmou.
Ao mesmo tempo, o governador criticou que a discussão por vezes esteja assente em "números enganadores".
Segundo Centeno, "nos últimos oito anos, a população ativa com formação superior aumentou em média 70 mil indivíduos por ano". Ora, prosseguiu, "das universidades portuguesas, públicas e privadas, saem por ano pouco mais de 50 mil licenciados". E concluiu: "Podemos, por isso, dizer que Portugal tem conseguido ser recetor líquido de diplomados".
O governador apontou ainda dados do Eurostat que, citou, mostram que "a percentagem de jovens portugueses que emigram é inferior - menos de metade - à de países como a Alemanha, a Dinamarca ou os Países Baixos".
Os números apresentados por Centeno questionam, de certa forma, a ideia de que há uma fuga de cérebros em Portugal. "Não é possível fazer e desenhar boas políticas económicas sem bons dados e sem análise económica", defendeu.
Investir no pré-escolar e na recuperação de aprendizagens
Mas antes de deixar este recado, Mário Centeno deu vários números da "revolução silenciosa": jovens entre 20 e 24 anos que entraram no mercado de trabalho com ensino superior aumentaram de 43% em 2000 para 87% em 2023. "Passámos do último lugar na Europa para o topo", disse.
"Este progresso reflete, de forma inequívoca, o impacto das políticas públicas (escolaridade obrigatória, rendimento social de inserção), mas sobretudo, os esforços das famílias portuguesas, que veem finalmente na educação um caminho de esperança para um futuro mais promissor", considerou, acrescentando que a melhoria da situação financeira "não é indiferente". Os jovens com 14 anos com problemas financeiros desceu de 48% em 2011 para 32% em 2019.
Centeno frisou ainda que Portugal deu "passos extraordinários" na taxa de abandono escolar precoce, que caiu de 44% no ano 2000 para 8% em 2023.
Apesar dos números positivos, o antigo ministro das Finanças avisou que a revolução das qualificações "nunca é uma revolução conquistada ou terminada", alertando que "um percalço, um descuido" podem ser suficientes para que "voltem fantasmas do passado", relacionados com a baixa qualificação da população.
"Portugal tem registado avanços impressionantes da escolaridade, mas sabemos que mais educação não significa, por si só, uma educação melhor. O desafio permanente é assegurar que este progresso também ocorra em termos de qualidade", alertou.
Depois, lembrou que os resultados do PISA da OCDE de 2022 (depois da pandemia) mostraram que o desempenho dos alunos portugueses recuou face a 2018, numa dimensão equivalente ao que um aluno tipicamente aprende durante um ano letivo.
Por isso, o ex-ministro das Finanças defendeu que os esforços devem dirigir-se ao pré-escolar - que, quando é de qualidade, traz "benefícios duradouros no mercado de trabalho e até para a saúde" - e para o diagnóstico e recuperação das aprendizagens, em especial das perdas acumuladas durante a pandemia. Não corrigir esse atraso terá impactos significativos para esta geração, alertou.
"A educação é, sem dúvida, o maior investimento que podemos fazer para construir um Portugal mais forte, mais unido e melhor preparado para os desafios do futuro", defendeu Mário Centeno.