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O dia em que a City ouviu slogans contra o capitalismo

As ruas de Londres encheram-se de slogans, de pessoas para os gritar e de polícias para as vigiar. Houve vidros partidos e cabeças rachadas. Protestou-se contra tudo.

02 de Abril de 2009 às 00:05
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As ruas de Londres encheram-se de slogans, de pessoas para os gritar e de polícias para as vigiar. Houve vidros partidos e cabeças rachadas. Protestou-se contra tudo. A City de Londres, ontem, era um bom lugar para coleccionar slogans: "Larguem livros não bombas"; "O fim deles é o nosso princípio". Frases por todo o lado. Nas mãos das pessoas e quando as pessoas foram embora, os slogans continuaram no centro da City.

No chão da Threadneedle Street, entre o Banco de Inglaterra e a Bolsa de Valores: "Queremos o Estado". Nos muros a toda a volta do Banco de Inglaterra, a giz colorido: Construído com sangue". Até no topo das colunas do Banco de Inglaterra porque um mascarado surpreendentemente ágil conseguiu lá subir sem rede nem cabos, como um super-herói. Trepou devagarinho entre a parede e a coluna e os polícias a olhar como se não fosse possível fazê-lo. Porque não é possível alguém ficar seguro entre uma coluna e uma parede só com as pernas e usar as mãos para pôr cartazes a dizer: "Parem de fazer comércio com o nosso futuro". E gritaram-se muitos slogans: "As ruas são nossas!"

Enjaulados na City


Mas ontem as ruas não eram nossas. "Esta rua é nossa", gritavam os manifestantes e empurravam a polícia. Não, não é, respondia a polícia com um contra-empurrão e a multidão compacta mexia-se como uma onda prestes a rebentar. "Our street!", "a nossa rua"! A rua era Threadneedle Street e foi aí que os manifestantes racharam os vidros do Royal Bank of Scotland e foi aí que se viu rapazes a sairem da confusão com sangue na cara. "Mandaram vir os cavalos", avisou alguém. Os cavalos vieram com polícia de choque e mangueiras. Muitos manifestantes afastaram-se mas quem quisesse ir embora não podia. Todas as ruas ali eram "deles". As ruas que saem do Banco de Inglaterra como uma estrela para a City estavam barricadas por filas cor de reflector e carrinhas da polícia. Estávamos enjaulados.

Contra o sistema


Havia os slogans e depois, havia a música. Uma banda de sopro a fazer lembrar a loucura dos filmes de Emir Kusturica. Uma rapariga de vestido florido a cantar "Imagine". Cabeças desconjuntadas para Rage Against the Machine.

Havia também uma banda de percurssão incansável, dirigida pela energia de Lorraine, uma britânica que aprendeu o som da língua portuguesa quando descobria o ritmo do samba e que acredita que "a música une as pessoas". E um homem - destoando pela idade mais avançada -, só com o seu violino.

Falta falar das máscaras: mortes e executivos, jokers do Batman e jokers dos baralhos de cartas. E das flores. Porquê as flores? "Porque não?", responde uma estudante britânica que traz um ramo de margaridas. Talvez porque é um pouco de natureza. As marchas de massa jovem que sairam de várias estações de metro e convergiram no largo da bolsa protestaram contra a guerra, contra o capitalismo, contra o consumo, enfim, como todos os jovens, contra o sistema, mas sobretudo, preocupam-se com as alterações climáticas.

Uma rua a salvar o planeta


Hannah está sentada com Adam a comer matzhos de pacote com humus. Trouxeram comida para muitas horas, porque toda a tarde e toda a noite são muitas horas. Hannah e Adam montaram uma tenda no meio da rua. E não passam a noite sozinhos. A vista de Bishopgate, perto da estação de Liverpool Street, era extraordinária.

A rua deixou de ser dos executivos. Era como estar subitamente no campo. As tendas estendiam-se a todo o comprimento, e os jovens - elas e eles de flores no cabelo -, sentavam-se como se a rua fosse de relva. Adam e Hannah estudam gestão ambiental em Leeds e não podiam deixar de vir ao "acampamento pelo planeta". Hannah não acredita que o G20 vá fazer grande coisa pelo planeta: "sempre a mesma conversa", diz. Mas tudo nela contradiz. Os olhos a brilhar, um sorriso cheio, dizem que ela acredita. Se ali passar a noite, tudo pode mudar.

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