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Manuel Pinho, as minas de Aljustrel e Merche Romero

António, mineiro no activo, duvida que o novo ministro da Economia resolva o problema das Pirites. Após as eleições "é que a gente vai ver o que acontece", vaticina. Eduardo, que deixou a mina em Novembro, espera que volte a haver trabalho para o filho seguir a tradição familiar. Na sexta-feira, a prioridade dos jovens da vila era Merche Romero.

06 de Julho de 2009 às 09:18
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António, mineiro no activo, duvida que o novo ministro da Economia resolva o problema das Pirites. Após as eleições "é que a gente vai ver o que acontece", vaticina. Eduardo, que deixou a mina em Novembro, espera que volte a haver trabalho para o filho seguir a tradição familiar. Na sexta-feira, a prioridade dos jovens da vila era Merche Romero.

"Ele não dá conta do recado dele, vai dar conta do do outro?" António, nome fictício, mineiro nas Pirites Alentejanas há 30 anos, não tem grandes esperanças de que a substituição de Manuel Pinho por Teixeira dos Santos, na Economia, acelere a recontratação de trabalhadores.

"Passadas as eleições é que a gente vai ver o que acontece. Deus queira que seja para bom. Aqui nesta zona não há emprego nenhum".

Um dia depois de Pinho ter saído do Governo devido a um gesto insultuoso dirigido a Bernardino Soares, que o acusava de ter entregue um cheque da EDP ao clube de futebol local, os trabalhadores da mina preferem não falar à imprensa. A custo, sob anonimato, contam como corre a vida nas Pirites desde que Carlos e Jorge Martins assumiram a concessão. Um acordo que teve o patrocínio do Governo.

"Estão a admitir pessoal que trabalhava cá e mais alguns. Mas não são todos. Como isto ainda está em desenvolvimento não têm margem para meter mais gente. Quando houver mais trabalho... talvez...", admite António. É o único mineiro do turno das 8h às 18h que aceita falar. Mas, tal como os colegas, entre os quais uma mulher responsável pela máquina de extracção do minério - há uma em cada turno -, a sua prioridade é o jantar em família.

Jorge, 33 anos, também tem pressa em ir descansar. A vontade de falar de política, ainda que sob anonimato, é idêntica ao interesse que dedica ao futebol. "Não ligo muito à bola", confessa para justificar não conhecer a razão da demissão do ministro. "Só soube à hora do almoço. Achei um bocado esquisito". Não é todos os dias que se vê um político de indicadores na testa apontados à oposição.

Sobre o que se passa nas Pirites, Jorge tem opinião. "Dá a sensação que é uma gestão mais cuidadosa. As coisas parecem seguir uns certos passos, vão mais devagar. Na semana passada admitiram dois [trabalhadores] para a nossa equipa. Há três anos, no outro projecto, foi uma coisa muito de repente". E, tal como chegou a ter quase mil trabalhadores (mineiros e empreiteiros), a canadiana Lundin Mining também decidiu, de um momento para o outro, parar a exploração.

Os novos concessionários comprometeram-se a alcançar 400 trabalhadores em quatro anos. Mas, como adiantou Carlos Martins ao "Público", a contratação aguarda aprovação do projecto pela Agência para o Investimento e o Comércio Externo, pedida há três meses. Actualmente, há 130 trabalhadores nas minas, mais 43 empreiteiros, num total de 170, menos 30 pessoas que as 200 referidas pelo primeiro-ministro no debate em que Pinho saiu do Governo.

"Já cá havia 100, criaram 70 postos de trabalho. Mas o ministro Pinho afirmou aqui, em Aljustrel, que ainda seriam criados mais postos de trabalho do que os quase mil que existiam antes", repete Jacinto Anacleto, do Sindicato da Indústria Mineira, que não se cansa de cobrar as promessas que Sócrates e seu ex-ministro fizeram aos mineiros da vila.

Eduardo Bandeira, que ficou desempregado quando a laboração nas Pirites foi suspensa em Novembro, também anseia por que as minas voltem a ter centenas de trabalhadores. "O meu filho faz 18 anos em Outubro. A família tem mineiros há gerações. Em Aljustrel não temos mais nada. Era uma maneira de ele arranjar um emprego. Tem que haver trabalho na mina porque o minério [zinco e cobre] existe".

Mas, na última sexta-feira, não era a falta de emprego nem a última "gaffe" de Pinho que animavam os jovens da vila. O aproximar do Moda Aljustrel, apresentado no sábado por Merche Romero, motivava as conversas em que não participavam jornalistas. Que o digam os filhos de Ana que vive em Aljustrel há 21 anos. É o baile semanal - o último antecipado por causa de Merche - que fazem esquecer as saudades que estes jovens universitários - ela estuda engenharia civil, ele energias alternativas - sentem de paragens mais cosmopolitas.

Para Ana, 52 anos, que acaba de abrir um "snack-bar" para melhorar o ordenado de funcionária pública na mobilidade, são o baile, as piscinas e a biblioteca com horário nocturno que dão qualidade de vida. "Tenho mais condições aqui do que em São Pedro do Estoril", garante. O pior são as obras que vai ter que pagar para arranjar as rachas da sua casa abertas pelos rebentamentos da mina, sob gestão canadiana.

É por serem mais cuidadosos que Jorge prefere os irmãos Martins. E até receia que a saída de Pinho possa ser pior. "Como se diz, que ele está ligado a esta empresa…". Para Eduardo, não é a substituição do ministro que muda alguma coisa. "Estar lá o Manuel ou o António, para o trabalho é igual. Desde que o primeiro-ministro cumpra aquilo que disse".

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