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Gonzalez lembra amigo de mais de 40 anos como "um democrata com convicções"

O ex-presidente do Governo espanhol e ex-líder do PSOE, Felipe Gonzalez, recordou esta terça-feira o amigo de mais de 40 anos salientando que Mário Soares era "um democrata com convicções" que sempre defendeu a liberdade e democracia.

Mariline Alves/Correio da Manhã
10 de Janeiro de 2017 às 12:19
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"Mário tinha uma personalidade muito coerente desde o ponto de vista de lutador da liberdade e democracia e também de ser um lutador pela justiça social. Os tempos mudam, mas os princípios, as convicções e metas, permaneceram importantes", afirmou Felipe Gonzalez aos jornalistas.

O líder histórico do PSOE (Partido Socialista Operário Espanhol), Felipe Gonzalez, lembrou o momento em que, com Mário Soares, assinaram em Junho de 1985 a adesão ibérica à então CEE, considerando este como "um dos momentos mais belos" e reconhecendo que Portugal estava à frente de Espanha na questão europeia.

"Mário será uma referência para sempre. Pelo seu pensamento de uma grande riqueza intelectual, mas sobretudo pela sua coragem, pela sua coragem politica, a sua paixão pela liberdade e pela justiça social. Penso que é isso que o que o vai manter na memória de todos", enalteceu Gonzalez.

Gonzalez frisou que "pouca gente entende" mas é algo que considera que define bem Mário Soares é que este era "um democrata de convicções", tendo lutado contra a ditadura de Salazar tendo como "grande alegria na sua vida a revolução dos Cravos".

"Quando pouco tempo depois se avistou uma nova ameaça contra a liberdade com uma tentativa de controlo militar do poder com o apoio do PCP de [Álvaro] Cunhal, Mário Soares revela-se de novo e outra vez defende a liberdade e democracia. Naquela ocasião, devo dizer para que não se perca a memória histórica, como líder político praticamente só saiu à rua levando atrás de si uma multidão de gente", recordou.

Para o ex-presidente do Governo espanhol, o grande paradoxo da história e uma situação que o incomodava Mário Soares nos últimos anos era a unidade europeia.

"Quando mais falta a unidade europeia mais em risco esta está, mais ameaças de nacionalismo e xenofobia existem, um pouco o que está a acontecer na Europa", disse Gonzalez.

Mário Soares morreu no sábado, aos 92 anos, no Hospital da Cruz Vermelha, em Lisboa.

O Governo português decretou três dias de luto nacional, até quarta-feira.

O corpo do antigo Presidente da República esteve em câmara ardente no Mosteiro dos Jerónimos entre as 13:10 de segunda-feira e as 11:00 de hoje, depois de ter sido saudado por milhares de pessoas à passagem do cortejo fúnebre pelas principais ruas da capital com escolta a cavalo da GNR.

O funeral realiza-se na hoje, pelas 15:30, no Cemitério dos Prazeres, em Lisboa, após passagem do cortejo fúnebre pelo Palácio de Belém, Assembleia da República, Fundação Mário Soares e sede do PS, no Largo do Rato.

Antes, às 13:00, terá lugar uma sessão solene evocativa de homenagem nos claustros do Mosteiro dos Jerónimos, com intervenções da família, do Presidente da República, do presidente da Assembleia da República e do primeiro-ministro, através de um vídeo gravado durante a visita de Estado de António Costa à Índia.

Nascido a 07 de dezembro de 1924, em Lisboa, Mário Alberto Nobre Lopes Soares, advogado, combateu a ditadura do Estado Novo e foi fundador e primeiro líder do PS.

Após a revolução do 25 de Abril de 1974, regressou do exílio em França e foi ministro dos Negócios Estrangeiros e primeiro-ministro entre 1976 e 1978 e entre 1983 e 1985, tendo pedido a adesão de Portugal à então Comunidade Económica Europeia (CEE), em 1977, e assinado o respectivo tratado, em 1985.

Em 1986, ganhou as eleições presidenciais e foi Presidente da República durante dois mandatos, até 1996.
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