Notícia
Espanha recebe hoje Cavaco Silva em primeira visita oficial
As coisas não estão bem, assinala a imprensa espanhola. Dívida pública e défice externo consideráveis, uma economia excessivamente dependente do consumo privado (58% do Produto Interno Bruto) e do comportamento do sector imobiliário (17% do PIB), inflação
As coisas não estão bem, assinala a imprensa espanhola. Dívida pública e défice externo consideráveis, uma economia excessivamente dependente do consumo privado (58% do Produto Interno Bruto) e do comportamento do sector imobiliário (17% do PIB), inflação homóloga elevada (3,9% no segundo trimestre), expressivo endividamento das famílias e uma indústria em queda de competitividade.
O crescimento do preço da habitação caiu dos 18,4% em 2005 para os 10,8% em meados de 2006. Em finais de 2007, estima-se que esteja a crescer em torno dos 4%, segundo previsões de uma consultora do sector.
Causas: subida das taxas de juro do Banco Central Europeu, que alcançaram os 3%, com o mercado a descontar já eventuais subidas até ao final do ano, reflectidas já na taxa Euribor a seis meses, que se situa nos 3,58%. Mas também o excesso da oferta. Em 2005 começaram a ser construídas 715 mil novas casas, com o número de hipotecas a alcançar os 1,7 milhões. Uma das consequências é a do aumento do tempo médio de venda, que já aumentou 25% este ano, estimando-se que alcance os 30 a 36 meses em 2007. Um sinal de alerta para as construtoras? Claro! Este ano apenas serão construídas 850 mil novas casas, de acordo com a mesma consultora.
Antes de entrar na União Económica e Monetária, o endividamento das famílias situava-se nos 40% do rendimento bruto disponível (RBD), hoje, quase cinco anos depois, alcançou os 115% em Março deste ano, sendo que a Comissão Europeia estima que alcance os 140% no final do próximo ano. Entretanto, a subida dos juros já fez elevar para 15% do RBD os encargos financeiros associados à dívida.
Mas as famílias estão também a poupar menos. Em 2005, a taxa caiu para mínimos históricos até aos 10,4% do RBD, mas ainda não parou. Bruxelas estima que este ano não ultrapasse os 9,5%. Porém, nem tudo é mau. Como indica o banco central, as famílias ficaram na realidade – ou melhor, virtualmente – mais ricas 12,5% nos primeiros oito meses do ano, face a igual período em 2005, muito por efeito da valorização da habitação.
O_Índice de Preços ao Consumidor atingiu os 3,9% no segundo trimestre face a igual período em 2006, e, se retirados ao cabaz de preços a energia e produtos alimentares não transformados, subiu 3%.
Contas da revista "Capital" na sua edição de Setembro, o custo de vida aumentou três vezes mais do que os salários desde o primeiro dia do euro até hoje. As famílias estão a perder capacidade aquisitiva e estão com cada vez menor margem para segurar o principal pilar da economia.
Valha o Turismo, que pesa 11% do PIB. Entre Janeiro e Julho deste ano passaram a fronteira para passar férias no país mais de 33 milhões de turistas, 5,3% acima de igual período no ano passado. O único senão prende-se com o facto de tanta gente a mais ter gasto menos 13% que em igual período em 2005.
O World Economic Forum faz algumas recomendações, a primeira das quais, a da necessidade de melhoria do sistema educativo, mas também de redução da pressão tributária, sobretudo sobre as empresas, e da reforma do mercado do trabalho. A burocracia governamental é outro entrave ao desenvolvimento apontado pela instituição que reúne anualmente em Davos, que critica ainda o acesso ao financiamento, com comissões elevadas, a inadequada oferta de infra-estruturas e a formação deficiente da força de trabalho. Esta crítica faz eco noutra preocupação generalizada, a produtividade. A taxa média anual de crescimento do PIB por hora trabalhada ultrapassou os 3% entre 1980 e 1990, para cair abaixo de 1% entre 1990 e 2002.
Com um tão extenso role de problemas, não admira que o Governo preveja que o crescimento em 2007 não vá além dos... 3,3%, menos cinco décimas do que este ano. Pois é! É de Espanha que este artigo fala! Espanha que hoje recebe o Presidente da República português. Esta que é uma das economias mais dinâmicas da União Europeia e se assusta com as ameaças à convergência real que percebe no horizonte.