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Morreu o realizador José Fonseca e Costa

O cineasta José Fonseca e Costa faleceu este domingo, confirmou à Lusa o produtor Paulo Branco, que estava a produzir o último filme do realizador, Axilas, baseado num conto do escritor Ruben da Fonseca.

Correio da Manhã
01 de Novembro de 2015 às 18:00
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O realizador José Fonseca e Costa, 82 anos, (na foto com o empresário André Jordan) morreu este domingo de manhã no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, de uma pneumonia, na sequência de uma pré-leucemia.

Em declarações à agência Lusa, o produtor Paulo Branco adiantou que apesar de já estar doente, o realizador decidiu avançar com o seu mais recente projecto, "que era muito importante para ele".

O filme "chama-se Axilas, é baseado num conto de Ruben da Fonseca, com argumento do Mário Botequilha", adiantou Paulo Branco.

"Felizmente ele conseguiu filmar não a totalidade, mas quase e temos todos os elementos para poder acabá-lo", disse o produtor, acrescentando que José Fonseca e Costa esteve a trabalhar "praticamente até ter forças". "Exerceu aquilo que mais gostava, que era a sua atividade de realizador, até ao fim", sublinhou.

Para Paulo Branco, José Fonseca e Costa é um dos vultos importantes do cinema português, "deixa uma obra que toda a gente conhece e espera-se agora que possa ser revista".

"O Zé foi alguém que foi extremamente reconhecido durante a sua carreira e tem filmes marcantes que, felizmente, não só foram sucessos escritos, como sucessos públicos. Era um cineasta extremamente apreciado", salientou o produtor.

Já o realizador António Pedro Vasconcelos recorda José Fonseca e Costa como "um lutador", que "sempre se bateu contra o sistema perverso do financiamento do cinema em Portugal", de que foi "uma vítima".

"Fica uma mágoa muito grande por ter perdido um amigo e um criador sem ter feito tudo o que podia ter feito", declarou à Lusa António Pedro Vasconcelos, referindo que o último filme de Fonseca e Costa é de 2006, Viúva Solteira Não Fica, e que, antes disso, tinha estado cinco anos sem gravar, porque "há 20 anos chumbavam sucessivamente os seus projetos".

António Pedro Vasconcelos sublinha que "em 50 anos, Fonseca e Costa fez dez filmes, porque os seus projetos eram sempre chumbados".

Em declarações à Lusa, António Pedro Vasconcelos lamentou ainda que Fonseca e Costa não tenha conseguido acabar de filmar o seu último filme "Axilas", que "por um golpe de sorte" recebeu luz verde do ICA - Instituto do Cinema e do Audiovisual.

"É uma das pessoas com quem mais me identifico. Sempre a refilar, revoltado contra o sistema, mas muito divertido e com muito humor", um "humor quase negro", que passava para os seus filmes, recordou.

António Pedro Vasconcelos lembrou ainda que o realizador "sempre se bateu pela ideia de que o cinema era a arte de contar histórias com imagens e som, contra a tendência a que se assistiu em Portugal desde a década de 80 de que o cinema não tinha que contar histórias".

Na mensagem de condolências que enviou à família do realizador de cinema, Aníbal Cavaco Silva afirmou que, "ao longo de várias décadas, José Fonseca e Costa distinguiu-se como um dos mais criativos e talentosos realizadores portugueses".

"Obras como Kilas, o Mau da Fita, Cinco Dias, Cinco Noites ou Balada da Praia dos Cães são marcos do cinema português do século XX e conquistaram, muito justamente, o aplauso da crítica e do público", prossegue a missiva.

Para o chefe de Estado, José Fonseca e Costa foi um "defensor dos ideais da liberdade e da democracia", um "oposicionista à ditadura e cedo se destacou como um dos grandes nomes do movimento do Novo Cinema".

"Os seus trabalhos tiveram grande sucesso e valeram-lhe, ainda recentemente, a merecida atribuição do Prémio Carreira da Academia Portuguesa de Cinema", lembra Cavaco Silva.

A ministra da Cultura, Igualdade e Cidadania, Teresa Morais, recordou José Fonseca e Costa como "personalidade interveniente na cena cultural portuguesa".

"Crítico cinematográfico, tradutor, realizador de documentários vários, José Fonseca e Costa será sempre reconhecido como o realizador de um conjunto de filmes icónicos e de geração que marcaram a produção cinematográfica nacional", lê-se na nota de Teresa Morais.

Entre os vários filmes de José Fonseca e Costa, a ministra recordou "Kilas, o Mau da Fita - um dos seus maiores êxitos - Sem Sombra de Pecado, Balada da Praia dos Cães, Cinco Dias, Cinco Noites e, mais recentemente, Os Mistérios de Lisboa".

"José Fonseca e Costa destacou-se ainda como personalidade interveniente na cena cultural portuguesa, quer pelas posições assumidas, quer como dirigente do Centro Português de Cinema e da Associação de Realizadores de Cinema e Audiovisuais", prossegue a nota.

A carreira de realizador de José Fonseca e Costa ficou marcada por filmes como "O Recado" (1972), "Os Demónios de Alcácer Quibir" (1977) e Cinco Dias, Cinco Noites (1996). Mas seria "Kilas, o Mau da Fita" (1981) o seu filme mais famoso. 

(Notícia actualizada às 22h28 com as reacções do Presidente da República e da Ministra da Cultura)

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