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Imunidade e rapidez da vacina estão entre as incógnitas da pandemia
Numa altura em que o número de infetados pela covid-19 supera 1 milhão, a nível global, e há cada vez mais países em confinamento para conter a pandemia, surge a pergunta que não quer calar: "Quando é que isto vai acabar?"
A resposta a essa pergunta depende em grande parte das incertezas em torno do novo coronavírus que causa a doença como, por exemplo, se uma pessoa pode ser contagiada mais do que uma vez e com que rapidez os cientistas conseguirão produzir uma vacina. Os custos e benefícios das paralisações prolongadas, e o que os diferentes países podem fazer, do ponto de vista económico e político, também são fatores importantes.
1 - Como acabar com a pandemia?
Existe um consenso alargado de que a pandemia só vai acabar com o estabelecimento da chamada imunidade de grupo. Essa situação ocorre quando um número suficiente de pessoas numa comunidade está protegido contra uma doença. Existem dois caminhos para esse resultado. Um é a imunização. Os investigadores teriam de desenvolver uma vacina que se mostre segura e eficaz contra o coronavírus, e as autoridades de saúde teriam de a distribuir por um número suficiente de pessoas. O segundo caminho para a imunidade de grupo é mais sombrio: também poderia ocorrer depois de grande parte de uma comunidade ter sido infetado e ter desenvolvido resistência por essa via.
Para muitos países, a estratégia é restringir a mobilidade para diminuir drasticamente a propagação, fechar empresas e escolas, proibir reuniões e manter as pessoas em casa. A ideia é evitar uma enorme explosão de infeções que sature o sistema de saúde, causando um número muito alto de mortes devido à menor disponibilidade de cuidados médicos. O "achatamento da curva" permite que novos casos ocorram num período mais longo e dá tempo às autoridades e prestadores de serviços de saúde para se mobilizarem: para desenvolver a capacidade de realização de testes, rastrear contactos dos que estão infetados e tratar doentes.
3 - Quando é que as restrições devem ser aliviadas?
A população não deve esperar que a vida volte ao normal rapidamente. O levantamento de restrições muito cedo ameaça o surgimento de um novo pico. As autoridades da China começaram a reabrir a cidade de Wuhan, onde a pandemia começou, dois meses depois de ficar isolada do mundo, quando a transmissão praticamente parou. Mas as medidas da China eram mais rigorosas do que em qualquer outro país até agora, e pelo menos uma região voltou às medidas de confinamento.
4 - E então?
Um roteiro criado por um grupo de especialistas em saúde dos EUA, incluindo Scott Gottlieb, ex-comissário da FDA, agência que regula medicamentos e alimentos no país, recomenda um estágio intermédio no qual escolas e empresas reabrem, mas as aglomerações continuam a estar limitadas. As pessoas continuariam a ser incentivadas a manter distância umas das outras, e os grupos de alto risco seriam aconselhadas a limitar o tempo fora de casa. Se os casos começarem a aumentar novamente, as restrições seriam mais rígidas.
5 - Porque é que os testes são tão importantes?
Este vírus tem causado muitas dificuldades, não por ser especialmente letal, mas porque por ser insidioso; muitos dos que estão infetados estão bem o suficiente para realizar atividades diárias, contaminando involuntariamente outras pessoas. Por isso é essencial um amplo número de testes entre a população e testar todas as pessoas com sintomas.
6 - Porque é que faz diferença o lugar onde estamos?
Países autoritários como a China podem impor controlos mais rígidos à mobilidade e meios mais intrusivos de vigilância, como medir a temperatura das pessoas em casa, fazer rastreamento e impor quarentenas, e são menos vulneráveis ??à pressão das empresas e à opinião pública. Isso dá-lhes ferramentas poderosas para manter o vírus sob controlo, desde que se mantenham vigilantes em relação aos casos importados. Essa é uma proposta mais difícil para outros países. Os mais pobres têm mais dificuldade em suportar as perdas económicas causadas por restrições prolongadas e muitas vezes não têm infraestrutura de saúde para uma vigilância extensiva.
7 - Quanto tempo demora uma vacina?
Dezenas de empresas e universidades globais estão a trabalhar nisso, mas não há garantia de que vão conseguir. O desenvolvimento de uma vacina normalmente é um processo longo e complexo, que inclui anos de testes para garantir que são seguras e eficazes. Na luta contra o coronavírus, alguns dos envolvidos pretendem ter uma vacina em 12 a 18 meses, uma meta extraordinariamente ambiciosa. Alguns especialistas em vacinas acreditam que governos, cidadãos e investidores devem moderar o otimismo. Não está claro se os métodos funcionarão, se os prazos serão cumpridos ou se as empresas poderão fabricar vacinas suficientes.
8 - E o segundo caminho para a imunidade de grupo?
Primeiro, isso só aconteceria se a recuperação de uma infeção deixasse as pessoas com imunidade duradoura. Ainda não se sabe se é assim com o novo coronavírus. A parcela de uma população que precisaria de ser exposta ao vírus para estabelecer a imunidade de grupo também é desconhecida. Geralmente, é uma parcela alta, por exemplo, de 75% para a difteria e 91% para o sarampo. Patrick Vallance, assessor científico do governo do Reino Unido, estimou, em fevereiro, que essa parcela será de 60%. O tempo que demoraria a atingir o limiar necessário dependeria das medidas impostas pelos governos em resposta à pandemia.
9 - Existem outras variáveis?
Poderíamos ter sorte e o vírus desaparecer com o início do verão no hemisfério norte, onde se concentra a maioria dos casos, assim como acontece com os surtos de influenza que diminuem com as mudanças sazonais. Mas não se sabe se o clima mais quente terá alguma influência. Mesmo que o surto diminua, poderia regressar no outono. Alguns depositam esperanças numa terapia extremamente eficaz ou mesmo na cura.