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As regras kafkianas em Bruxelas: Usar máscaras depende do número da casa e horário
A Bélgica é o segundo país do mundo com mais mortes por covid-19 em relação à população. Em cada seis casos confirmados no país o desfecho foi a morte.
Para quem procura provas de que o regresso à normalidade na Europa após a pandemia não será simples só tem de olhar para Bruxelas, a capital não oficial da União Europeia (UE).
Após quase dois meses de confinamento, os residentes da capital belga, incluindo os que moram na zona onde se situam as principais instituições da UE, vão poder sair de casa. Contudo, existem limites e condições que ofuscam as normas mais kafkianas da União.
Veja-se o que se passa em Etterbeek, onde é obrigatório o uso de máscaras fora de casa de segunda a sábado entre as 08:00 e as 18:00 para quem tenha mais de 12 anos. Mas apenas em algumas ruas do bairro e nem sequer em toda a extensão das ruas. Na Rue Grey, por exemplo, o uso de máscara só é obrigatório em frente ao número 2 e entre os números 1 e 17.
Isto só se aplica se não estiver a menos de 15 metros de uma escola. Nesse caso, as máscaras são obrigatórias entre segunda e sexta-feira das 08:00 às 09:00, quartas-feiras das 11:30 às 12:30 e segundas, terças, quintas e sextas-feiras das 15:30 às 16:30. Confuso?
E ainda não é claro o que acontecerá a residentes de outros bairros ou funcionários de outros países da UE que se encontrem na cidade se forem apanhados sem máscara no sítio errado.
Mas não é só Bruxelas. As medidas invulgares estendem-se por toda a Bélgica, país famoso pelo seu complexo sistema federal, seis parlamentos e por longos períodos sem um governo em funcionamento.
A primeira-ministra Sophie Wilmès anunciou quarta-feira que a proibição de deslocações não essenciais, que foi imposta a 18 de março, irá vigorar até 18 de maio. Exceto se fôr fazer compras, que será permitido a partir desta segunda-feira, 11 de maio, ou se quiser convidar até quatro amigos para sua casa, o que será permitido a partir deste domingo, sendo recomendado que a reunião decorra no seu jardim.
Os críticos podem dizer que as regras não fazem sentido - e a primeira-ministra parece concordar com eles. Logo após anunciar as regras, Wilmès admitiu que será quase impossível a polícia aplicar o cumprimentos destas normas e apelou ao belgas para que se comportem de forma responsável.
A elevada mortalidade da covid-19 no país
A Bélgica é o segundo país em todo o mundo com mais mortes por milhão de habitantes devido ao novo coronavírus, apenas atrás da minúscula República de San Marino.
Com 8.581 mortos até este sábado a Bélgica regista 740 mortes por covid-19 por milhão de habitantes. O país apresenta uma taxa de letalidade muito mais elevada do que a maioria dos restantes países: por cada seis casos confirmados regista-se uma morte. Este valor pode ser influenciado, entre outros fatores, com a contabilização dos óbitos incluindo casos suspeitos e não apenas confirmados, ao contrário da prática noutros países.
Mas, por comparação, nos EUA, o país com mais casos e mais vítimas mortais, regista-se uma morte por cada 17 casos confirmados. Em Itália ou Espanha, dois dos países mais atingidos, os valores são de uma morte por cada sete casos e de um óbito por cada 10 infetados. Já em Portugal o rácio é de uma vítima mortal a cada 24 casos confirmados.