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Depois do BCE, OCDE também revê crescimento no euro em baixa com tarifas Trump

Apesar de não antecipar ainda impactos diretos da escalada tarifária, incerteza vai restringir mais a atividade. Expansão do PIB do euro deve ficar em 1% neste ano, e avançar para 1,2% em 2026.

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A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) reviu em baixa as projeções de crescimento para a Zona Euro, com o lastro da maior incerteza trazida pelas subidas iniciais de tarifas da Administração Trump a pesar contra a uma aceleração da atividade neste ano no espaço da moeda única.

Num novo relatório intercalar de projeções, publicado nesta segunda-feira, a OCDE aponta para 1% de subida do PIB no espaço do euro em 2025, cortando três décimas ao valor de crescimento esperado há três meses. Também para 2026 são baixadas as expectativas na mesma dimensão, prevendo-se agora 1,2% de crescimento para a Zona Euro.

O cenário mais negativo projetado pela OCDE ocorre depois de também o Banco Central Europeu (BCE) ter feito uma revisão em baixa da projeção do crescimento no euro para este ano e próximo, apontando agora para taxas de variação de 0,9% e 1,2%, respetivamente. Também a Comissão Europeia antecipou já que irá fazer igualmente uma revisão em baixa das previsões para o grupo (em novembro, Bruxelas esperava 1,3% de subida do PIB em 2025 e 1,6% em 2026).

O maior pessimismo quanto ao desempenho do espaço do euro - que neste cenário conhecerá não mais do que uma ligeira aceleração, face aos 0,7% de expansão em 2024 - é expresso num relatório que assume nos pressupostos, para já, apenas o impacto de tarifas adicionais impostas pelos EUA à China, Canadá e México, assim como a subida de taxas para aço e alumínio, mas que não conta ainda com os efeitos de uma guerra comercial alargada.

"As economias europeias irão experienciar menores efeitos diretos das medidas tarifárias incorporadas nas projeções de base, mas a incerteza política e geopolítica mais elevada deverá restringir o crescimento", assume a organização.

Nas previsões intercalares agora lançadas, apenas para as maiores economias, Alemanha, França e Itália vêm as perspetivas de crescimento reduzidas, com expectativas de subidas do PIB de 0,4%, 0,8% e 0,7% neste ano, respetivamente. Em 2026, segundo a OCDE, a Alemanha poderá registar já uma expansão económica de 1,1%, França de 1% e Itália de 0,9%. 

Espanha demarca-se com uma revisão em alta, e previsões agora de crescimento de 2,6% neste ano e de 2,1% no próximo.

A revisão em baixa para a Zona Euro ocorre num contexto em que a OCDE deteta já sinais de enfraquecimento na economia mundial, nomeadamente, nos indicadores avançados relativos ao sentimento empresarial do primeiro trimestre, que surgem a apontar para abrandamento nos EUA, Brasil, México e Canadá. "Grande parte da fraqueza tem sido observada nos sectores de serviços, com sinais de recuperação na produção industrial da Zona Euro e dos EUA. É demasiado cedo para prever se esta última será sustentada, ou se reflete uma subida temporária nas encomendas de bens transacionáveis na América do Norte", indica.

A menor confiança dos consumidores é também vista a aprofundar-se de uma forma geral no arranque de 2025, ao mesmo tempo que a organização nota um aumento da incerteza sobre as políticas económicas à medida que se erguem as novas barreiras comerciais. "Maior incerteza política deverá reter decisões de despesa por empresas e famílias, particularmente em itens de longo prazo como investimento de capital fixo e bens duráveis", reflete o relatório. 

Com esta leitura dos dados, a OCDE aponta agora para abrandamento no crescimento mundial, ao invés da ligeira aceleração que era esperada no final do ano passado. Em 2025, o ritmo de crescimento da economia mundial deverá abrandar de 3,2% para 3,1%, seguindo-se também alguma perda de velocidade em 2026, com projeção de um crescimento de 3%.

Inflação revista em alta

Mas as subidas de tarifas não terão apenas o efeito de travar a atividade, com a OCDE a antecipar desde já níveis de inflação mais elevados do que esperava antes. O aumento de custos no comércio deverá "passar gradualmente para os preços finais dos bens, colocando pressão adicional em muitos países e exigindo que a política monetária permaneça restritiva por mais tempo do que aquele que era antes esperado".

No caso da Zona Euro, ainda assim, há apenas uma ligeira revisão em alta para a taxa de inflação anual esperada neste ano, agora nos 2,2%, e ao mesmo tempo a organização revê em baixa a previsão de inflação subjacente, indicativa da força das pressões inflacionistas de longo prazo, apontando igualmente para 2,2%.

Já os EUA conhecem uma forte revisão em alta na previsão de inflação, com a OCDE a apontar agora para 2,8% de variação média nos preços este ano (mais sete décimas do que o esperado em dezembro), e para uma taxa ainda de 2,6% no próximo (numa revisão em alta também de seis décimas).

Os dados agora em perspetiva para o crescimento económico norte-americano vão no sentido de uma desaceleração prolongada sob a Presidência Trump, com a atualização de projeções da OCDE a apontar para 2,2% de melhoria do PIB dos EUA neste ano e 1,6% no próximo (numa revisão em baixa para ambos os anos, mas mais pronunciada em 2026, num corte de cinco décimas).

O cenário que agora baixa as perspetivas de crescimento em ambos os lados do Atlântico poderá, contudo, agravar-se. "Uma maior fragmentação da economia global é uma preocupação-chave. Aumentos das barreiras comerciais mais alargados e elevados desencadeariam um política monetária mais restritiva e poderiam fazer emergir uma revisão de preços disruptiva nos mercados financeiros", admite a OCDE.

Na ponderação de riscos destas novas projeções, por outro lado, um cenário mais favorável ao crescimento mundial poderia resultar de um ambiente de maior estabilidade política, com redução de incerteza, acordos que permitam reduzir tarifas e reformas estruturais mais ambiciosas. A OCDE vê também potenciais benefícios do investimento massivo em Defesa que está a ser planeado pela União Europeia. "Despesas públicas em Defesa mais elevadas também podem apoiar o crescimento no curto-prazo", refere, antecipando porém mais "pressões orçamentais no longo prazo".

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