"Havia três bolsas de valores em Portugal. Uma no torreão [no Terreiro do Paço, em Lisboa], uma no Porto e outra na Rua do Ouro". A descrição jocosa – que retrata a negociação de títulos nas ruas – é feita ao Negócios por Álvaro Dâmaso, o presidente da bolsa durante os anos 1980, no período pós-25 de Abril. A revolução fez perder muito dinheiro e foi um período até hoje inédito, em que as ações não negociaram durante três anos. Mas abriu a porta ao investimento estrangeiro e ao mercado de capitais nos moldes em que o conhecemos.
As primeiras referências ao mercado financeiro em Portugal remontam à Idade Média, centradas no comércio e em corretores atraídos por negociantes estrangeiros. A primeira tentativa de regular a atividade dos corretores de Lisboa é feita ainda no século XV e as primeiras emissões de ações e títulos de dívida pública moderna no século XVIII.
É, contudo, no século XIX que se começa a desenhar um mercado mais próximo do que hoje existe. O regulamento de 1837 consagra a existência de corretores de valores e, em 1833, o Código Commercial Portuguez enquadra juridicamente a atividade comercial, tendo – em conjunto com o Regulamento das Bolsas de 1889 – dado um importante impulso à criação das Bolsas de Valores. É na viragem do século que são criadas as Bolsas de Valores do Porto (BVP) e de Lisboa (BVL) e aprovados o Regimento do Ofício do Corretor e o Regulamento de Bolsa – dois importantes documentos que regulam o mercado até à revolução.
Não foi, no entanto, um período fácil no mundo. À implantação da República em Portugal e à I Guerra Mundial segue-se uma fase de retoma da atividade bolsista, multiplicando-se as admissões à negociação com ganhos expressivos para as ações. Até ao "crash" bolsista de 1929 – um ano depois de ter sido implementado o primeiro índice de ações nacional.