Existe uma ênfase cada vez maior na sustentabilidade do setor dos transportes e logística, nomeadamente no contexto da transição energética. De que forma o setor está a responder a esta crescente exigência legislativa, social e económica para minimizar o impacto ambiental, promover praticas éticas e responsáveis, e impulsionar o uso de produtos e serviços sustentáveis?
Para fazer avançar a sustentabilidade no setor, a APLOG – Associação Portuguesa de Logística, defende o diálogo entre as diversas entidades, que deverão agir de forma cada vez mais colaborativa, para implementar eficazmente boas práticas no contexto da cadeia de abastecimento. Neste contexto, Afonso Almeida, vice-presidente da APLOG, identifica os temas de maior relevância: "Os desafios da logística inversa e a integração da inteligência artificial na gestão das cadeias de abastecimento, por forma a ter operações mais sustentáveis, bem como o papel da economia circular, a fim de maximizar a utilização de recursos, minimizar o desperdício e prolongar a vida útil dos produtos e materiais".
Sustentabilidade e equilíbrio
Para o vice-presidente, "a sustentabilidade deverá ser sempre pensada com equilíbrio, sendo necessário definir muito bem as prioridades, de forma a não ter impactos demasiado fortes em termos sociais e económicos, pois existem custos muito grandes para a sociedade, inerentes à implementação de um projeto de sustentabilidade neste setor".
Refira-se que esta associação irá ter no final do mês o seu 25º Congresso, precisamente com o tema "Supply Chain: da Colaboração à Sustentabilidade".
Por seu lado, a APOL – Associação Portuguesa dos Operadores logísticos, sublinha a complexidade dos assuntos em causa e a necessidade de existir mais conhecimento e haver maior reflexão para se criar legislação realmente consequente.
Para Vítor Figueiredo, presidente da APOL, "é importante evitar qualquer medida incorreta, que implicará perder muito tempo, porque nenhuma tem efeito imediato. Além disso, por serem assuntos tão atuais e globais, ainda não existem caminhos já traçados que possam servir de referência".
Não obstante, para este responsável, a urgência dos temas requer "maior celeridade no processo de tomada de decisão". "Desta forma, acreditamos que um debate alargado entre poder político e os diversos representantes dos sectores afetados por estas medidas é fundamental para garantir uma maior probabilidade de sucesso no caminho para a sustentabilidade".
Portos com planos
Para infraestruturas logísticas fundamentais como são os portos, "o compromisso de contribuir para a sustentabilidade ambiental e o desenvolvimento económico e social da comunidade portuária é central na atividade. Esse compromisso reflete-se cada vez mais em políticas de transição energética e de proteção ambiental", afirma João Pedro Neves, presidente da Associação dos Portos de Portugal (APP). No entanto, o responsável reconhece que "o desafio que se coloca ao setor portuário é de facto extremamente ambicioso no quadro da resposta à emergência climática por parte da União Europeia, através do Pacto Ecológico e do Objetivo 55, Plano REPowerEU e plano Industrial Net-Zero, que pretendem contribuir para termos um impacto neutro no Clima até 2050".
Para João Pedro Neves, um exemplo dos desafios que se colocam aos portos é o AFIR (Regulamento relativo à criação de uma infraestrutura para combustíveis alternativos), que "faz parte do pacote Objetivo 55, e que coloca exigências elevadas de investimento, uma vez que prevê que os portos marítimos que acolhem um número mínimo de embarcações de passageiros de grandes dimensões ou navios porta-contentores, serão obrigados a fornecer eletricidade a partir da rede terrestre a essas embarcações, até 2030". Na sua opinião, "a viabilidade destes investimentos está muito dependente da evolução regulatória, que tanto pode criar oportunidades como ela própria constituir ameaças".
Por outro lado, cada um dos portos integrantes da APP, "foi desenvolvendo estratégias e planos com ações concretas, que definem claramente o modo como serão cumpridos, ao longo dos próximos anos esses requisitos, de modo a dar cumprimento à crescente exigência legislativa, social e económica de sustentabilidade", assegura o responsável.
Operadores no caminho da sustentabilidade
Do lado dos agentes do setor, "é cada vez mais comum nas empresas de transportes e logística, a adoção de práticas e de novas tecnologias para minimizar os impactes ambientais", refere Mark Dawson, presidente Executivo do Grupo Garland, um dos principais operadores logísticos em Portugal. "A adoção de meios de transporte menos poluentes, com menor consumo de energia, a reciclagem dos materiais, a reutilização e tratamento de outputs de produção que são prejudiciais ao ambiente, são alguns exemplos de medidas em que a logística pode contribuir para a sustentabilidade", refere.
Também o Grupo VGP, proprietário, gestor e promotor de propriedades logísticas e semi-industriais em Portugal, afirma que "a sustentabilidade é um dos pilares da nossa estratégia e atuação, e é a base das decisões de investimento. Todos os nossos ativos recém-construídos visam a obtenção da certificação ambiental BREEAM Excellent", refere José Ferreira, country manager da VGP em Portugal.
Ao mesmo tempo, refere o responsável, a empresa investe muito "em capacidade fotovoltaica, com a VGP Energia Renovável, que cresceu exponencialmente para 153,1 MWp, e temos mais 65,2 MWp planeados. Isto contribui para as metas de descarbonização do grupo para 2030, que foram alinhadas com a SBTi (iniciativa Science Based Targets)", explica. Dois bons exemplos de agentes do setor que já estão a fazer o seu caminho rumo a sustentabilidade neste quadro regulamentar particularmente desafiante.