No setor dos transportes e logística, a expectativa sobre o impacto do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) sempre foi moderada e os benefícios para o setor da sua aplicação entendidos como sendo indiretos. Fundamentalmente, o PRR prevê investimentos nas dimensões das infraestruturas, da mobilidade sustentável, da inovação e da modernização das empresas que deverão impactar positivamente o contexto em que as empresas do setor operam no nosso país.
Para Afonso Almeida, vice-presidente da Associação Portuguesa de Logística (APLOG), o impacto do PRR na logística e nos transportes "deverá ser bastante relevante em Portugal e na Europa, esperando que se criem cadeias de abastecimento mais resilientes e ágeis. Temas relacionados com infraestruturas, quer se apliquem no setor ferroviário, nos portos e também em troços rodoviários, serão fundamentais para modernizar e aumentar a competitividade da nossa economia".
Para o responsável da APLOG, o PRR deverá também "impulsionar o avanço da descarbonização, com o aumento de frotas elétricas e o início do caminho no que diz respeito ao hidrogénio, que serão vias determinantes para o futuro". Finalmente, espera-se que acelere a transformação digital e os avanços da tecnologia, "o que irá permitir aumentar a eficiência de processos a nível nacional e global", e que impulsione a qualificação, "através da forte aposta na formação especializada".
Investimento em infraestruturas
Por sua vez, Vítor Figueiredo, presidente da Associação Portuguesa de Operadores Logísticos (APOL), nota que "existem, à data de hoje, guidelines europeias importantes que revelam uma clara consciencialização da necessidade de investimento em infraestruturas de transporte ferroviário, com hubs multimodais, como forma de reduzir o trânsito rodoviário de longa distância e assim promover a redução da pegada de carbono do setor de transportes". Por outro lado, "a necessidade de criar apoios à transição das frotas de veículos de mercadorias para a utilização de combustíveis mais eficientes de um ponto de vista ambiental também é algo perfeitamente assumido", recorda o responsável.
A nível nacional, a APOL nota que existe consenso em relação à necessidade de novas infraestruturas aeroportuárias e ao papel fundamental que os portos marítimos podem ter na competitividade da economia portuguesa. "Contudo, nem sempre estes consensos resultam em medidas claras e consequentes nos programas de apoio. Em nosso entender, existem decisões estratégicas em relação ao plano nacional de infraestruturas que já tardam demasiado tempo em ser tomadas. Assistimos também a medidas de apoio à transição de frotas que chegam a ser até 20 vezes inferiores às mesmas medidas em outros Estados-membros", critica Vítor Figueiredo.
Decisões demoram
Desta forma, a perspetiva da APOL é de que as guidelines "estão bem definidas e alinhadas com os grandes desafios estratégicos, quer a nível europeu quer a nível nacional, mas a execução dessas linhas estratégicas deixa muito a desejar". Para Vítor Figueiredo, "a demora no processo de tomada de decisão e a falta de coragem política para tomar decisões consequentes são os principais fatores que, em nosso entender, criam fortes entraves a avanços efetivos ao setor logístico e, consequentemente, à sociedade em geral".
Já na dimensão das infraestruturas portuárias, e segundo João Pedro Neves, presidente da Associação dos Portos de Portugal, "o impacto do PRR e de outros programas públicos na logística e nos transportes em Portugal e na Europa são determinantes para a execução de investimentos infraestruturais, normalmente de valor muito significativo e com défices de financiamento elevados, não facilmente executáveis pelas empresas do setor público empresarial sem apoio financeiro".
Modernização dos portos
Na sua perspetiva, esses investimentos são particularmente relevantes para a economia, já que "potenciam a atração de investimento privado, a atração de novos setores de atividade para as regiões, a criação de emprego e o aumento da produção, promovendo o desenvolvimento e as vantagens relativas para o tecido empresarial". No entanto, "os portos portugueses, na generalidade, contrariamente a outros portos europeus, não estão a ser beneficiários diretos do PRR. O benefício está a ser indireto através das Agendas Mobilizadoras, que se pretendem configurar como aceleradoras das necessárias transições energéticas e digitais", conclui o responsável.
Congresso APLOG: da colaboração à sustentabilidade
A APLOG – Associação Portuguesa de Logística realizará nos dias 30 e 31 de outubro de 2023, no Centro de Congressos de Lisboa (Junqueira), o seu 25º Congresso de Logística, subordinado ao tema "Supply Chain: da Colaboração à Sustentabilidade".
Este 25º Congresso trará novidades e tratará de temas relevantes, tais como: Perspetivas para Supply Chain; Futuro da Logística no Metaverso; Colaboração nos Transportes – da primeira à última milha; Importância dos portos marítimos nas relações intercontinentais; Tendências globais de recursos humanos; Sustentabilidade e Economia circular; Cibersegurança; As carreiras e as remunerações na Supply Chain; Startups: contribuição para a inovação; Logística inversa – desafios e boas práticas; Colaboração Produtores / Fabricantes; Inteligência artificial na Supply Chain, entre outros temas muito desafiantes.
O congresso é composto por sessões plenárias de teor estratégico e conceptual, painéis de debates, sessões paralelas de cariz técnico e prático, ações de demonstração de boas práticas logísticas e promoção de networking e de relacionamento estratégico, contando para isso com a participação da Farfetch, NOS, Altri, Sonae MC, Continental Antenna, Porto de Sines e Leixões, Rangel, Nestlé, Torrestir, entre outras. Programa disponível aqui.