O banco, com raízes no setor agrícola e uma ligação próxima com o meio ambiente, reconhece o valor dos ecossistemas, da eficiência no uso dos recursos e a necessidade urgente de combater as alterações climáticas e as desigualdades sociais. Acredita-se que, respeitando os limites do planeta, é possível alcançar uma prosperidade sustentável que assegure o bem-estar da sociedade. Para o Grupo Crédito Agrícola, sustentabilidade significa impulsionar o desenvolvimento sustentável das comunidades locais, tanto rurais como urbanas, por meio de produtos financeiros que ajudem os clientes a minimizar impactos ambientais e sociais negativos e a explorar novas oportunidades de negócio mais ecológicas, circulares e inclusivas.
Durante o evento de lançamento da Rede no PEPAC e na 10ª edição do Prémio Empreendedorismo e Inovação do Crédito Agrícola, Filipa Saldanha, do Crédito Agrícola, reiterou este compromisso, revelando que o banco tem como objetivo fortalecer a economia portuguesa, tornando-se um modelo de inclusão, sustentabilidade e inovação, e mantendo a sua reputação como um grupo financeiro de confiança para os portugueses. A missão do grupo com uma trajetória Net Zero passa por contribuir para o progresso socioeconómico das regiões, oferecendo serviços bancários locais com propósito e sustentáveis.
“Estabelecemos metas de redução de emissões ambiciosas até 2030, não apenas para as operações internas do banco, como para a nossa carteira de crédito, com foco nos setores económicos intensivos em carbono, mais expostos aos riscos climáticos e/ou de elevada relevância no Roteiro para a Neutralidade Carbónica de Portugal”, anunciou Filipa Saldanha.
É preciso ir para lá do óbvio
Imobiliário residencial e comercial, agricultura, energia, turismo, aviação, resíduos e águas residuais e automóvel são alguns dos setores que poderão contar com o apoio do Crédito Agrícola no caminho da transição climática e energética, uma mudança sistémica para esses setores e para a economia nacional.
No painel, Filipa Saldanha estendeu um convite a representantes de vários setores para participarem e partilharem a sua visão e experiências na “jornada” de descarbonização. Entre os convidados estavam Telmo Faria, da Rio do Prado (Turismo), Luís Pinho, da Helexia (Energia), André Antunes, da Climate Farmers (Agricultura), bem como Inês Santos Costa, da Deloitte, que está a acompanhar de perto o plano Net Zero do Crédito Agrícola. Em cima da mesa, os desafios e as oportunidades que todos têm pela frente, mas também alguns exemplos e boas práticas que podem ser escaladas e replicadas para inspirar o mercado.
Inês Santos Costa falou de aceleração da descarbonização na sociedade e de como o Crédito Agrícola pode ir para lá do óbvio com o Net Zero se conseguir primeiramente interiorizar a sua função de transformador do mercado, não financiando combustíveis fósseis e procurando reorientar financiamento para investimento menos intensivo em carbono e mais focado em tecnologias e inovação. No entanto, esta especialista referiu que, para avançar, o banco tem de rever a sua cultura empresarial e capacitar recursos para o efeito porque nem sempre tem as pessoas com o know-how necessário para desempenhar esse papel dentro de portas, mas é um caminho que tem de se fazer. Paralelamente, a essa função de ativador de transformação do seu modelo de negócio, vem também o papel de apoiar os clientes nessa mesma transição porque existe um pipeline regulamentar que vai ser muito exigente naquilo que as empresas vão ter de responder. A banca acaba por antes de tudo dar o exemplo à cadeia de valor e depois funcionar como catalisadora dos processos de transição dos clientes do seu ecossistema de valor. “É um papel importante a ser ativado”, sublinha Inês Santos Costa.
A energia para a mudança vem da informação
E para o ativar o Crédito Agrícola pode “beber” conhecimento de alguns dos setores de proximidade, como seja o da agricultura, no qual André Antunes diz existir projetos de regeneração e eficiência que são em tudo mais válidos do que as simples práticas de sustentabilidade que já não são suficientes para responder aos ecossistemas muito degradados. O responsável falou de projetos já em curso fora de Portugal, em Espanha e na Holanda, mas admite que têm já cerca de 40 agricultores em pipeline para avançarem em Portugal.
Luís Pinho deixou bem claro na sua intervenção que há também muito a ser feito em matéria de informação e que existem hoje muitas empresas que não sabem sequer o que quer dizer descarbonizar. “Vivemos num mundo de chavões em que falamos de eficiência energética, de transição energética e agora descarbonização, e as pessoas perguntam o que é isto e o que é que está a acontecer”, alertou o responsável. Segundo ele, estes temas resvalam sempre para a produção de energia fotovoltaica e é errado, porque a descarbonização é muito mais do que isso, é também “conseguir ter o mesmo output de produção, consumindo menos e melhor energia”.
O responsável da Helexia alerta ainda que a descarbonização implica dor, compromisso, investimento financeiro e de capital humano, mas acima de tudo implica mudança de comportamentos e “sabemos que isto é o mais difícil de mudar e sentimos isso nos setores com os quais trabalhamos”. Luís Pinho referiu que a primeira abordagem que move um empresário de qualquer setor é saber de que forma a descarbonização vai gerar mais receita. E este driver é tão válido como qualquer outro. Ainda assim, nota-se que as empresas estão a ser pressionadas pelos clientes para apresentarem provas de que estão a dar passos no sentido da descarbonização.
Há desafios que têm de ser ultrapassados
Há desafios ao nível do investimento que ainda são difíceis de ultrapassar, porque muitas empresas não possuem recursos próprios para essa transição e a banca não acompanha.
Luís Pinho refere que a banca “ainda tem pouca capacidade para financiar projetos de eficiência energética”, explicando que ainda há falta de recursos humanos especializados para acompanhar e avaliar este tipo de projetos, os quais são cruciais para o sucesso da transição. Por outro lado, não deixou de enfatizar que o Crédito Agrícola foi o primeiro banco a financiar um projeto de solar fotovoltaico da Helexia em Portugal, sob um modelo de project finance.
No segmento da hotelaria, Telmo Faria foi convidado a apresentar o seu projeto Rio do Prado e falou de como foi construir um hotel eco-friendly, principalmente quando o setor do turismo passa uma imagem de desperdício. A sustentabilidade e a economia circular são segundo este responsável o único caminho possível e o que faz sentido para este setor. Ainda que, Inês Santos Costa assinale que em matéria de taxa de circularidade, Portugal ainda esteja aquém de outros países. Segundo ele, deveríamos estar a trabalhar a montante na prevenção, desviando o foco de investimento que tem estado muito no fim de linha, no tratamento de resíduos e na reciclagem.