Para debater "a importância dos grupos de saúde privados no sistema de saúde" estiveram presentes na sexta edição do Fórum Ordens Profissionais, da Ageas Seguros, José Fragata, codiretor do Centro do Coração e coordenador de Cirurgia Cardíaca, Hospital CUF Tejo, José Gomes, membro da Comissão Executiva do Grupo Ageas Portugal, Rui Diniz, presidente da Comissão Executiva CUF, e Sara Fernandes, coordenadora do SPMS, EPE – Serviços Partilhados do Ministério da Saúde.
Questionado sobre como é que o setor público da saúde chegou a este ponto, José Fragata assume que a perspetiva de equidade social do SNS se transformou num meio de iniquidade social, "pois sujeita pobres e ricos à necessidade de recorrer a setores privados". O especialista defende um SNS mais inteligente e um sistema inclusivo, em que o investimento que o setor privado fez não fique de fora.
Já Rui Diniz defende que, do seu ponto de vista, o setor privado já faz parte do sistema nacional de saúde, independentemente da terminologia. "Existem três milhões de pessoas com seguros e se juntarmos a ADSE e outros sistemas, estamos a falar de praticamente cinco milhões de pessoas. Os privados estão a prestar serviços todos os dias, a fazer cirurgias e a dar consultas."
O aumento do número de cidadãos com seguros de saúde tem lançado um desafio adicional ao setor privado, tal como explicou José Gomes. Novos clientes é sinónimo de maior consumo. "Se os consumos e a severidade das questões de saúde aumentam, os preços também." Porém, diz o responsável, "aumentar prémios não é sustentável". Tal significa que a atividade seguradora, em conjunto com os stakeholders, deve olhar para o modelo e perceber como fazê-lo evoluir, de forma equilibrada, através da racionalidade e transparência na comunicação.
Um sistema unificado é necessário
"Chegámos a um ponto de rutura", afirma José Fragata, pelo que é urgente criar um sistema unificado. Este pacto geral para a saúde só é possível através da revisão do financiamento e da criação de um processo clínico único. "Terá de haver um grande seguro, um sistema integrado de saúde, do qual o Estado tem controlo e regulação." José Fragata refere como exemplo o sistema holandês, em que o seguro de saúde é obrigatório, mas os cidadãos podem escolher a seguradora e o médico, sendo ilegal recusar pacientes com base na situação financeira ou histórico de saúde.
Segundo o médico, o futuro passa pela prevenção e pela corresponsabilização individual pela saúde. "Foi vendido à população que a saúde é universal e gratuita. Os portugueses têm de se responsabilizar pela sua saúde e, em conjunto com as seguradoras, partilhar riscos, adotando comportamentos saudáveis que aliviam os riscos."
Ou seja, esta é, segundo todos os presentes, uma oportunidade de olhar para a saúde com seriedade e iniciar um diálogo contínuo entre os vários setores da saúde.
Crise na formação de médicos
Foi também explicado no evento que o setor público tornou-se pouco atrativo para os jovens médicos, que privilegiam a saúde física, o seu bem-estar e a sua vida pessoal. E se, tradicionalmente, a formação era feita nos hospitais públicos, atualmente está a transferir-se para os hospitais privados. "Mas o objetivo dos hospitais privados é o lucro e não a formação. Daqui por uns anos podemos ter uma crise grave de formação de quadros médicos", explica José Fragata.
Neste campo, Rui Diniz assume que o privado não tem a capacidade formativa do SNS. Neste momento, "a CUF tem 30 internos, porém gostaríamos de ter mais", confessa o presidente da Comissão Executiva da CUF. Segundo o responsável, era necessário existir alguma comparticipação do Estado, porque não há garantia de que, no final dos seis anos, os médicos fiquem na empresa. "Já fizemos essa proposta: o Ministério da Saúde pagaria os três primeiros anos de formação e nós a segunda metade do internato. Neste contexto, estaríamos disponíveis para duplicar as vagas, mantendo o mesmo nível de investimento", concluiu.
O final do fórum foi marcado pela homenagem ao Professor José Fragata, pelo papel que teve na saúde em Portugal. Após a visualização de um vídeo com uma descrição da sua carreira profissional e académica, recebeu um bonsai. O presente foi entregue por Gustavo Barreto, que recordou ser "uma árvore milenar, que simboliza a longevidade e o cuidar dos outros, tal como o professor fez em toda a carreira".
Registo de saúde eletrónico único é o futuro
Nesta solução híbrida, em que os cidadãos podem escolher entre serem atendidos no privado, a tecnologia tem um papel essencial. "Nós olhamos para o ecossistema da saúde e não apenas para o SNS", começa por dizer Sara Fernandes. Segundo a coordenadora do SPMS, em menos de dois anos será criado o registo de saúde eletrónico único, "em que um cidadão pode ir a uma entidade privada fazer tratamentos e exames e o médico de família, no SNS, tem acesso a esses resultados". O objetivo é que o percurso de vida do utente seja registado, evitando duplicação de exames ou procedimentos. "Além do impacto que tem na saúde, traz poupanças para os serviços de saúde", explicou.