O último momento do II Congresso Portugal Nuts pretendeu a questões relacionadas com os mercados. O painel foi multissetorial e multinacional ao convidar os representantes dos principais produtores mundiais: EUA, Austrália, Espanha e Portugal. Portugal foi o país do mundo onde mais cresceu a área de produção nos últimos dez anos e é relevante obter a visão da grande distribuição face a este aumento.
Bill Harp, um especialista em frutos secos com mais de 20 anos de experiência e ex-chairman da Almond Board EUA, transmitiu que, de acordo com os dados mais recentes, a área de produção estabilizou apresentando uma tendência decrescente, o que permite estimar que a produção irá estabilizar.
No que respeita aos preços, tendo em consideração a evolução dos últimos três anos resultante da situação pandémica e desafio em termos de transportes, Bill Harp acredita na estabilização dos preços e tem uma visão otimista. Este ano, resultante das chuvas na época da floração, estima-se uma redução da produção.
Área de produção deve crescer nos próximos cinco anos
Da Austrália, o presidente da Australian Almond Board, Tim Jackson, partilhou os desafios na campanha que se traduziram em quebras de cerca de 25% devido às condições atmosféricas. Na perspetiva de longo prazo estima-se que a área de produção irá crescer nos próximos cinco anos.
Para José Luis Bosch, diretor-geral da Descalmendra (associação que representa os principais transformadores de amêndoa em Espanha), a tendência é de crescimento da área de produção, tendo aumentado 2,83 desde 2014 até 2021 no que respeita a pomares irrigados. A mesma situação aplicou-se aos pomares de sequeiro. No ano de 2022, houve uma quebra. Os mercados importadores de amêndoa espanhola são Itália, Alemanha e França, que representam 65% da produção. Estes países são também os que mais importam amêndoa da Califórnia, devendo a amêndoa ibérica aproveitar a vantagem competitiva em termos de proximidade. O Reino Unido, em virtude do Brexit, sofreu uma quebra na procura de amêndoa. Bosch referiu ainda que o governo espanhol estabeleceu um acordo com a China no sentido de facilitar as exportações para este país.
Sobre a posição da amêndoa no mercado, Joan Fortuny, diretor da De Prado Almonds, considera que deverá existir uma amêndoa mediterrânica com origem na Península Ibérica dando a conhecer os atributos da produção: UE, proximidade, sustentabilidade, resíduo zero em pesticidas. Atualmente em Portugal e Espanha foram criadas variedades que se distinguem das variedades que o consumidor conhece e que têm de ser dadas a conhecer nos diferentes mercados, ou seja, em nichos – bebida vegetal, massas, entre outros.
Em termos de mercado nacional, Pierre Silva, do Lidl, transmitiu que a qualidade do produto adaptado aos diversos nichos é o elemento-chave na seleção de produtores. A sustentabilidade e a certificação são ainda critérios. Sobre a possibilidade de uma oferta conjunta em mercados internacionais, semelhante ao projeto Fresh Fusion promovido pela Portugal Fresh e que conduziu ao aumento da exportação da pera-rocha para a Alemanha, Pierre Silva indicou que será necessário identificar a necessidade no mercado e a forma como é identificada a distinção entre o produto existente. "São fundamentais a escala e a dimensão, elementos essenciais para se ser competitivo", de acordo com o responsável do Lidl.
Boas práticas, sustentabilidade, uso eficiente dos recursos, são os ingredientes para o sucesso da produção e da comercialização.
Amigos Portugal Nuts
Mais do que uma associação para a promoção dos frutos secos nacionais, a Portugal Nuts é sobretudo uma entidade sustentável assegurando a sustentabilidade quer na produção e transformação realizada pelos associados, quer em termos sociais ao estar atenta aos desafios da sociedade.
Na edição de 2023, a direção da Portugal Nuts materializou através do donativo de parte das receitas do congresso a uma instituição de solidariedade social da região de Beja. Mais do que atribuir o montante monetário que permitirá fazer face a despesas decorrentes de 20 anos de uma utilização contínua de uma casa que acolhe crianças desde o nascimento até à vida adulta, e onde o apoio do Estado é atualmente insuficiente para fazer face aos desafios, pretendeu-se dar a conhecer na primeira pessoa os desafios desta instituição.
Luís Amaro, presidente da direção, agradeceu a oportunidade e através de uma apresentação emotiva partilhou um pouco do quotidiano das crianças. "Imaginem o que é acordar numa casa que não é vossa, num quarto que não conhecem e com outras crianças com quem nunca estiveram." Na incapacidade de imaginar o que são os cenários vividos pelas crianças, propomos que imaginem o que representará através de donativos monetários, em géneros ou em experiências, ser marcante na caminhada destes meninos e meninas.
A Buganvília funciona desde o final de 1998, tendo até à data acolhido 279 crianças em perigo, salvaguardando-as física e psicologicamente da situação em que se encontravam e dando resposta às mais diversas necessidades da criança – educação, socialização, cuidados na saúde, alimentação, alojamento, cuidados de higiene e conforto. Situa-se em Beja.