Nos últimos 15 anos, o setor agrícola modernizou-se. Hoje "pratica uma agricultura completamente voltada para o mercado e para os consumidores, que são cada vez mais exigentes e informados e que procuram dietas equilibradas e saudáveis". Adotou uma agricultura de precisão, que usa os recursos de forma eficiente, no caso da água, com uma aposta forte no controlo gota a gota, com precisão à planta e ao metro quadrado. Usa cada vez mais drones, robôs e sistemas que permitem controlar operações através de smartphones e tablets. O alinhamento é de Gonçalo Santos Andrade, vice-presidente da CAP, que fechou a conferência Semear o Futuro com um breve diagnóstico de alguns dos fatores determinantes no passado recente do setor e um olhar sobre os desafios do futuro próximo.
Neste leque dos desafios recentes, o responsável da CAP lembrou ainda que os últimos quatro anos trouxeram uma pandemia, duas secas extremas, uma guerra na Europa que teima em não desaparecer e um exponencial aumento dos custos de produção, "mas os consumidores tiveram sempre acesso a produtos de elevada qualidade, com segurança alimentar e a preços aceitáveis, embora acima do que estavam habituados", sublinhou.
Com isto, diz que o setor tem dado provas de que está preparado para responder aos desafios que se têm colocado e que não vão abrandar, recordando que "nos próximos 12 anos se prevê o maior crescimento demográfico em termos percentuais até 2100", para chegar a uma população mundial prevista de 8,5 mil milhões, já em 2030.
As respostas devem convergir para a máxima "produzir mais e de forma mais sustentável". No caso de Portugal, frisou, olhando cada vez mais para fora e além da Península Ibérica. Espanha continua a ser o principal mercado de exportação nacional e a ambição continua a ser a de crescer. No entanto, é também preciso "olhar mais para uma Europa a 27, com 449 milhões de consumidores residentes", admitiu Gonçalo Santos Andrade.
"Em Portugal, estão apenas 2,2% dos consumidores europeus, com baixo poder de compra, por isso temos cada vez mais de ver este mercado europeu como o nosso mercado local, principalmente na linha Lisboa-Helsínquia". Ao governo, acrescentou, cabe "começar a construir as reservas de água necessárias e modernizar as existentes, com o programa Água que Une, e trabalhar na rede de interligação de água no país".
MAPA quer combater desinformação
Chama-se MAPA - Movimento Ambiente e Produção Alimentar e acaba de iniciar a primeira campanha de sensibilização para o trabalho feito pelos setores que representa. Nasce numa altura em que crescem as preocupações com o ambiente e a produção sustentável, para mostrar que "não há ambientalista mais eficaz do que um agricultor responsável", como defendeu Graça Mariano na conferência Semear o Futuro. "São os profissionais do mundo rural que vivem, conhecem e gerem os recursos de produção e transformação. Têm conhecimentos multidisciplinares, conhecem as regras e aplicam-nas. São eles que intervêm há muito na, agora, tão popular economia circular", lembrou a porta-voz do MAPA, admitindo que o setor tem descurado a comunicação, abrindo espaço à desinformação.
O Movimento estreou-se na internet há cerca de uma semana, com o lançamento de um site e as primeiras atividades nas redes sociais. Quer promover uma comunicação humanizada, que partilhe histórias de homens e mulheres do setor: quem são, o que fazem e como fazem. "Vamos divulgar mensagens positivas e esclarecedoras que venham ajudar a desmistificar ideias preconcebidas", através de uma comunicação baseada na "transparência e no conhecimento assente em ciência".
O MAPA conta com a colaboração de mais de 30 entidades, que representam agricultores e criadores de animais, como associações, agrupamentos de produtores, mas também insígnias da grande distribuição.