Notícia
Carlos Costa: Um livro da Grande Depressão para os dias do Grande Confinamento
Há momentos na História em que um acontecimento radicalmente imprevisível - uma seca, epidemia ou inovação tecnológica radical - coloca uma comunidade e os seus indivíduos perante uma situação de incerteza radical e a necessidade de trilhar um novo caminho desconhecendo as suas possibilidades e riscos.
Há momentos na História em que um acontecimento radicalmente imprevisível - uma seca, epidemia ou inovação tecnológica radical - coloca uma comunidade e os seus indivíduos perante uma situação de incerteza radical e a necessidade de trilhar um novo caminho desconhecendo as suas possibilidades e riscos. São momentos de angústia que necessitam de uma bússola que não está disponível nas representações das diferentes disciplinas sociais, que remetem para uma normalidade perdida, ou não dispõem da visão holística necessária para captar e entender todas as dimensões da resposta de cada indivíduo e da comunidade face ao radicalmente desconhecido, nem a sua resiliência e capacidade de autossuperação.
A crise pandémica é um destes momentos em que a modelização económica e social tenderá a revelar-se insuficiente para fornecer chaves de leitura e compreensão do que se vai passar e, consequentemente, para fornecer orientações sobre o que fazer ou como reparar os danos. Os estudos e as análises dos economistas e sociólogos serão sempre indispensáveis para fundamentar e enquadrar o debate sobre a melhor resposta a esta realidade radicalmente nova. Caberá, depois, aos políticos tirar partido dessas análises para estabelecer a rota de navegação em águas desconhecidas, definindo e executando os planos de combate à pandemia e de resposta aos seus efeitos económico-financeiros.
As obras de arte, em particular a literatura, são instrumentos privilegiados de uma representação holística sobre a resposta a desafios aparentemente insuperáveis e à incerteza radical. A obra literária constitui um modo específico de nos conhecermos melhor e de entendermos a realidade que nos condiciona e impulsiona. Ler Tolstói, Balzac ou Eça de Queiroz significa compreender o que anima um conjunto de indivíduos de uma determinada sociedade e de um dado período da História nas suas múltiplas dimensões - humana, social, económica e política. É, por isso, muito importante revisitar as obras literárias que se debruçaram sobre momentos de rutura para compreender a dinâmica individual e social que os marcou.
Em momentos como o atual, são as obras de ficção - e a arte em geral - que retratam, de forma incomparável, os sentimentos, a mundividência e a capacidade de reação dos cidadãos. Por esta razão, recomendo a leitura de "As Vinhas da Ira", de John Steinbeck, cujos protagonistas podem ser uma fonte de inspiração para quem quer compreender o que significa estar perante um choque devastador e imprevisto, que faz colapsar os pilares da normalidade, e quer acreditar que é possível reagir, adotando uma atitude inconformista, destemida, solidária e combativa perante uma nova realidade muito dura, mas superável.
Em "As Vinhas da Ira", editado dez anos depois do crash bolsista que marcou o início da Grande Depressão, John Steinbeck faz um retrato cru da situação económica, financeira e política da maior crise norte-americana do século passado, através da história de uma família de agricultores de Oklahoma que, em resposta a um choque externo, decide emigrar para a Califórnia em busca de uma vida melhor. Steinbeck fornece-nos a representação de uma realidade em que há desespero, mas também esperança.
Espero que a literatura contemporânea produza uma representação dos momentos dramáticos e desafiadores que estamos a viver e que a nossa resposta seja também um marcante testemunho de resiliência e de esperança, para proveito das futuras gerações.
A crise pandémica é um destes momentos em que a modelização económica e social tenderá a revelar-se insuficiente para fornecer chaves de leitura e compreensão do que se vai passar e, consequentemente, para fornecer orientações sobre o que fazer ou como reparar os danos. Os estudos e as análises dos economistas e sociólogos serão sempre indispensáveis para fundamentar e enquadrar o debate sobre a melhor resposta a esta realidade radicalmente nova. Caberá, depois, aos políticos tirar partido dessas análises para estabelecer a rota de navegação em águas desconhecidas, definindo e executando os planos de combate à pandemia e de resposta aos seus efeitos económico-financeiros.
Em momentos como o atual, são as obras de ficção - e a arte em geral - que retratam, de forma incomparável, os sentimentos, a mundividência e a capacidade de reação dos cidadãos. Por esta razão, recomendo a leitura de "As Vinhas da Ira", de John Steinbeck, cujos protagonistas podem ser uma fonte de inspiração para quem quer compreender o que significa estar perante um choque devastador e imprevisto, que faz colapsar os pilares da normalidade, e quer acreditar que é possível reagir, adotando uma atitude inconformista, destemida, solidária e combativa perante uma nova realidade muito dura, mas superável.
Em "As Vinhas da Ira", editado dez anos depois do crash bolsista que marcou o início da Grande Depressão, John Steinbeck faz um retrato cru da situação económica, financeira e política da maior crise norte-americana do século passado, através da história de uma família de agricultores de Oklahoma que, em resposta a um choque externo, decide emigrar para a Califórnia em busca de uma vida melhor. Steinbeck fornece-nos a representação de uma realidade em que há desespero, mas também esperança.
Espero que a literatura contemporânea produza uma representação dos momentos dramáticos e desafiadores que estamos a viver e que a nossa resposta seja também um marcante testemunho de resiliência e de esperança, para proveito das futuras gerações.