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António Ramalho: Ler sobre personagens que vivem a sua “eternidade”

Quanto a leituras tenho por hábito intervalar, quando não sobrepor, a ficção com a leitura técnica.

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O Amor nos Tempos de Cólera

O Amor nos Tempos de Cólera
O Amor nos Tempos de Cólera
Gabriel García Márquez
Editor: Publicações D. Quixote 14.ª edição

Livro escolhido por António Ramalho, CEO do Novo Banco

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29 de Abril de 2020 às 11:30
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Quanto a leituras tenho por hábito intervalar, quando não sobrepor, a ficção com a leitura técnica. Consigo garantir assim a atualização permanente que a profissão merece com o prazer libertador que só a ficção nos traz. Acontece que, sempre que me confronto com uma crise, uma das primeiras decisões que tomo é abandonar a via técnica e selecionar apenas a ficção para me acompanhar no serão familiar. Ensina-me a experiência de outras crises, que esta é uma das receitas para manter a serenidade necessária à capacidade de gerir a incerteza que qualquer crise incorpora.

Por isso, a escolha pela releitura de "O Amor nos Tempos de Cólera" de Gabriel García Márquez é tudo menos inocente, sendo que inocente é adjetivo nada adequado a este livro, diga-se como aviso.

Primeiro, escolher Gabriel García Márquez é optar pela singularidade de um sul americano que troca a música encantada que o calor daquela escrita foi popularizando pela energia das frases rápidas, pelo humor no detalhe e pelo absurdo quase natural das situações. Mas escolher "O Amor nos Tempos de Cólera" é poder reler um livro sobre os Amores e o Amor, é poder casar o fantástico próximo com o realismo possível e é ler uma quase fábula com final feliz, onde o absurdo de uma epidemia e uma consequente reclusão são uma espécie de ambiente para a eternidade desejada.

A história do Amor de Florentino Ariza por Fermina Daza, não pode deixar de impressionar pela consistência e singularidade quase casta, mas também por irritar pela falta do jovem e do belo contrapondo à nossa imagem de um Romeu e Julieta ou de um Pedro e Inês. Até quase escandaliza por simular uma epidemia para se eternizar e se repetir. "O Amor torna-se maior e mais nobre na adversidade" diz-se a certa altura, como se isso fosse inevitável.

Como qualquer livro fantástico, ele bem pode ser lido de forma diferente quando estamos nós confinados e as personagens de Gabriel García Márquez vivem a sua "eternidade". E foi por esta última razão, uma aparente troca de papéis entre leitor e personagens criadas, que eu escolhi reler o livro. Mas só quando o terminar poderei dizer se ele ficou diferente nesta leitura em contexto diferente. Senão, apenas contribuiu para manter essa saudável separação entre o espaço familiar e a intensa incerteza da vida profissional em ambiente de pandemia. E, nesse caso, já não foi pouco.

Existe finalmente outra vantagem lateral neste conselho. É que também permite antecipar uma noite de serão a ver a justa adaptação ao cinema deste romance fantástico, numa naturalmente magnífica interpretação do Javier Bardem que sempre agradará lá em casa. É dois em um.
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