Notícia
O santo do liberalismo
A edição da "Autobiografia" de John Stuart Mill é uma boa forma de entendermos a evolução das ideias daquele que é um dos filósofos do liberalismo.
John Stuart Mill
Autobiografia
Edições 70,
226 páginas, 2018
Foi no mundo contraditório da Revolução Industrial que nasceu e cresceu um dos mais notórios filósofos do liberalismo, John Stuart Mill. As suas reflexões são, anda hoje, nucleares para se entender o desenvolvimento do liberalismo, não apenas como lógica económica, mas como pensamento político e filósofo. Esta autobiografia, em que Mill descreve a evolução do seu pensamento ao longo da vida é um estímulo perfeito para percebermos melhor a forma com ele olhou para o mundo e para as mutações que aconteceram à sua volta. Ele tornou-se um dos símbolos do utilitarismo, uma ética que considera que a finalidade da acção humana, e especialmente a felicidade que se consegue através dela, está relacionada com a realização de acções úteis. O bom é o que é útil para sermos felizes. A sua influência estendeu-se ao século XX: inspirou, por exemplo, o Estado social nos EUA e na Europa. E foi uma influência forte nas ideologias sociais-democratas. Jeremy Bentham foi um dos seus arquitectos e John Stuart Mill o outro. Mill é um utilitarista, mas a sua obra não se limita a reproduzir um esquema individualista. Quer orientar a acção para lograr a maior felicidade do maior número de pessoas. E por felicidade entende o prazer e, por infelicidade, a dor. O importante é a qualidade do prazer e não a quantidade (como defendia Bentham).
Terá sido. Afinal, como escreve Mill nesta "Autobiografia": "Do estudo de Tocqueville retirei também grande benefício, relativamente a um problema que tem íntimo contacto com o da democracia: refiro-me à concentração do poder político." O pensamento de Tocqueville, alicerçado nas experiências francesas e americanas, foi-lhe muito útil para sistematizar os seus pensamentos sobre a liberdade do indivíduo e o Estado. Toda essa evolução dos seus ideais está aqui exposta.