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O santo do liberalismo

A edição da "Autobiografia" de John Stuart Mill é uma boa forma de entendermos a evolução das ideias daquele que é um dos filósofos do liberalismo.

17 de Março de 2018 às 17:00
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John Stuart Mill

Autobiografia
Edições 70,
226 páginas, 2018


Foi no mundo contraditório da Revolução Industrial que nasceu e cresceu um dos mais notórios filósofos do liberalismo, John Stuart Mill. As suas reflexões são, anda hoje, nucleares para se entender o desenvolvimento do liberalismo, não apenas como lógica económica, mas como pensamento político e filósofo. Esta autobiografia, em que Mill descreve a evolução do seu pensamento ao longo da vida é um estímulo perfeito para percebermos melhor a forma com ele olhou para o mundo e para as mutações que aconteceram à sua volta. Ele tornou-se um dos símbolos do utilitarismo, uma ética que considera que a finalidade da acção humana, e especialmente a felicidade que se consegue através dela, está relacionada com a realização de acções úteis. O bom é o que é útil para sermos felizes. A sua influência estendeu-se ao século XX: inspirou, por exemplo, o Estado social nos EUA e na Europa. E foi uma influência forte nas ideologias sociais-democratas. Jeremy Bentham foi um dos seus arquitectos e John Stuart Mill o outro. Mill é um utilitarista, mas a sua obra não se limita a reproduzir um esquema individualista. Quer orientar a acção para lograr a maior felicidade do maior número de pessoas. E por felicidade entende o prazer e, por infelicidade, a dor. O importante é a qualidade do prazer e não a quantidade (como defendia Bentham).

A ideia de liberdade para Mill tem a ver com a não interferência dos demais na sua própria acção. Liberdade é liberdade individual. São os direitos do indivíduo e sobretudo o direito à liberdade que garante a maior felicidade. Tudo isto está expresso nesta "Autobiografia". A liberdade que interessa a Mill é basicamente a negativa, ou seja, aquela que nada e especialmente o Estado e os poderes públicos coercivos possam limitar a sua capacidade criativa. Como escreve na introdução deste empolgante livro de memórias de Mill, que descreve uma era de grandes mudanças económicas, políticas e filosóficas, Flausino Torres: "Mill morreu convencido de que o liberalismo económico jamais conduziria ao monopólio, que tanto temia e, mais ainda convencido de que o liberalismo económico era a condição indispensável da liberdade individual, que amava acima de tudo. Por todas estas razões, consideramo-lo hoje como o economista e doutrinário político mais representativo da corrente dominante no século XIX - o homem que no seu liberalismo económico faz um esforço mais vigoroso para alcançar uma situação que, sem abalar os alicerces do regime, para ele válido em absoluto, fosse a melhor e a mais justa. Foi Gladestone, se não me engano, quem lhe chamou o santo do liberalismo."

Terá sido. Afinal, como escreve Mill nesta "Autobiografia": "Do estudo de Tocqueville retirei também grande benefício, relativamente a um problema que tem íntimo contacto com o da democracia: refiro-me à concentração do poder político." O pensamento de Tocqueville, alicerçado nas experiências francesas e americanas, foi-lhe muito útil para sistematizar os seus pensamentos sobre a liberdade do indivíduo e o Estado. Toda essa evolução dos seus ideais está aqui exposta.



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