Notícia
A teia de corrupção brasileira
Em “Lava Jato”, Vladimir Netto revela como foi descoberto o maior esquema de corrupção do Brasil, que delapidou a Petrobras e chegou às altas esferas do país. O livro inspirou a série da Netflix “Mecanismo”.
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Lava Jato
Desassossego
378 páginas, 2018
O Brasil não vai ficar igual depois da Operação Lava Jato. Esta é a convicção do jornalista brasileiro Vladimir Netto. "A corrupção não vai acabar, mas agora fica mais difícil cometer um crime desta natureza e ficar impune". O autor do livro "Lava Jato", lançado há dois anos no Brasil e que agora chega a Portugal, conta toda a história por trás da maior operação de combate à corrupção no Brasil. O esquema de pagamento de subornos girava em torno da petrolífera estatal, a Petrobras , e envolveu as altas esferas políticas brasileiras. Os acontecimentos estão relatados como um filme de acção. Mas o repórter da Rede Globo em Brasília, e vice-presidente da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo, garante que no seu livro não há nada de ficção.
O escândalo que abalou o Brasil está longe de terminar. No comando da megaoperação Lava Jato está o juiz federal Sérgio Moro, que a Bloomberg considerou como o 10.º líder mais influente do mundo. Vladimir Netto refere que as autoridades estão empenhadas em "levar a investigação até onde puderem". E, se algo já mudou no país, é que agora há gente atrás das grades. A entrega às autoridades do antigo Presidente Lula da Silva é talvez o episódio mais mediático desta operação. Mas Vladimir não acredita na tese de que há um ataque político ao Partido dos Trabalhadores (PT) e, em particular, a Lula, por este se encontrar em clara vantagem na corrida às eleições presidenciais de Outubro.
A Lava Jato envolve todas as forças políticas, garante. "Há políticos de 14 partidos que estão a ser investigados", num universo de perto de 25 com representação parlamentar. Além do ex-Presidente Lula, estão presos o ex-governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, e o antigo presidente da câmara de deputados, Eduardo Cunha, ambos do PMDB, o partido do Presidente Temer.
"Nunca vi um direccionamento político na investigação. O que vi foi um esforço de luta contra a corrupção que estava instalada no seio do sistema político e isso atingiu todos os partidos", afirma o jornalista. O que a operação "destapou" não foi propriamente uma surpresa, mas "superou todas as expectativas" porque não se sabia que a corrupção no país "era tão grande, tão espalhada, tão profunda."
E pensar que tudo começou com um detalhe. "Se não fosse um e-mail com uma nota fiscal de um carro de luxo, os investigadores não tinham chegado ao Paulo Roberto Costa", o antigo director de abastecimento da Petrobras que, ao abrigo da "delação premiada", que em Portugal se chama "colaboração premiada", abriu a caixa de Pandora.
A realidade da Lava Jato "supera a ficção em muitas coisas", diz o autor. Foi isso que o fascinou na história. Por isso, não é de estranhar que o cineasta José Padilha tenha comprado os direitos de adaptação do seu livro para fazer a série da Netflix "Mecanismo", que mistura a realidade com a ficção. Mas Vladimir avisa: "Quem quiser saber a verdade, tem mesmo de ler o livro", diz entre risos.
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