Notícia
Eanes: De Tó Ramalho a Presidente
Gosta de relógios e de boas piadas. O lado desconhecido de Ramalho Eanes é desvendado numa biografia “autorizada, mas não participada”, da jornalista Isabel Tavares. A fita do tempo mistura a história do país com a do homem, que nasceu na freguesia de Alcains, em Castelo Branco, e se tornou no primeiro Presidente da República eleito democraticamente.
O lado divertido de Eanes está guardado para os mais próximos. Quem lida com ele de perto, garante que tem um sentido de humor brilhante, que contrasta com o ar sisudo que apresenta em público e que se tornou a sua imagem de marca. Houve pelo menos um momento em que deixou transparecer essa faceta escondida. Foi no programa televisivo "Gato Fedorento Esmiuça Sufrágios", na SIC, em Outubro 2010, quando contou uma anedota sobre si próprio que circulava no país nos anos quentes do pós-25 de Abril. "A conversa passa-se entre dois fulanos: 'Sabes o que acontece quando o Eanes lava a lâmina com que faz a barba? E o outro responde: Bem, sai sabão e pêlo. Não. Sai serradura. Serradura?! Sim. Então não sabes que o Eanes tem cara de pau?'". No mesmo programa, Eanes admitiu que tem um semblante fechado, mas afirmou: "Não creio que um dos traços distintivos da minha personalidade seja a rigidez".
Este momento televisivo está recordado no livro "Ramalho Eanes: o último General", de Isabel Tavares, apresentado a 14 de Novembro pelo jornalista Nicolau Santos e pelo padre Vítor Feytor Pinto, no Salão Nobre da Reitoria da Universidade de Lisboa. Ao Negócios, a autora diz que "ele é disciplinado, austero, mas tudo isso conjugado com um belíssimo sentido de humor". São dois lados da mesma moeda.
O livro é uma biografia "autorizada, mas não participada", clarifica a autora logo nas primeiras páginas. O primeiro Presidente da República eleito democraticamente disponibilizou todo o seu arquivo documental à jornalista. A restante informação foi recolhida nas conversas que teve com cerca de 80 pessoas que se cruzaram com Eanes ao longo da sua vida. Amigos de infância, militares, políticos, ex-assessores, opositores e a mulher, Manuela Eanes, contam episódios da vida do General, que foi uma figura determinante para a democracia portuguesa. Isabel Tavares sublinha que notou um ponto comum em todos os testemunhos que ouviu. "Há uma admiração pelo homem, pela sua sensatez, pela coerência. Mesmo aqueles que foram seus opositores e que não concordaram com atitudes que tomou na época têm admiração por ele." São esses relatos que Isabel Tavares vai "encaixando" na linha do tempo e que ajudam a conhecer melhor o homem que está na memória dos portugueses a falar ao país na televisão a preto e branco.
O Tó Ramalho
O percurso de vida de Ramalho Eanes começa em Alcains, uma freguesia do concelho de Castelo Branco, onde era conhecido como "Tó Ramalho". Foi lá que nasceu a 25 de Janeiro de 1935, filho de um pequeno construtor civil e de uma doméstica. Em criança, sonhava ser médico, padre ou militar. Mas a vida de sacerdote foi rapidamente posta de parte. Não agradou à mãe, que queria ter netos. No "Livro de Despedida dos Alunos do 7.º ano do Liceu Nacional de Castelo Branco - 1952/53", a caricatura de António, desenhada por Luís Marçal Grilo [o arquitecto é um dos seus amigos de infância] é um boneco com uma seringa na mão, alusivo à intenção que tinha de estudar medicina. Acabou por seguir a terceira opção e, aos 18 anos, entrou para a Escola do Exército, na Amadora. Nessa altura estava muito longe de imaginar onde a vida o iria levar. Dedicou-se a fundo à carreira militar e os assuntos do coração foram adiados. Chegou mesmo a pensar que não iria contrair matrimónio porque considerava difícil compatibilizar a vida de casado com o comando de operações. Mas quando conheceu Manuela Neto Portugal, irmã de um piloto da Força Aérea, tudo mudou. "Senti que gostaria de construir a minha vida com a sua, senti que me ajudava a encontrar a minha paz. E senti que não queria perdê-la", disse numa entrevista a Luís Osório, em 1999. Para casar com Manuela, a 28 de Outubro de 1970, interrompe a comissão na Guiné. Tinha 35 anos. Dois anos depois nasce o primeiro filho, Manuel.
Depois do 25 de Abril, em Junho de 1974, Ramalho Eanes é nomeado director de programas da RTP. Foi lá que o jornalista Joaquim Letria o conheceu. Tinha acabado de chegar da BBC, em Londres. "Recordo-me da preocupação que ele tinha nesse período em fazer com que as pessoas descomprimissem. Achava que era só política, política, política por todos os lados, e que a sociedade estava muito apreensiva, que as pessoas tinham de se descontrair, de se divertir, rir", afirma o jornalista, que mais tarde se tornou assessor de imprensa de Eanes, em Belém. Foi com esse objectivo que chegou à antena da televisão a rábula "Sr. Feliz e Sr. Contente", interpretada pelos actores Nicolau Breyner e Herman José. Mas o General não ficaria muito tempo nesse cargo. O seu nome começou a ser falado no Grupo dos Nove (a ala moderada do Movimento das Forças Armadas, liderada por Melo Antunes) para candidato a Presidente da República nas primeiras eleições presidenciais democráticas do país.
Eanes tinha o apoio de sete elementos, mas rejeitou candidatar-se, entendia que era mais útil ao país como chefe do Estado-Maior do Exército. Vasco Rocha Vieira conta que passou horas a tentar convencê-lo. "Eanes achava que era militar, não se sentia preparado e não tinha essa ambição", recorda o militar, que foi o último governador de Macau sob a administração portuguesa. Depois de muitos apelos de várias pessoas, tanto na esfera militar como política, acaba por ceder. Como concorrentes teve o ex-primeiro-ministro Pinheiro de Azevedo, Otelo Saraiva de Carvalho e Octávio Pato, o candidato do PCP e único civil na corrida a Belém. Eanes tinha o apoio da esquerda moderada e do centro-direita.
A 27 de Junho de 1976, os portugueses elegeram pela primeira vez em democracia o Presidente da República. Ramalho Eanes, rosto do 25 de Novembro, que derrotou a esquerda radical no Movimento das Forças Armadas e pôs fim ao Processo Revolucionário em Curso (PREC), teve uma vitória esmagadora e não houve segunda volta. Conseguiu 61,5% dos votos. Com 41 anos, torna-se no Presidente mais novo da Europa. A campanha ficou marcada por um episódio de violência em Évora, onde morreu uma pessoa, e esteve para ser interrompida quando o candidato Pinheiro de Azevedo quase morreu com um acidente cardiovascular.
A eleição do Presidente era a peça que faltava para o "puzzle" da democracia ficar completo. A 2 de Abril desse mesmo ano, tinha sido aprovada a Constituição da República Portuguesa e, algumas semanas depois, a 25 de Abril, foram realizadas eleições legislativas, ganhas pelo Partido Socialista. O General tinha um programa. Defendia que tinha chegado a hora de os militares voltarem para os quartéis. E garantia cumprir todas as suas promessas. O seu "slogan" de campanha era "Muitos prometem, Eanes cumpre".
Começar do zero
"Quando Ramalho Eanes entra no Palácio de Belém, ninguém sabe exactamente o que é a função presidencial. Nem Eanes, nem aqueles que o rodeiam", escreve a autora. Garcia dos Santos torna-se chefe da Casa Militar e Henrique Granadeiro chefe da Casa Civil. Eanes não queria reuniões prévias para preparar trabalho antes de reunir com o Presidente. "Queria que dissessem espontaneamente aquilo que pensavam", contam antigos consultores e assessores. "Muitas vezes, as pessoas queriam saber o que é que ele pensava e ele calava-se. Isso era uma coisa que irritava imenso as pessoas que trabalhavam com ele", diz Isabel Tavares. Mas, sublinha, "como era uma pessoa humilde, teve a sensatez de perceber que não sabia tudo e soube rodear-se das pessoas certas, que colmatavam as suas falhas". A relação com Mário Soares não foi pacífica. "Eram dois feitios completamente opostos. E foi por isso mesmo que chocaram", afirma a autora. Com Balsemão, que ficou à frente do Governo depois da morte de Sá Carneiro, havia um clima de desconfiança. A ponto de as reuniões entre o Presidente da República e o agora patrão da Impresa serem gravadas.
Quando sai de Belém, Eanes comete, admite hoje, um erro. Entrou na vida partidária. Criou o Partido Renovador Democrático (PRD), mesmo tendo sido aconselhado por várias pessoas a não o fazer. Entre eles, Henrique Granadeiro, que tentou demovê-lo em vários momentos, sem sucesso. Para o antigo presidente da PT, esta má decisão "destruiu todo o capital político fantástico que [Eanes] tinha." E, acrescenta, apesar de ser ainda hoje uma referência moral para o país, "podia ter sido muito mais."
Isabel Tavares afirma que o General "hoje sabe que não é um líder político", mas na altura achava que era preciso modificar a situação política. "Para ele, era importante as pessoas saberem com aquilo que contavam. O que não acontecia. Não podia haver mais FMI, uma economia de sobe e desce." A ideia inicial do PRD não era ser um partido político, mas sim "um movimento cívico", diz a autora ao Negócios, que apoiaria um candidato presidencial em 1985. E, acrescenta, isso esteve para ficar nos estatutos, que se fosse um partido seria sempre uma situação transitória.
Com o fracasso do PRD, Eanes afasta-se da política activa. Manuela Eanes afirma que o período entre o marido deixar a Presidência da República e largar definitivamente a liderança do PRD foi "o pior tempo das suas vidas". No dia em que se demitiu, foi hospitalizado, com suspeita de peritonite, tal foi a descarga emocional", diz Isabel Tavares. Eanes já não está em cima do palco da política, mas move-se nos bastidores. "Tem feito imenso na sombra", defende a biógrafa, "mas acho que, em termos institucionais, o país perdeu em não o ter aproveitado."
Ramalho Eanes doutorou-se aos 71 anos, com a tese "Sociedade Civil e o Poder Político em Portugal", apresentada na Universidade de Navarra. Hoje, com 82 anos, quase a chegar os 83, o General afirma: "Um homem que olha a sua vida e que não se arrepende de nada é um inconsciente."
Este momento televisivo está recordado no livro "Ramalho Eanes: o último General", de Isabel Tavares, apresentado a 14 de Novembro pelo jornalista Nicolau Santos e pelo padre Vítor Feytor Pinto, no Salão Nobre da Reitoria da Universidade de Lisboa. Ao Negócios, a autora diz que "ele é disciplinado, austero, mas tudo isso conjugado com um belíssimo sentido de humor". São dois lados da mesma moeda.
Quando saiu de Belém, Eanes cometeu, admite hoje, um erro. Criou o Partido Renovador Democrático, mesmo tendo sido aconselhado a não o fazer.
O livro é uma biografia "autorizada, mas não participada", clarifica a autora logo nas primeiras páginas. O primeiro Presidente da República eleito democraticamente disponibilizou todo o seu arquivo documental à jornalista. A restante informação foi recolhida nas conversas que teve com cerca de 80 pessoas que se cruzaram com Eanes ao longo da sua vida. Amigos de infância, militares, políticos, ex-assessores, opositores e a mulher, Manuela Eanes, contam episódios da vida do General, que foi uma figura determinante para a democracia portuguesa. Isabel Tavares sublinha que notou um ponto comum em todos os testemunhos que ouviu. "Há uma admiração pelo homem, pela sua sensatez, pela coerência. Mesmo aqueles que foram seus opositores e que não concordaram com atitudes que tomou na época têm admiração por ele." São esses relatos que Isabel Tavares vai "encaixando" na linha do tempo e que ajudam a conhecer melhor o homem que está na memória dos portugueses a falar ao país na televisão a preto e branco.
O Tó Ramalho
O percurso de vida de Ramalho Eanes começa em Alcains, uma freguesia do concelho de Castelo Branco, onde era conhecido como "Tó Ramalho". Foi lá que nasceu a 25 de Janeiro de 1935, filho de um pequeno construtor civil e de uma doméstica. Em criança, sonhava ser médico, padre ou militar. Mas a vida de sacerdote foi rapidamente posta de parte. Não agradou à mãe, que queria ter netos. No "Livro de Despedida dos Alunos do 7.º ano do Liceu Nacional de Castelo Branco - 1952/53", a caricatura de António, desenhada por Luís Marçal Grilo [o arquitecto é um dos seus amigos de infância] é um boneco com uma seringa na mão, alusivo à intenção que tinha de estudar medicina. Acabou por seguir a terceira opção e, aos 18 anos, entrou para a Escola do Exército, na Amadora. Nessa altura estava muito longe de imaginar onde a vida o iria levar. Dedicou-se a fundo à carreira militar e os assuntos do coração foram adiados. Chegou mesmo a pensar que não iria contrair matrimónio porque considerava difícil compatibilizar a vida de casado com o comando de operações. Mas quando conheceu Manuela Neto Portugal, irmã de um piloto da Força Aérea, tudo mudou. "Senti que gostaria de construir a minha vida com a sua, senti que me ajudava a encontrar a minha paz. E senti que não queria perdê-la", disse numa entrevista a Luís Osório, em 1999. Para casar com Manuela, a 28 de Outubro de 1970, interrompe a comissão na Guiné. Tinha 35 anos. Dois anos depois nasce o primeiro filho, Manuel.
Depois do 25 de Abril, em Junho de 1974, Ramalho Eanes é nomeado director de programas da RTP. Foi lá que o jornalista Joaquim Letria o conheceu. Tinha acabado de chegar da BBC, em Londres. "Recordo-me da preocupação que ele tinha nesse período em fazer com que as pessoas descomprimissem. Achava que era só política, política, política por todos os lados, e que a sociedade estava muito apreensiva, que as pessoas tinham de se descontrair, de se divertir, rir", afirma o jornalista, que mais tarde se tornou assessor de imprensa de Eanes, em Belém. Foi com esse objectivo que chegou à antena da televisão a rábula "Sr. Feliz e Sr. Contente", interpretada pelos actores Nicolau Breyner e Herman José. Mas o General não ficaria muito tempo nesse cargo. O seu nome começou a ser falado no Grupo dos Nove (a ala moderada do Movimento das Forças Armadas, liderada por Melo Antunes) para candidato a Presidente da República nas primeiras eleições presidenciais democráticas do país.
Eanes tinha o apoio de sete elementos, mas rejeitou candidatar-se, entendia que era mais útil ao país como chefe do Estado-Maior do Exército. Vasco Rocha Vieira conta que passou horas a tentar convencê-lo. "Eanes achava que era militar, não se sentia preparado e não tinha essa ambição", recorda o militar, que foi o último governador de Macau sob a administração portuguesa. Depois de muitos apelos de várias pessoas, tanto na esfera militar como política, acaba por ceder. Como concorrentes teve o ex-primeiro-ministro Pinheiro de Azevedo, Otelo Saraiva de Carvalho e Octávio Pato, o candidato do PCP e único civil na corrida a Belém. Eanes tinha o apoio da esquerda moderada e do centro-direita.
A 27 de Junho de 1976, os portugueses elegeram pela primeira vez em democracia o Presidente da República. Ramalho Eanes, rosto do 25 de Novembro, que derrotou a esquerda radical no Movimento das Forças Armadas e pôs fim ao Processo Revolucionário em Curso (PREC), teve uma vitória esmagadora e não houve segunda volta. Conseguiu 61,5% dos votos. Com 41 anos, torna-se no Presidente mais novo da Europa. A campanha ficou marcada por um episódio de violência em Évora, onde morreu uma pessoa, e esteve para ser interrompida quando o candidato Pinheiro de Azevedo quase morreu com um acidente cardiovascular.
A eleição do Presidente era a peça que faltava para o "puzzle" da democracia ficar completo. A 2 de Abril desse mesmo ano, tinha sido aprovada a Constituição da República Portuguesa e, algumas semanas depois, a 25 de Abril, foram realizadas eleições legislativas, ganhas pelo Partido Socialista. O General tinha um programa. Defendia que tinha chegado a hora de os militares voltarem para os quartéis. E garantia cumprir todas as suas promessas. O seu "slogan" de campanha era "Muitos prometem, Eanes cumpre".
Começar do zero
"Quando Ramalho Eanes entra no Palácio de Belém, ninguém sabe exactamente o que é a função presidencial. Nem Eanes, nem aqueles que o rodeiam", escreve a autora. Garcia dos Santos torna-se chefe da Casa Militar e Henrique Granadeiro chefe da Casa Civil. Eanes não queria reuniões prévias para preparar trabalho antes de reunir com o Presidente. "Queria que dissessem espontaneamente aquilo que pensavam", contam antigos consultores e assessores. "Muitas vezes, as pessoas queriam saber o que é que ele pensava e ele calava-se. Isso era uma coisa que irritava imenso as pessoas que trabalhavam com ele", diz Isabel Tavares. Mas, sublinha, "como era uma pessoa humilde, teve a sensatez de perceber que não sabia tudo e soube rodear-se das pessoas certas, que colmatavam as suas falhas". A relação com Mário Soares não foi pacífica. "Eram dois feitios completamente opostos. E foi por isso mesmo que chocaram", afirma a autora. Com Balsemão, que ficou à frente do Governo depois da morte de Sá Carneiro, havia um clima de desconfiança. A ponto de as reuniões entre o Presidente da República e o agora patrão da Impresa serem gravadas.
Quando sai de Belém, Eanes comete, admite hoje, um erro. Entrou na vida partidária. Criou o Partido Renovador Democrático (PRD), mesmo tendo sido aconselhado por várias pessoas a não o fazer. Entre eles, Henrique Granadeiro, que tentou demovê-lo em vários momentos, sem sucesso. Para o antigo presidente da PT, esta má decisão "destruiu todo o capital político fantástico que [Eanes] tinha." E, acrescenta, apesar de ser ainda hoje uma referência moral para o país, "podia ter sido muito mais."
Isabel Tavares afirma que o General "hoje sabe que não é um líder político", mas na altura achava que era preciso modificar a situação política. "Para ele, era importante as pessoas saberem com aquilo que contavam. O que não acontecia. Não podia haver mais FMI, uma economia de sobe e desce." A ideia inicial do PRD não era ser um partido político, mas sim "um movimento cívico", diz a autora ao Negócios, que apoiaria um candidato presidencial em 1985. E, acrescenta, isso esteve para ficar nos estatutos, que se fosse um partido seria sempre uma situação transitória.
Com o fracasso do PRD, Eanes afasta-se da política activa. Manuela Eanes afirma que o período entre o marido deixar a Presidência da República e largar definitivamente a liderança do PRD foi "o pior tempo das suas vidas". No dia em que se demitiu, foi hospitalizado, com suspeita de peritonite, tal foi a descarga emocional", diz Isabel Tavares. Eanes já não está em cima do palco da política, mas move-se nos bastidores. "Tem feito imenso na sombra", defende a biógrafa, "mas acho que, em termos institucionais, o país perdeu em não o ter aproveitado."
Ramalho Eanes doutorou-se aos 71 anos, com a tese "Sociedade Civil e o Poder Político em Portugal", apresentada na Universidade de Navarra. Hoje, com 82 anos, quase a chegar os 83, o General afirma: "Um homem que olha a sua vida e que não se arrepende de nada é um inconsciente."